Os meus olhos falam.

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Conversei pelo meu olhar
Mesmo que ele estivesse perdido a mirar o eco daquela sala.
Não reparou que estes olhos já cansados de tanto expressar o que a boca não conseguia proferir.

O choro estava guardado há dias e o meu estômago doía por sentir tanta angústia.
O seu corpo estava presente, a sua mente não.
Estava tudo tão frio e vazio.
Sem me expressar, estava-me a expressar.
Fiquei quieta enquanto a minha cabeça planejava milhões de formas para falar o quanto tudo aquilo rasgava-me o peito.
Falei sussurrando: — sinto a sua falta, não entendo o porquê de você silenciar a minha conversa.
Por que some sem mandar notícias suas como se eu fosse nada? Juro tentar entender o que acontece em dentro si.

Porque lhe vejo por toda parte, sempre está, menos para mim.
O silêncio sempre foi a resposta para nós dois, o vazio dos seus olhos, a falta do seu toque, a sua indiferença que me fez sair dali sem saber os motivos para o que acontecia de verdade.
E eu nem precisei escutar a sua voz. Não precisava falar, pois as suas expressões já falavam por si.

Disse que a sua crise de ansiedade neblinava-te, deixando-o inquieto.
Lhe causando inúmeros conflitos, mas meu bem, esquece que também me afeta-me.
A minha crise de ansiedade aflora por buscar respostas, por tentar entender tudo isso.
Ando a perder noites de sono na busca de respostas que talvez não existam.

Eu amo você, mas não posso ficar nessa montanha-russa de emoções incertas, ausências e inconstâncias. Não posso ser refém dos seus: "talvez", "Ah! Lembrei de responder você", "hoje eu importo-me", amanhã eu tomo chá de sumiço".

Ele respondeu sem me encarar: — Eu não sei o que dizer, nunca sei o jeito certo de falar...

Quem sabe quando estivermos mais maduros e responsáveis pela nossa saúde mental, voltaremos a conversar sobre como é sentir tanta solidão ao lado de alguém dentro de uma relação.

Qualquer dia, quem sabe, eu ligue-lhe para tomarmos um café.
Irá provar e achar forte, sentirá o amargo, olhará para mim, e ali, naquele momento, iremos encerrar um ciclo sem um adeus.
Finalmente nos daremos conta de que nada mudou entre nós.

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