Existiu uma época, que não está tão longe assim do agora, a qual eu carregava mais desespero do que minhas mãos podiam segurar. Eu queria viver uma história de amor a qualquer custo e cada dia que passava eu percebia que todo o resto era insuportável: os dias, trabalhar, estudar, bater minha cota pessoal de livros, finalizar textos. Nada era importante o suficiente pra suprir o que um coração feroz implorava pra despejar em outro alguém. Tipo tempestade.
Tenho pouca empatia por mim naquela época. Não tinha intenção nenhuma de olhar pra dentro. Acho que não conseguiria ainda que quisesse. O ditado sábio diz: se eu soubesse antes o que vivi agora. Mas nenhuma previsão se faz tão merecida a ponto de privar a gente do que precisamos experimentar só pra aprender. Mesmo que seja do jeito mais difícil.
Toda história desponta em algum momento. Toda história carrega reviravoltas destinadas a existir. Toda história envolve um enigma misterioso e a chave mestra para o seu final. A minha não seria diferente.
Já ouvi dizer que é no verão que os encontros acontecem. Acho que o calor não tá só no clima, o que promete a combinação perfeita para corações se entrelaçarem em olhares que prometem desvendar a alma. Os sentidos aguçam e a vida sai da mesmice, pra nunca mais ser a mesma. Também já ouvi dizer que as coisas só acontecem quando você não está esperando por elas. Fui pega distraída e arrematada no mesmo segundo: ele veio ágil, selvagem e pronto pra roubar meu fôlego. Rolou.
Tinha uma dúvida que me tirava o sono desde o início. Não sabia se era um presente, ou se era um sonho que fatalmente se tornaria em um pesadelo quando se aproximasse do fim. Paguei pra ver e o resto a gente resolve depois. Era a chance que eu tinha e por nada nesse mundo eu podia desperdiçar.
Desabrochou como flor na primavera. Lindo, hipnotizante e cheio de espinhos. Foi nesse pedaço que eu percebi que o amor não era nada do que eu montei na minha cabeça. Não era música romântica e suspiros intermináveis. Era bem maior e nem sempre tão bonito quanto conto de fada. Não dá pra medir o que não pode ser percebido pelos sentidos. Era essa a estranha sensação de pertencer antes mesmo de ser. Gostar sem dar sentido. Um movimento inevitável como a harmonia natural das coisas.
Tentei brecar antes que fosse tarde, mas o freio aparentemente veio quebrado. Era um amor violento e quase como uma magia, se encarregava de todo o resto. Uma combinação de força e fragilidade no mesmo tom. A substância e minha própria ruína. Toda catástrofe carrega a gratidão por sobrevivermos.
Antes do fim, eu senti o que os anjos consideram canto celestial e o que os demônios podem chamar de festa. Era pecado. Mas era também a minha ascensão. Optei por ficar cega, só pra poder enxergar ele. Abri mão do meu superficial porque finalmente tava ali: o amor, puro e verdadeiro. E eu era uma refém conformada e na maior parte dos dias, feliz. Quando a loucura se faz justa todo o resto pouco importa.
O que eu não sabia, é que não dá pra determinar o curso natural das coisas. E foi assim que eu descobri que morte e vida são uma coisa só. Eu precisei morrer e nascer de novo mil vezes só pra entender que não dava pra matar o que vivia em mim. Era um desastre e o sobressalto de oxigênio mais puro que eu já tinha sentido. Também era o fim de uma história de amor que custava toda a minha energia. Presta atenção nessa parte: o antes só fez sentido quando eu topei com o depois. Só reparei agora.
As lacunas foram preenchidas. O vazio foi instituído como um espaço que despertava as emoções mais variadas. Foi mais bonito do que podia ser e agora eu sei. O que é pincelado com doses extraordinárias de amor dificilmente carrega feiura. Foi real e foi necessário. Foi longe demais.
Não é um jogo de lamúrias incalculáveis, muito menos balde pra derramar desprezo. É uma expressão que só uma experiência brutal pode trazer e eu viveria cada segundo de novo, se preciso fosse. Mas não entraria em repetidas versões dos mesmos erros. Não apressaria o que precisa de naturalidade pra nascer. Nem quero controlar mais nada que não seja o meu despertador.
A sedução vêm das memórias que ultrapassam tempo e espaço. Só assim eu sei dizer que valeu a pena. Pra quem aprendeu a amar com a velocidade dos dias, entre mergulhar bem fundo e navegar em alto mar, eu fico com a praia. Sol, sal e um guarda-sol que só abrigue uma dupla quando couber na conta.
Sem nuances, sem desordem e sem contradição.
Amor precisa de coragem e uma boa dose de calma também.
Tudo no seu tempo.
Não posso correr mais do que minhas pernas podem alcançar.
Não posso passar na frente de ninguém, muito menos de mim mesma.Agora eu já sei disso também.