Estou num beco esperando meu querido amigo aparecer, tento limpar as fuligens dos meus braços e rosto, o cheiro defumado em minhas roupas é tão forte, que pareço um leitão assado numa fogueira.
Já estou sem paciência para essa maldita missão que o príncipe me mandou, primeiro porque não consegui descobrir muita coisa e segundo, porque quase fui queimado vivo.
Olho para fora do beco, queria achar alguma taberna aberta, necessitava tomar alguma coisa bem forte, pois aquele dia só estava indo de mal a pior e eu tinha a impressão, que ele iria piorar e muito, principalmente depois que eu passasse as informações para Kael.
Para a minha decepção, o beco onde eu me encontrava não tinha nenhuma taberna por perto para eu anestesia a minha raiva. Chuto um caixote de madeira que estava a minha frente, o objeto voa e se parte em pedaços quando bate na parede a minha frente.
- Porque tanta impaciência Zamir. – Escuto a voz vindo de trás de mim.
- O principezinho resolveu aparecer finalmente.
- Vejo que seu humor está agradabilíssimo hoje.
Ele se aproxima de mim e sua expressão está serena, rio internamente, pois sei que ela não vai durar muito tempo depois que eu contar o que aconteceu para ele.
- E então, o que descobriu e porque me chamou com tanta urgência e porque tinha que ser num lugar como esse. – Ele sinaliza com a mão para o beco, que fedia a coisas que prefiro não imaginar o que sejam.
- Primeiro aqui não temos ouvidos desnecessários, o cheiro espanta todos os fofoqueiros, segundo parece que o rei humano se aliou a uma rainha que controla os raruks, eles a chamam de Rainha Sombria.
Vejo Kael estreitar os olhos para o que estou falando, ele parece familiarizado com o nome.
- Você a conhece meu caro amigo? – É a minha vez de o olhar surpreso.
- Só escutei boatos, essa é a primeira vez que alguém me confirma que ela realmente existe.
- Veja bem, eu não a vi, somente escutei atrás de algumas tendas, mas para essas duas raças estarem trabalhando juntas e acredite, não se matando, realmente alguém deve estar com as rédeas daqueles selvagens bem apertadas.
- Descobriu o que eles querem na floresta?
- Não, tudo que sei sobre o ataque é que, acredito eu, que seja por pura ambição territorial do rei.
Kael se encosta em uma das paredes do beco e passa as mãos pela cabeça.
- Não sei... me parece que tem mais algo aí, uma rainha tão poderosa que consegue controlar aquelas bestas, não iria se juntar aos humanos simplesmente por ganho territorial.
- Essa reposta você terá que imaginar ou mandar alguém buscá-la.
Ele me olha com a sobrancelha erguida, com um olhar de divertimento ao reparar no estado que estou.
- O que aconteceu com você afinal, está cheirando como se tivesse pulado numa fogueira.
- Obrigado pela parte que me toca. – Sorrio ironicamente – Quando eu estava no acampamento espionando para vossa majestade, - Faço uma breve reverencia, o que faz Kael revirar os olhos - alguém resolveu tacar fogo em tudo.
Kael se desencosta da parede e vejo a curiosidade em seu olhar.
- Como assim?
- Sei que eu estava feliz e contente, escondido escutando conversas alheias, quando de repente gritos de pessoas pegando fogo começaram, as fogueiras estavam com as chamas loucas, queimando tudo que estava em volta, em pouco tempo o acampamento ficou um pandemônio.
Suspiro e fecho meus olhos lembrando da cena.
- Diversos soldados foram queimados vivos, eu saí por pouco daquele lugar com vida.
- Ora, mas o que é isso, um elfo com medo de fogo, você pode controlar um incêndio fora de controle meu caro amigo.
Olho para ele de forma predadora pela forma que está tratando o que lhe conto.
- Não um incêndio mágico, meu caro príncipe, onde a chama estava descontrolada e selvagem, a força da magia usada era descomunal, tenho minhas duvidas se até você teria tal poder.
Como eu tinha pensado o rosto do príncipe se endurece, o vejo trincar o maxilar e quando fala, sua voz está tensa.
- E quem fez isso?
Provavelmente já está imaginando qual elfo foi atrevido o suficiente para fazer tal atentado, mal sabe ele o que o espera.
- Aí que a história fica interessante, quando sai do acampamento, fui me refugiar na floresta, ao longe, vi uma jovem, ela olhava com prazer para as chamas que queimavam o acampamento.
- Uma jovem? Elfa?
- Não era elfa.
- Humana? – Vejo o medo passar por seus olhos.
- Talvez... afinal, uma ninfa não poderia ser, elas não controlam o fogo.
- Se for uma druida, como ela sobreviveu, quem é ela....
Levanto a mão para o príncipe se calar.
- Se acalme tudo ao seu tempo sim, não vamos nos precipitar – Lhe dou um sorriso debochado, sei como ele odeia enrolação de informações – Fiquei observando-a durante alguns minutos, não sabia se ela era uma refugiada do incêndio que nem eu ou a causadora dele.
- E qual foi a sua conclusão? – Ele falava impaciente com os braços cruzados na altura do peito, seu rosto ficando cada vez mais fechado a cada minuto que se passava.
- Vi de longe a jovem ser consumida pela exaustão mágica, quando esta desmaiou, automaticamente o fogo no acampamento sumiu, ou seja, ela foi a causa por eu ter quase morrido frito.
- Onde está essa menina? – Sua voz soou como uma ordem, o ouvi falar assim poucas vezes comigo.
Me aproximo de Kael e paro ao seu lado, posicionando meu rosto perto do seu, diminuo meu tom de voz quando falo minhas próximas palavras.
- Aí que está meu caro príncipe, ela está na torre cinzenta.
- O QUE?! – Ele fala alto e com os olhos arregalados, de tudo que eu poderia informa-lo, isso ele com certeza não esperava. – Como ela foi parar lá, preciso avisar meu pai disso.
O seguro pelo braço e o encaro sério.
- Eu corri na direção da jovem, mas outros elfos chegaram primeiro do que eu, eles a trouxeram até aqui e o primeiro lugar que a levaram foi para o seu querido papai.
- O que você está querendo dizer Zamir.
- Que foi o próprio rei que mandou que a levassem para aquele lugar maldito.
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Rainha Sombria - A Ordem da Rosa #2
FantasyLia percorreu um grande caminho para descobrir quem ela é. Contudo, algumas respostas sobre o seu passado, terão consequências que ela não imagina. A jornada dessa guerreira entra agora no mundo mágico da floresta Emlax, reencontros inesperados aco...