o universo está dentro de nós.

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proporcionava sentir porque a gente pode crescer e acabar a qualquer segundo e você nem perceberia. o universo não teria massa suficiente para sustentar uma nova expansão e nós nos fragmentaríamos em mil estrelas e galáxias e planetas quebrados como um coração partido. nem a matéria e nem o espaço nos acolheriam e nós seríamos como o brinco perdido da mamãe que naufragou pelo ralo do chuveiro. sem destino e objetivo, à mercê da gravidade e de outros sopros que nós sequer compreendemos.

e às vezes eu quero explodir,
como quem não aguentaria mais uma maldita expansão de território porque isso quer dizer mais espaço pra doer e no desespero ambíguo da desexistência — mesmo que essa palavra sequer tenha uma denotação funcional na língua portuguesa. sabe,
e eu acho que a dor é isso
uma morfologia inexistente
(mas que pulsa desesperadamente como artérias saturadas de sangue)

eu queria te contar isso porque tenho muitas incertezas sobre existência e a facilidade com que podemos abandonar todos os conceitos da palavra por apenas deslize da poeira que nos sustenta. e que às vezes existência é sobre estar, não existir (e eu gostaria de estar e existir contigo a cada hora da minha essência mesmo quando temo que os segundos se dispersem como momentos de felicidade).

há muita dúvida no existir e eu poderia matutar isso por horas, por dias, por tempos. assim como ainda cogito se há tanta matiz azul quanto esverdeada nos teus olhos e céus, me assusta o fato de que invejo quem pode contemplá-los como rotina,
essa é minha falta de certeza mais bonita.

mas estar ainda me é uma tarefa complicada por mais que a gente exista da mesma maneira que buracos negros não explicam tanta incidência de matéria. existência é também sobre receios e às vezes tenho medo de te contar dos meus,

eu tenho medo de muita coisa. tenho medo de olhares indiferentes. tenho medo do cheiro que fica depois da fumaça. tenho medo da grama não estar tão verde quanto estivera ontem. tenho medo de dificultar as coisas. tenho medo de ser um fardo. tenho medo de ser um fardo. tenho medo de ser um fardo.

porque insuficiência é uma das minhas únicas convicções e me assusta o fato de que ser fardo me é, em meio a tanta dúvida, certeza. tenho medo de que você me descubra fardo quando sei tanto sobre não ser o bastante quanto sobre buracos negros e explosões gravitacionais. tenho medo de te sufocar com meus medos porque eu sou essa maldita catástrofe cheia de caos e desordem — e isso não é uma metáfora.

mas eu te abraçaria até que todas tuas partículas se reintegrassem mesmo quando é difícil levantar da cama. mesmo quando não tenho nada a oferecer além das vontades que me fazem questionar minha lucidez. mesmo quando tudo que reina é tempestade (mas você é sol). e eu gostaria abastadamente de resgatar qualquer fragmento de maldade que já teve a ousadia de te tocar,
porque você é ponte
ponte que interliga caminhos bons
luz que me guia durante o temporal e
caminho que me faz enxergar chão onde antes não havia passagem.

obrigada por ser tanto,
é uma honra compartilhar minha existência contigo,
por mais quebrados que estejamos.

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