Quem fala é o ego, mas quem pede é o coração.
E nessa disputa, eu caminho sem saber a quem ouvir primeiro.
Tenho medo dos dois.
Tenho medo do que eu não entendo e tenho medo do que sai das profundezas mais íntimas.
Tenho medo da fúria que consome e eu também já disse que amor demais me assusta.
Não é bem o seu amor que me preocupa.
O meu segredo de expressão é a escrita. É também o meu antídoto contra as angústias passivas e funciona melhor que ansiolítico. Contudo, para escrever eu preciso estar constantemente apaixonada.
Mesmo que seja paixão com prazo de validade vencido.
Eu nem sequer bebo desse cálice, mas tão sagrado como tal, a experiência é imaculada, imortal e cai entre nós, vale qualquer negócio se for para falar de amor.
Sabe, eu nunca fui uma pessoa de dar passos para trás.
Correr para o passado era sinónimo de assassinato do curso natural da vida, seguimos sempre em frente. Aponto pro futuro como quem carrega varinha mágica na bolsa e obriguei-me diariamente a matar o que ainda vivia aqui dentro.
Esbarrar com o passado pode causar mais bagunça do que imagina.
O silêncio era uma barreira que nem existe.
Porque esse é o barulho da gente?
As palavras foram se acumulando em mim e dessa vez eu acreditei que iria explodir.
Porque é isso o que acontece sempre quando eu encontro com você?
Eu transbordo até não poder mais e mal consigo juntar os cacos direito depois.
E então o que brilha em mim, acaba reluzindo em você e é nesse pedaço que eu já não sei mais o que fazer.
O coração chora e a cabeça se perde.
Difere de tudo o que é.
De tudo o que foi.
De tudo o que existe.
É um transe, uma mentira, uma prova, uma ilusão e uma sensação na sua forma mais bruta: amar sem ter porquê.
Eu assumi o risco de enredar-me e acabar perdendo. Ou enrolada em você.
O destino quando se organiza, toca a sua sinfonia e dispara diversos sinais dos capítulos que segue. Só não vê quem não quer acreditar.
Era inevitável: mais uma vez estaríamos juntos, enlaçados, apaixonados, errando e amando como se fosse ontem. Como se fosse toda uma história sem separação? Às vezes eu pergunto-me quantas vidas seriam necessárias para nós nos entendermos e se encontrar de verdade. Com entrega para valer. Corpo, alma e coração.
Sem medo e sem deixar para depois.
Ter parcialmente e sentir em absoluto são sentenças que pouco dialogam. Mas eu resolvi arriscar mesmo assim. Ouvir a sua voz dizer que não era uma questão de dominação, e sim, da falta que o outro faz, fez-me perceber que a vida é bem sem graça sem você do lado. Eu sempre gostei de emoção a flor da pele.
Eu não quero mais mentir. Não quero esconder o que eu sinto por pura vaidade. Não quero negar o efeito que você me causa só para eu me sentir mais sã. Mais dona de mim. Eu escancaro a porta se preciso for, porque essa é a transparência que eu habito calmamente. O meu corpo traduz o que o meu coração grita e nesse tempo todo só a sua voz fez som. E eu dancei.
As promessas são um jeito que eu achei de agarrar-me em qualquer coisa que lhe deixasse por perto. Quem fala não é o ego e quem cuida é o coração? De você eu sei cuidar. De nós, eu sou especialista. A proposta foi sua, mas quem lhe oferece o caminho sou eu. Se a vida é como rio e a passagem é inevitável, pelo menos nesse pedaço, eu não quero mais me soltar de você. Sugeriu-me o melhor dos mundos e eu ofereço-lhe o meu.
Afinal de contas, se eu lhe deixei entrar é porque esse jardim também é seu.
O meu amor.
