às vezes eu matuto em quanto tempo minha alma se tornará a monotonia dos teus dias
e acho que é isso que me faz ter medo de dormir sozinha durante a noite
porque, céus, há partes de mim que sussurram que eu sou só essa descoberta bonita
eu tenho medo de não conseguir te ser mais
eu tenho medo de não ser mais
o impasse é que meus ombros estão fadados de traumas
ruínas que se rejeitam a despencar e
às vezes eles me parecem só pequenas pedras numa muralha inteira
eu carrego esse autoextermínio esse pesar constante de pensar que minha dor é uma gota de água para um oceano inteiro
e é por isso que a minha expressão é retida
é por isso que o medo de ser só um grão de areia no meio do caos do mundo me assusta quando desejam enxergar além do rosto fadado
não há muita coisa bem
e se eu não consigo ser boa
nem pra mim mesma
quando serei boa a alguém
o medo desenfreado da falha, a inaceitação pelo que corrompe os roteiros padronizados e a vontade
inapta
de
sucumbir
eu não sei compreender a merda que corrói meus neurônios e castiga as vértebras inapetentes quando memórias ruins voltam no que tudo é sol
e
dessa vez
não há arco íris quando a chuva vem
eu negligencio minhas dores como quem prende o choro no meio da ciclovia pública porque a lágrima alheia ainda é difícil demais pra ser compreendida. eu negligencio tudo o que me machuca porque tudo são repetições
malditas
repetições
de dores antigas
que cantarolam o tique taque irritante do relógio da sala de estar mas que não se desgastam com a chegada do futuro
tique
taque
o futuro sempre foi a parte mais assustadora dos fins de tarde
assim como é
quando se trata de dor:
você nunca sabe
se ela vai se dissipar ou
doer
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