Capítulo 36

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Bruna 💭

Passei a tarde toda dormindo pra ver se eu conseguia fugir de todos aqueles problemas, o que certamente não aconteceu. Acordei, tomei um banho rápido e desci pra caçar algo pra comer.

Minha mãe tinha ficado toda mexida com essa história, eu sei que ela se preocupa na mesma intensidade que eu e por isso não foi trabalhar hoje. Ela estava lá colocando algo no forno, abracei-a por trás sentindo aquele perfume de mãe mesmo, me lembrava pra caramba da minha mãe biológica e unia as duas em um só sentimento.

— Oi meu amor — entrelaçou os nossos dedos — Tá melhor?

— Tô sim, pode ficar tranquila.

— Só vou ficar tranquila quando aqueles dois sumirem da nossa vida — suspirou — Não se preocupa, tá? Eu vou cuidar de tudo.

— Eu posso cuidar disso mãe, não precisa encher a sua cabeça — me afastei e ela ficou de frente comigo.

— Você enche a minha cabeça desde que eu te conheci, bobona — deu um tapinha na minha testa — Claro que eu vou cuidar disso, e a senhorita vai continuar a sua vida normal.

— E quando eu tive uma vida normal? — ri — Nada dura muito, principalmente paz.

— E aquele garoto lindo, acha que não vai durar com ele? — me encarou e eu desviei o olhar.

— Não temos nada pra durar — respondi.

— Você sabe que tem que conversar com ele, não sabe? — concordei com a cabeça — Se eu fosse você resolvia isso rápido, não deixe as pessoas saírem assim da sua vida, por medo e falta de informação — beijou a minha testa e saiu.

Peguei o meu celular e abri as dezenas de notificações, a maioria era ligação do Caio.  Abri a mesma aba e liguei pra ele, não quis nem pensar duas vezes senão eu desligaria na hora, o meu medo de me envolver com alguém era enorme.

— 📞
C: Alô?
B: Tá podendo falar?
C: Claro, eu te liguei à tarde toda. Você tá bem? O que aconteceu?
B: Você pode me encontrar aqui na rua da minha casa?
C: Já to indo.
— fim de ligação —

Subi pro meu quarto pra pegar um moletom, calcei um chinelo mesmo e desci pra esperar ele. Pela velocidade e desespero das falas dele na ligação eu sabia que ele não demoraria pra chegar, e foi o que aconteceu, em menos de dez minutos ele estacionou em frente ao meu portão.

— Veio voando? — ri.

— Quase isso — desceu do carro — Você tá bem?

— Uhum — concordei — Só preciso conversar com você.

— Beleza — veio em direção ao portão mas eu barrei ele.

— Pode ser lá na pracinha? Fiquei o dia todo em casa, preciso respirar — concordou.

Fechei o portão e tranquei em seguida, assim que eu me virei pra andar escutei um grito da minha mãe. — Ou, não tem mãe não? — Olhei pro alto e lá estava ela com os braços apoiados na varanda do quarto.

— Nós vamos lá na pracinha — avisei.

— Cuidado com os maconheiros — falou de volta — Cuida dela, viu garoto?

— Pode deixar — Caio deu um joinha.

Fomos andando até a praça em silêncio, como era bem na esquina não ficou tanto tempo naquele clima tenso. Sentei no primeiro banco que apareceu e ele sentou em seguida também. — Vai me contar o que aconteceu hoje?

— Eu não espero que você tome a minha posição, porque vocês são famílias mas acho que eu te devo uma explicação — puxei a manga do meu moletom pra baixo.

— Tudo bem.

— Quando eu tinha cinco anos os meus pais se divorciaram, ele tinha uma amante e sempre foi muito ganancioso pra viver com a gente numa família mais humilde. Não era como se nós fossemos de baixa renda ou algo do tipo, ele que sempre quis ser de classe alta e todo os luxos que possuem — olhei para as crianças brincando no parquinho, era foda me abrir pra outras pessoas — Depois de uns anos a minha mãe faleceu, eu não tinha contato com o meu pai e a única pessoa que tinha restado da parte dela era a minha avó. Eu fiquei um ano e alguns meses com ela mas pela idade não aguentou muito, também faleceu.

— Caraca, eu sinto muito — apertou a minha mão.

— Nisso, só me sobrou a parte do meu pai e eu tive que morar com ele. Sabe a história da Cinderela, com madrastra má e irmãs más também? — assentiu — Foi tipo isso, só mudou o fato do meu pai ser um cuzão também. Eu odeio ter que reviver as lembranças daquela época então vou resumir, tá bom? — concordou — Eu apanhava direto, escutava gritos e não tinha nenhuma independência, porque até a minha pensão ou herança eles tiraram. Meu pai nunca ligou e sempre falou que era pro meu bem, mesmo vendo a minha madrastra me batendo todos os dias depois da escola.

— Caralho, eu não sabia disso.

— Quase ninguém sabe, eu só deixo saberem que eu fui adotada pela família da Lis e isso é o que importa. Quer dizer, o que importava pra você até hoje.

— O que você quer dizer com isso? — me encarou.

— A Luciana é a minha madrastra, meu pai faz parte da sua família burguesa — respondi e ele me olhou surpreso — Eu já sabia, por isso fugi de você várias e várias vezes, nunca quis nenhum contato com ninguém de lá.

— Caralho, eu sei a história da filha do meu tio que foi mal agradecida mas eu não lembro de você, sempre tive nojo dos meus "tios" — fez o sinal de aspas com as mãos — Eu me lembro das festas em família, mas não me lembro de você.

— É porque muitas eu não fui — falei — Eu fui só até um tempo, sempre fiz a boa enteada mas depois eu parei e nunca mais fui, principalmente quando fugi sai daquela casa.

— E o que aconteceu hoje? — me perguntou.

— Foi a primeira vez que eu vi ela depois de muita confusão — suspirei — Eles querem algo que eu nem sabia que tinha.

— O que?

— Herança — ri — Eu nem sabia que tinha herança de uma tia por parte de pai, não fazia nem ideia.

— Ué, é só você não dar e ficar com o dinheiro — falou simples.

— Queria eu que fosse assim — me olhou confuso — Eu me envolvi numa polêmica quando era mais nova e isso pode vir à tona agora.

— Polêmica? — me olhou — Aquela história do professor?

— É — respondi baixo — Não me orgulho disso, não sei como algumas pessoas sabem mas eu sempre agradeci por não ter virado notícia na cidade — apertei as minhas mãos, eu estava mais que aflita, era claro que ele não iria querer saber mais de mim. Eu mesma, a mal agradecida que se envolveu com um professor.

— Ok — falou.

— Ok? — o encarei.

— É, ué — deu de ombros — Obrigado por ter me contado.

— Você não tá bravo comigo?

— Não — riu e segurou no meu rosto — Não tem motivos pra ficar bravo, eu imagino tudo o que você passou e sei que alguns erros ficam no passado, e sinceramente, eu não me interesso por eles — passou o polegar lentamente pela minha bochecha — Eu gosto demais de você pra ligar pra isso, e além disso, odeio aqueles dois mais que tudo.

— Então tá tudo bem? — perguntei ainda aflita.

— Tá tudo bem — sorriu e colou os nossos lábios.

Ok, eu não esperava por toda essa reação positiva mas o meu coração batia cada vez mais rápido por saber que ele estava ao meu lado e tinha falado que gostava de mim.

Porra, acho que me apaixonei.

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Oizinho,  avisando pra quem quiser entrar no grupo do wpp que o link está lá no meu mural ❤️

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