constelações.

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"Poderia o futuro determinar o presente? O tempo não é absoluto e o que poderia ter sentido, na verdade não tem".

A tragédia cotidiana é aquela que acontece nessas correrias da vida, um chiclete gruda no seu pé e tudo o que você não consegue é desgrudar ele de você. O encosto da goma de mascar, foi assim como essa frase, que teve o mesmo efeito impregnando nessa cabeça aqui, depois de assistir o seriado sobre a vida do Albert Einstein. Por sinal, recomendo.

Como chuva e sol dá casamento de espanhol e foi com o pé nessas raízes que nasceu essa maluca beleza, o destino estapeando tudo o que viu pela frente e com as ideias formando matrimônio também, me levou no dia seguinte a uma peça de teatro chamada "Constelações" e as suas infinitas possibilidades.

Imagine que você conhece um alguém. Vocês conversam, sobre tudo, sobre nada. O papo não rola, segue o baile. Imagina que essa cena se repete. Aparentemente no mesmo tempo e espaço. Agora vocês se conhecem, conversam sobre tudo, sobre nada, sobre as estrelas e o segredo dos cotovelos. E sobre a chuva que vai melar o churrasco. Ambos concordam: quem teve essa ideia de jerico? Mas a química não rola. Agora imagine que essa cena se repete, o tudo, o nada, só que dessa vez rola mais tudo, menos nada e acaba em beijo na boca. Imagine que essa cena se repete cinco vezes. E as próximas também. Cada uma com um final diferente. Cada uma com um enredo mais impalpável que o outro. Imaginou? E se pudesse acontecer?

Quase que em transe, eu saí daquela arena estasiada. Com a vida virada de ponta cabeça e com o sentido inalcançável brincando de pega-pega comigo na cara dura. A própria manifestação da essência e consolo. Aquele exato segundo que determina todo o resto, pra finalmente me entender menos aqui e mais lá. E ninguém faz a menor ideia de onde eu tô falando. Nem eu.

Se fosse possível voltar no tempo, você consertaria aquele quase? E se você tivesse mais paciência? E se tivesse aceitado mais? Será que tanto desgosto teria sido evitado? E se cada sentença tivesse uma solução?

Serendipity e toda aquela ralação de que as coisas só acontecem quando tem que acontecer. É esse então o destino imprevisível cheio dos quereres e nesse enredo nós não passamos de uns bonecos de ventríloquo? Tudo se abrirmos mão do livre arbítrio e das escolhas definidas empiricamente por nós.

De acordo com a interpretação dos muitos mundos, para cada opção possível, há um outro universo onde essa opção é realizada. Nesse toma lá, dá cá, podemos empregar o verbo to be em suas mais variadas versões, que essa obra se desmancha sozinha. Não existe um período de tempo separado e sim uma realidade hiperdimensional que envolve todos os tempos. Trazendo consigo os efeitos que o futuro tem no presente, à determinar pelas nossas decisões.

É muito provável que eu com esse papo todo, esteja aniquilando minhas frustrações, especialmente as que partiram de escolhas ausentes de mim. É possível também que tudo isso seja uma conspiração da minha mente sagaz com a ficção e eu esteja tapando buraco só pra procurar final feliz em algum lugar. Assim como a realidade alternativa, essa moeda contém dois lados.

É que só de pensar que a gente se encontrou e compartilhou o mesmo momento no tempo. Passado, presente e futuro existindo juntos no agora. Nós dois, partículas de elétrons coexistindo em vários mundos. Ou todos eles. E em algum, nem que seja só um, essa garota aqui escolheu a cena certa e a gente já vive tudo aquilo que eu imaginei. Isso alegra qualquer dimensão.

Tudo pra reviver no mesmo instante essa história que eu criei. Esse ponto de alguma coisa que acalma e consegue equivaler uma porta fechada a uma aberta. Finalmente o querer e ser. Mas pelo menos em algum lugar, a gente é.

Se me falta o essencial que é estímulo pra alma? Pode ser. Mas pode ser também que eu tenha encontrado. Nesse universo aqui mesmo ou em outro qualquer. A graça tá nesse infinito de coisas e nas histórias que dele provém. É também onde mora o substancial de qualquer dimensão. Em suma, estamos aqui e lá despertando em todos os amanheceres.

Acredite quem quiser nessa parada mirabolante de deixar até cientista de cabelo em pé. Mas em todas as possibilidades, eu viveria tudo outra vez.

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