GUY
— É óbvio que eu posso destruir essa porcaria. Eu sou Guy Carver.
As pessoas rugiram ao meu redor.
Um cara, que eu não fazia ideia quem era (apesar de ele estar na minha casa), estava desafiando outras pessoas a quebrarem uma garrafa de cerveja vazia a dois metros de distância com uma bola de tênis.
Não foi necessário muito esforço da minha parte para fazer isso, porque além de todos os meus atributos artísticos e físicos, eu tinha uma mira boa pra cacete.
Eu acertei o vidro e ele caiu no chão, mas mal deu para ouvir o barulho do vidro quebrando por causa da música alta do lado de dentro da casa.
O pessoal que me cercava soltou outra comemoração que durou alguns segundos antes de eles se entediarem e se dispersaram pela mansão.
Depois disso, percebi que não tinha muito mais o que fazer.
Essas festas eram sempre iguais. Eu avisava a alguém que tinha música e bebida em casa e esse alguém avisava a outras pessoas que avisam a mais pessoas e, de repente, a casa estava cheia. Nos trinta primeiros minutos era divertido, até me aborrecer com a mesma música do Justin Bieber tocando toda hora e a cerveja ruim.
Era meio cansativo depois de tantos anos ver as mesmas coisas.
Por exemplo, sabia que as duas garotas que me acompanhavam durante toda a festa topariam ir para a cama comigo naquela noite, mas, no dia seguinte, tentariam tirar fotos para se exibir nas redes sociais por ter dormido com um famoso (exceto que já haviam tantas fotos assim minhas que isso nem deveria mais render tanta fama. No máximo, uns dez seguidores no Twitter).
O cara gritando na minha cozinha estaria jogado no meu chão pela manhã com uma ressaca monstruosa. A casa ficaria uma bagunça e as duas faxineiras que eu havia contratado xingariam minha pobre mãe a tarde inteira, porque sabiam que, na mesma noite, outra festa aconteceria.
— Ah, meu deus — alguém gritou ao meu lado — A polícia está aqui. Esconda a maconha!
Eu me virei e avistei um homem alto, vestindo um terno que não condizia com o estilo da festa. Ele estava acompanhado de quatro policiais fardados que causaram um pequeno pânico entre meus convidados.
Aquilo era realmente necessário?
— Carver — ele se aproximou, colocando as mãos na cintura.
— Thatcher — abri um sorriso enorme que já havia rendido vários elogios no Buzzfeed — Quanto tempo faz...? Sinto que não te vejo há meses.
— Eu te vi hoje de manhã numa reunião sobre seus comportamentos.
Thatcher era meu assessor ou assistente financeiro ou empresário. Eu nunca soube muito bem o que Thatcher fazia nesses quinze anos que trabalhávamos juntos. Ultimamente, sua principal função era estragar minha diversão, mas antes, quando comecei minha carreira na América aos dezesseis, ele costumava responder como meu responsável legal.
Por um tempo, Thatcher foi mais meu pai que meu próprio pai, o que era esquisito porque eu fui o primeiro artista com quem ele trabalhou, então ele tinha um pouco mais que vinte e um anos quando assumiu a minha "paternidade".
Isso não significa que ele não fez um trabalho excelente se metendo na minha pessoal como um pai faria. Agora era um ótimo exemplo disso e eu estava longe de ser o adolescente de dezesseis anos que costumava ser.
— Esses policiais estão aqui para te prender caso você não acabe a festa... São quatro e meia da manhã, Carver! Os seus vizinhos estão dispostos a abrir uma queixa contra você.
Ele apontou para os policiais que pareciam ocupados demais com duas loiras com peitos enormes. As rugas na testa de Thatcher se intensificaram mais e ele pareceu, de repente, ter cinquenta anos.
— Eles parecem bem aqui.
— Guy — ele fechou os olhos e respirou fundo — Você sabe como Stacker é em relação aos atores que ele trabalha. Se você perder esse papel...
Mas que caralho. Esse papo de novo.
Eu já escutei esse discurso hoje de manhã... Na verdade, escutei uma pequena parte dele. A nova administradora das minhas redes sociais era muito gata e eu não consegui tirar os olhos dela.
Mas eu peguei a ideia geral da reunião: "Você é um irresponsável, Carver", "Pare de se meter em tantas polêmicas" e "Não foda esse trabalho, Guy". Eu estava ciente que, no momento, minha imagem não era das melhores e eu precisava evitar escândalos.
Eu provavelmente estava sendo cancelado no Twitter nesse exato segundo. Isso já estava acontecendo. Não seria uma festa a menos que me faria ser menos problemático. Por que eu não podia aproveitar um pouco e encher a cara? Era meu dinheiro que estava sendo usado, de qualquer jeito.
— As propostas de trabalho não estão vindo como antes. Essa série é a única coisa que você precisa manter. Comece a agir com responsabilidade, Carver! — Thatcher disse, irritado.
— Meu Deus, você está parecendo minha mãe — comentei, pegando uma garrafa de uísque da mesa na varanda e bebendo um gole direto do gargalo.
Thatcher arrancou a garrafa da minha mão com mais força que o necessário e eu quase engasguei.
— Um dia, eu vou me demitir e você nunca encontrará um assessor que suporte as merdas que você me faz passar! — ele apontou um dedo acusatório na minha direção.
— Thatcher, você é uma ótima pessoa — eu me aproximei lentamente com medo daquela garrafa na sua mão parar na minha cabeça. Eu passei o meu braço pelos seus ombros, ciente do seu olhar feroz — E acho que o que você precisa é de uma cerveja e alguns caras. Eu posso providenciar isso.
Thatcher permaneceu imóvel.
Em Los Angeles, ninguém resistia a um convite para festa, afinal era a terra da oportunidade, não havia tempo a se perder, principalmente quando convite era de alguém como eu — um astro de Hollywood, indicado ao Oscar.
Exceto Thatcher.
Ele levava o trabalho a sério demais para meu gosto.
Quem nunca havia dado uma pausa para fumar uma na varanda e beber tequila no corpo de uma modelo da Victoria Secrets? Não o Thatcher, posso te dizer isso.
— Também temos outras coisas — dei de ombros.
— Carver, acabe com a festa — ele arrancou meu braço do seu corpo — Eu esperarei na sala.
Revirei os olhos e pedi para alguém desligar o som.
As pessoas perceberam que a festa tinha acabado e um coro de "Aaaah" decepcionado soou pela casa. Os policiais pareciam ter se tocado que tinham um trabalho a fazer e começaram a ajudar todos a saírem da mansão. Alguns carregaram as últimas garrafas de cervejas e latinhas, provavelmente iam em busca de outra festa para continuar a farra.
A garota ao meu lado com que eu havia trocado alguns beijos no banheiro, me abraçou por trás e passou sua mão pelo meu ombro.
— Isso significa que eu também tenho que ir? — disse com uma voz infantil e meio irritante.
— Não, eu nunca disse isso, Tiffany.
— Maya — corrigiu sem perder o sorriso —, mas tudo bem. Temos a madrugada inteira para te ensinar meu nome.
Eu sorri.
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Casamento à Moda Inglesa
Romance[ FAKEDATING || +16 ] Daisy é uma das maiores diretoras de cinema atualmente... Ok, pelo menos, nos seus sonhos, ela é. Na vida real, Daisy Lynton trabalha como "assistente" da assistente de direção no set de Corações em Chamas, uma série bem sucedi...