No meio das minhas inúmeras correspondências havia uma carta vermelha sem remente, no destinatário lia-se “Volta Pra Mim”.
Quem me enviaria uma carta dessas?
Rompi o lacre e comecei a ler as palavras…. é claro!
Agora me recordo quem foi que a escreveu.
“Ei você! Você mesmo que me segura nas mãos, espero que eu tenha aparecido na hora certa e não seja tarde demais, bem, a gente nunca sabe quando é “a hora certa”, mas tenho a impressão que cheguei a tempo.
Volta pra mim!
Volta pra perto de mim!
Esfrego o seu corpo debaixo d’água e tenho a impressão que estou lavando um outro corpo.
Não sinto mais o seu coração batendo, não sinto mais o seu toque, seu cheiro, seu calor.
Onde você foi parar?
Quando você faz tudo que os outros querem você faça, ainda dá pra dizer que você é você mesmo?
Volta pra mim!
Meu corpo jogado nessa cama vazia está esfriando e quando isso acontece é porque você esteve longe demais. Não te vejo mais no reflexo do espelho.
Você se perdeu de novo? Não faz mal!
Olhe em volta, você deixou pequenas marcas no mundo, faça o caminho de volta… suspeito que você não se lembre mais da pessoa que costumava ser, contudo há sempre uma forma de se reconstruir.
Você desabou?
Volta pra mim.
Volte pra você.
Cadê?
Onde está?
Por que me sinto dormente?
Corpo e espírito ou só osso e carne?
Não são as grandes coisas, as outras pessoas, os desejos dos outros, os outros corpos que te farão acordar.
Volte pra dentro de você… que é a mesma coisa de voltar pra mim.
E essas atitudes? São suas ou das outras pessoas?
Você se misturou demais ou se dissolveu?
Onde quer que a sua essência esteja, vá para lá correndo ou a passos largos caso não queira chamar tanta atenção.
Seu corpo perdeu a graça para você mesmo.
Quando você se toca, eu sinto.
Mas ultimamente não estamos sentindo nada.
Tem tanta energia ruim.
Pessoas intocáveis.
Mensagens não respondidas.
Portas se fechando.
Comentários tóxicos mesclados com risos (risos de quem?).
Amizades se estilhaçando.
Planos arquitetados milimetricamente vindo ao chão.
Tanta desesperança.
Tanto questionamento sem fundamento.
E você longe de você…
Quanto mais longe você estiver de você mesmo, mais longe de mim, consequentemente, estará também.
Não estou falando de outras pessoas, outros amores, daquela moça ou daquele outro rapaz.
Estou falando de você.
Estou falando de mim.
Estou falando de uma pessoa só.
Estou apenas dissociando em duas porque suspeito de que em breve olharei o meu reflexo na água e verei outra pessoa.
Você no caso.
Já estou te vendo há um tempo.
E você não sou eu.
Só que eu estou aqui dentro junto contigo.
Eu prevaleço sempre, mas você me apaga na primeira oportunidade que tem.
Você se esquece de que a última palavra é minha!
Todas as suas ações reverberam em mim, inclusive quando você se afasta em prol de… espera… do quê mesmo?
Nem você sabe.
Te disseram tantas inverdades sobre você (nós) que agora você as toma como verdade absoluta, contudo (aqui no fundo, aqui dentro) você anda desconfiando que há algo errado.
E, de fato, há mesmo.
Nós ainda nos perderemos muitas e muitas vezes nessa vida.
Às vezes por motivos fúteis.
Às vezes por motivos profundos demais.
Por isso estou te chamando.
Esse é o sinal que talvez você esteja esperando.
Pare agora, respire e volte pra mim.
Volte pra dentro.
Volta pra mim.
