DAISY
— Cliff? — eu o chamei.
Cliff tirou os olhos de um homem de cabelos coloridos que o acompanhava e me encarou por alguns segundos, perplexo. Quando percebeu que era eu ali, seus lábios se abriram em um daqueles sorrisos enormes e agradáveis que ele tinha.
Em vez de sentir borboletas no meu estômago e sorrir também, tudo que eu consegui pensar era na maneira como seu sorriso era diferente dos que eu recebia de Will. Mais frívolo e falso como se aquele não fosse ele mesmo, apenas um personagem.
— Day — ele disse no mesmo tom suave de sempre — Não sabia que estaria aqui.
— Você sabe que é o aniversário de Wi- digo... Guy.
— Sim, eu sabia.
Assenti. Era tão estranho. A última que vi Cliff foi no seu apartamento com sua amante ao seu lado. E, antes disso, no estacionamento em Hermosa Beach... Eu ainda conseguia ouvir todas as palavras que ele me disse naquele dia.
Exceto que eu não sentia mais nada. Não havia mágoa, tristeza, raiva ou amor. Parecia que eu não conhecia Cliff há tantos anos, parecia que ele era um estranho de memórias distantes.
Quem sabe ele fosse mesmo um estranho. Esse tempo todo, eu menti para mim mesma que aquele era o cara da minha vida quando realmente o verdadeiro cara estava em outro lugar com outras pessoas.
Como uma paixão tão forte poderia terminar assim, sem avisos ou gestos? Apenas acabar. E como outra, ao mesmo tempo, podia surgir da mesma forma tão avassaladora e intensa?
— Parabéns pelo contrato — falei, por fim, quando Cliff começou a estranhar minha quietude — Estou feliz por você, de verdade. Era tudo que queria.
Ele me analisou.
Tudo que eu desejava era dar um fim àquilo amigavelmente, sem conflitos ou compadecimentos. Afinal, ficamos juntos por mais de seis anos, não poderia jogar todo esse tempo fora da maneira que fizemos por telefone.
Eu ainda queria o bem de Cliff no final de tudo e esperava que ele também pudesse desejar o mesmo para mim, que pudéssemos viver bem com o fim como os dois adultos que éramos.
— Valeu, Day... Imagino que você esteja bem agora... Com o ator — repetiu a última frase com certo desprezo.
— É complicado — afirmei, pensando no beijo de ontem à noite. Nos vários beijos de ontem à noite. Senti meu estômago congelar e meus olhos procuraram por ele ao lado de Brandi, mas ele tinha sumido.
— Não precisa se explicar. Ele já fez isso por você — disse em um tom ácido que Cliff sempre teve e eu nunca percebi.
— Perdão?
Ele bebeu um gole da sua bebida, saboreando as suas próximas palavras.
— Eu te liguei, Daisy, para pedir desculpas por tudo. Para te ter de volta. E o babaca do seu namoradinho atendeu e praticamente me ameaçou se eu me aproximasse de você.
Fechei os olhos. Podia imaginar muito bem Will fazendo aquilo. Ele tinha esse instinto protetor sobre mim que eu não entendia direito, mas que eu deveria tratar de destruir antes que ele se metesse em mais confusão.
Estava prestes a fazer exatamente isso quando a voz de Cliff me fez girar os calcanhares para lhe encarar outra vez:
— Se quer ficar com ele, não tenho problemas com isso. Sério, Day. Pode ir. Mas tenha cuidado. Você não o conhece.
Franzi o cenho.
— Você não tem problemas com isso!? — Praticamente gritei, atraindo alguns olhares na nossa direção — Uau, obrigada, Cliff pela sua permissão. Com certeza você pediu a minha também no dia que resolveu dormir com outra!
— Eu não dormi com ela enquanto namorávamos. Só depois que você deixou o apartamento.
Arregalei os olhos. Deuses de Asgard, o que eu havia visto naquele imbecil?
— Realmente, não sei o que te fez pensar que você poderia simplesmente murmurar algumas desculpas e eu voltaria correndo para seus braços como uma vira-lata sem dono! — berrei ainda mais alto, ignorando as cabeças virando na nossa direção.
— Digo... — ele engoliu em seco, coçando a nuca — Sempre foi assim desde a escola — Cliff falou mais baixo que o normal quando meu olhar penetrou o dele.
Meu sangue subiu até a cabeça. Se em algum momento, eu considerei terminar nossa relação de maneira agradável e agir como a adulta de vinte e cinco anos que eu era, pode ter certeza que isso acabou naquele mesmo instante.
Avancei na sua direção, tirando o copo ainda cheio da sua mão e jogando todo o conteúdo na sua cara. Ele passou a mão pelo rosto e arregalou os olhos. Com certeza não esperava isso vindo da Daisy gentil e tranquila que sempre perdoava todo mundo.
Várias exclamações soaram pela sala de estar e algumas risadinhas também.
— Vai se foder, Cliff.
Eu dei as costas para ele. Senti um alívio instantâneo como se tivesse arrancando os grilhões dos meus pés que me prendiam há um longo tempo. A liberdade machucava meus calcanhares, mas a sensação era incrível.
— Onde está Carver? — me aproximei de Brandi que segurava seu copo com um líquido verde enquanto me encarava embasbacada.
— Na cozinha — disse, sem tirar os olhos de mim. Acho que era a primeira vez que Brandi realmente olhava para mim — E, Daisy...
— Sim?
— Você é minha nova super-heroína — ela ergueu o copo em um brinde imaginário — Ele mereceu.
Sorri.
— Pode avisar a Guy que fui para casa? Preciso andar e pensar um pouco sozinha.
— Deixe comigo, querida.
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Casamento à Moda Inglesa
Romance[ FAKEDATING || +16 ] Daisy é uma das maiores diretoras de cinema atualmente... Ok, pelo menos, nos seus sonhos, ela é. Na vida real, Daisy Lynton trabalha como "assistente" da assistente de direção no set de Corações em Chamas, uma série bem sucedi...