TRINTA E UM

554 91 2
                                    

GUY

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

GUY

Merda.

Merda.

Eu perdi o controle.

E Daisy estava lá. Deus! O que ela devia pensar de mim agora? Ela me odeia. Ela nunca mais vai olhar na minha cara novamente ou confiar em mim, porque eu sou uma maldita bomba relógio.

Por que fiz aquilo? Eu estava indo tão bem nessas últimas semanas sem perder o controle nenhuma vez, então bastou ver a figura do meu pai, que todas as surras que levei, todas as injurias que ouvi ele proferir para minha mãe, tudo o que me fez passar, voltou para mim.

Eu odiava que ele ainda possuía tanto controle sob mim.

— Will?

Ergui a cabeça do volante e vi Daisy na porta do passageiro com as pontas dos lábios para baixo e o olhar carinhoso de sempre.

Deixei que entrasse no carro e ficamos alguns minutos em silêncio sem dizer uma palavra.

— Eu não queria que tivesse visto aquilo — comecei, sem conseguir encará-la — Eu sei o que está pensando.

— Não, você não sabe — retrucou ela naquele tom de teimosia.

— Você me odeia? — perguntei.

— Não, Will! Por que eu te odiaria? — Daisy disse, indignada — Eu nunca poderia te odiar. Quer dizer, não agora — disse de forma doce, colocando sua mão sobre a minha. Senti todo meu corpo relaxar instantaneamente com seu toque — Quero apenas saber o que aconteceu ali, sinto que existe mais... Claro, se você confiar em mim para contar.

— Eu confio — Segurei sua mão delicadamente, passando a encarar seus dedos tão pequenos e macios em comparação aos meus — É um transtorno — fechei sua mão na minha — Transtorno Explosivo Intermitente.

Eu respirei fundo.

Acho que nunca tinha contado sobre isso para ninguém, nem mesmo para Thatcher que era a pessoa que eu mais confiava.

— É difícil explicar. No inglês simplificado é uma raiva incontrolável que pode ser impulsionado por algo real ou, às vezes, é apenas meu cérebro me pregando peças.

— Como você se sente?

Eu prossegui, porque era fácil falar com Daisy. Era como... falar com mamãe, ela fazia as perguntas certas e eu simplesmente sabia que podia dizer o que afligia meu coração e não teria julgamentos, ninguém levantaria o cinto para me bater.

— A princípio, raiva, eu quero gritar, preciso desesperadamente descontar aquilo em algo ou... alguém — sussurrei a última palavra — Então, eu faço o que quero e sinto esse alívio passar pelo meu corpo, mesmo tendo quebrado o nariz de alguém. É tudo tão confuso, Daisie.

Daisy assentiu.

— Eu sinto muito que tenha que passar por isso — disse, sua voz tão suave quanto a sua pele — Seu pai não deveria ter dito aquilo se sabia da sua condição.

— Meu pai... sempre achou que tinha algo de errado comigo, por causa de todas as brigas que eu arrumava no colégio. Mas mamãe nunca viu nada de errado comigo, ela dizia que eu era apenas um pouco mais especial que o resto... Ela me incentivou a ir para o teatro, o que ajudou por um tempo, porém quando seu pai é um ator renomado, você recebe constantes críticas para ser perfeito e a coisa começou a desandar — falei, fechando os olhos — Depois que ela se foi, tudo piorou. As surras do meu pai não ajudavam muito e eu só queria ir embora daquele lugar.

— Então, a confusão com Jeremy que saiu nas revistas...?

— Isso foi há quatro anos. Eu dei um soco no meu pai na frente de um monte de fotógrafos — disse, enrugando a testa — Saiu em todos os jornais da época, exceto a parte em que ele disse se arrepender de mim. Depois disso, ninguém quis oferecer um emprego para alguém que... bate no pai.

— Ah, droga, ele é um... asno.

Eu ri. Daisy era capaz de me fazer rir nas piores situações possíveis.

— Eu sei que ele é seu pai, mas puta que pariu! — ela exclamou — Farei questão de boicotar qualquer filme que ele tenha feito — afirmou com convicção — Ainda sobre seu transtorno, você já viu um psicólogo? — Daisy diminuiu o tom da voz.

A última vez que vi um foi na Inglaterra. No surto mais grave que tive com George. Ele não tinha feito nada demais, apenas comeu minha parte dos biscoitos que mamãe fez.

Eu tinha apenas dez anos e aquilo me deixou irritado porque, para aquela criança que eu era, George fazia tudo o que queria e saía impune pelo meu pai. Jeremy nunca ousou levantar a mão para ele. Ele era o filho de ouro.

Eu explodi e quase bati nele. Mamãe me segurou e eu a empurrei. Eu a machuquei. Chorei a noite inteira por isso. Ela veio até o meu quarto e disse que não fora nada demais. Acidentes aconteciam. Ainda lembrava do seu sorriso doce dizendo que tudo ficaria bem, porque ela sempre estaria ali.

— Não, mas não se preocupe — eu levei seus dedos até meus lábios, deixando um beijo suave entre os nós — Desde que você chegou, tenho me controlado mais.

— Tenho certeza que não eu não sou a cura para...

— Daisy, eu não preciso de um psicólogo, está bem? Não sou louco — encarei-a nos olhos, então ela deixou um sorriso leve brotar nos seus lábios.

— Você não precisa ser louco para ir num psicólogo, Will... Apenas prometa que vai procurar ajuda se acontecer de novo.

Assenti com a cabeça rapidamente, largando sua mão de volta no seu colo

— Vamos para casa. Quero sair desse lugar imediatamente. Tenho que dizer, estou levemente decepcionada com a comida dos ricos — disse Daisy, apoiando a cabeça na janela.

Eu sorri e liguei o carro.

Casamento à Moda InglesaOnde histórias criam vida. Descubra agora