QUARENTA E UM

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GUY

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GUY

Ainda ofegante, cheguei em casa e corri para abrir a torneira da cozinha. Enfiei minha mão debaixo da água, o que não foi a melhor das ideias, porque ela entrou pelos vincos de pele aberta e ardeu pra cacete.

Observei a água avermelhada escorrer até a pia enquanto pensava em como diabos consertaria a situação.

O imbecil do paparazzi não perderia a oportunidade de me ferrar, não tendo aquele vídeo em mãos. A qualquer momento — senão agora — a minha imagem quebrando o vidro do carro de alguém aparentemente inocente estava circulando por toda a internet e sites de fofocas.

Vendo pelo outro lado, eu não bati nele. Pelo menos, Thatcher não teria que lidar com outro processo por agressão. Ainda que eu ache que ele não pensará da mesma forma sobre a situação.

Thatcher tinha razão. Eu era um idiota inconsequente que bagunçava tudo e deixava para que os outros depois de mim consertassem minha merda. Não foi o que fiz todos esses anos com o próprio Nick? Mesmo Daisy, eu incluí em tudo isso. Talvez eu merecesse o linchamento, as palavras dos jornais, as surras do meu pai porque, no final das contas, eu nunca fui tão diferente dele assim.

Ouvi a porta abrir e desliguei a torneira, ainda mantendo a mão cheia de listras vermelhas escondida.

— Will? — A voz de Daisy ecoou pela casa.

— Estou aqui — respondi.

Daisy surgiu na cozinha com um sorriso nos lábios, mas não era o sorriso que tomava o rosto inteiro e iluminava seus olhos. Algo estava errado.

— Como foi a entrevista?

— Ah... — Daisy jogou a bolsa em cima do balcão e deu de ombros — Não foi. Eu não era a pessoa que eles estavam procurando. Pouca experiência e tudo mais.

Eu podia dizer que ela estava tentando me enrolar. Daisy deveria me conhecer melhor do que isso.

— Daisy, o que eles disseram?

Ela suspirou e percebeu que estava encurralada. Torceu uma madeixa do cabelo no dedo como sempre fazia quando se sentia nervosa ou irritada.

— Eles não querem alguém que seja polêmico demais na série — admitiu, encarando a parede de vidro do outro lado — E, pelo jeito, eu sou muito polêmica... Quem diria, certo? — ela riu sem graça — A entrevista com Cliff chegou até a produção, obviamente. Além disso, tem o fato de que... — Daisy se interrompeu, me fitando pelo canto do olho — Esqueça. Eu só preciso ficar um pouco sozinha.

— Eles falaram de mim, não foi?

— Fitzwilliam, não vale a pena nos aprofundarmos nisso — Daisy disse com a voz mais rígida que o normal.

— Eles falaram de mim — afirmei, desviando o olhar para meu punho que já tinha parado de sangrar e agora mostrava apenas os cortes rosados na superfície.

— Sim, bem, você está em basicamente todos os sites de fofoca, Carver! Inclusive nosso relacionamento. O que esperava? — sua voz saiu com um tom de irritação. E, no mesmo instante em que disse essas palavras, Daisy abriu os lábios como se pudesse pegá-las de volta.

— Sinto muito.

— Desculpe, não é sua culpa. Eu só estou estressada. Esse emprego, Cliff, você, o casamento, tudo virou uma bola de neve enorme que está passando por cima de mim nesse momento — Daisy balançou a cabeça — É muita pressão...

Abaixei os olhos. É claro. Não podia esperar que Daisy levasse de boa o fato de seu nome estar na capa do Metrópoles. As fofocas e os paparazzis sempre estiveram presentes na minha vida desde pequeno por causa do meu pai, mas Daisy acabou de chegar nesse mundo.

— Will — ela se aproximou. Seus olhos castanhos estavam tão escuros quanto os cabelos presos em um coque — Preciso de um tempo sozinha, entende?

Franzi o cenho, sem conseguir compreender direito o que ela queria dizer com isso. Daisy tentou olhar para qualquer direção que não fosse a minha.

— Daisie, o que está pensando? — eu ergui a mão afim de puxá-la para mais perto e tirar qualquer ideia maluca que estivesse rondando sua cabeça agora, mas cometi o erro de usar justamente a mão que havia machucado.

Não tive tempo de escondê-la, pois Daisy arregalou os olhos.

— O que houve, Will?

Eu fechei os olhos e bufei.

— Você acreditaria se eu dissesse que tropecei na escada?

— Não — Daisy me cortou antes que pudesse abrir um sorriso.

— Eu bati no carro de um idiota, não por acaso o maldito paparazzi que eu soquei há dois meses — comecei — Ele falou algumas coisas, eu me irritei e você conhece o resto da história... — dei de ombros. Daisy continuou me encarando — Quebrei a janela do carro dele. Com minha mão.

— Ah, meu Deus, Will! — ela recuou — O que estava pensando?

— Eu não estava! — exclamei, batendo a mão contra o balcão e gritando em seguida, porque foi a que estava ferida — Está tudo bem, Thatcher cuidará...

— Merda, Guy! — Daisy xingou e eu sabia que ela estava irritada por isso — Você não vê que precisa de ajuda? Você tem um problema!

— Eu não preciso de ajuda. Eu não preciso de Hollywood, só preciso que você fique comigo, Daisie — avancei na sua direção, mas ela desviou.

— Não, não. Eu não posso... Não posso suportar ver basicamente todos em Los Angeles me chamando de vagabunda e você quebrando toda a cidade enquanto isso, se recusando a ir na porra de um médico! — ela falava rápido, tropeçando nas próprias palavras. Daisy parou um instante e respirou fundo — Só gostaria que minha vida voltasse a ser o que era há dois meses.

— Você se arrepende do casamento... disso entre nós dois?

Daisy me olhou firmemente, dessa vez sem desviar os olhos.

— Apenas me dê um tempo — ela murmurou — Eu vou para a casa dos meus pais.

— Daisy — chamei. Ela girou os calcanhares e caminhou para fora da cozinha. Eu a segui — Daisy, você não está pensando direito.

Ela continuou me ignorando e subiu as escadas.

— Por favor, Daisy, eu-

— Will, se você se importa comigo, nem que seja um pouco, por favor, me deixe ir — ela se virou de repente para me encarar. Seus olhos estavam molhados e o peito subia e descia rapidamente como o meu.

E eu a deixei.

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