QUATRO

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GUY

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GUY

Eu me sentia uma droga.

Estava na boate de um amigo, no centro de Los Angeles. A música eletrônica cheia de efeitos e vozes agudas explodia em meus ouvidos. A bebida na minha mão não descia mais com tanto prazer depois da quarta garrafa. Até as pessoas daquele lugar não me animavam.

Traguei o cigarro rapidamente e me levantei, cambaleando entre outros bêbados e casais se esfregando enquanto dançavam, para onde achava que deveria ser a saída daquele lugar.

Estava me sentindo cansado. As gravações haviam tomado a maior parte do dia e quando Stacker dispensou a equipe, achei que um copo de uísque era a solução para todos meus problemas.

Eu sempre dizia isso, mas a realidade? Nada mudava. Eu só me sentia um lixo ainda pior. Pelo menos, tinha uma desculpa para não ir para a casa e ficar sozinho naquela mansão. Se existia algo pior do que ficar chapado, era se sentir sozinho num lugar tão grande.

Em algum momento enquanto descia da área da VIP, esbarrei em uma garota baixa que puxou o meu braço.

— Guy! Ei, se lembra de mim?

A garota tinha o mesmo cabelo loiro e lábios acentuados que toda californiana tinha. Era uma pergunta difícil, ainda mais quando o chão balançava debaixo dos meus pés.

— Ashley? — eu chutei.

— Maya. É a segunda vez que esquece meu nome! Já está indo?

— Já — respondi seco.

— Posso ir com você? Aquela noite foi incrível. Achei que poderíamos repetir.

Assenti. Não me lembrava dela. Mas não importava. Era melhor dormir acompanhando do que sozinho, mesmo que eu tivesse que preencher alguma fantasia ridícula dela de transar com um famoso.

Saímos juntos para a rua que não estava tão cheia agora. Apenas uma ou outra pessoa fumando ou pegando um táxi para ir para casa. Quando eu entrei no lugar, algumas horas antes, os paparazzi se empurravam para conseguir uma foto minha.

Talvez eles tivessem ficados cansados de esperar algum acontecimento extraordinário para fotografar e vender a alguma revista de merda.

— Guy? Guy Carver, é você? — Ouvi um cara me chamar a poucos metros de distância.

Eu me virei apenas o suficiente para ver um clarão ser disparado logo em seguida. Instintivamente, cobri meus olhos.

Sempre me esqueço da primeira regra de Hollywood — fotógrafos e jornalistas nunca dormem.

— PESSOAL, É O GUY CARVER! — ele gritou, provavelmente para seus colegas.

— Porra — murmurei — Chame um Uber — disse para Ashley, Tiffany ou Maya. O que quer que fosse.

— Eu estou tentando — avisou ela, enquanto éramos atingidos por mais flashes — Não se preocupe. Você sempre sai bonito nas fotos.

Essa era a última das minhas preocupações no momento. Eu não deveria ser visto saindo de uma festa tão bêbado enquanto estivesse gravando o seriado de Stacker, não deveria nem mesmo ser visto em qualquer lugar que não fosse o set.

Stacker odiava atores polêmicos e eu infelizmente estava no Top 3 de atores mais polêmicos de Hollywood.

Foi muito difícil fazê-lo me aceitar na produção. Mesmo depois da minha ótima performance como Dirch nas audições, o diretor demorou para oferecer um contrato e eu não podia perdê-lo agora.

Thatcher mandaria cortar o meu pescoço se isso acontecesse. E, nesse momento, eu já não estava muito bem aos olhos do meu assessor.

— Guy! Olhe aqui!

— Onde está a merda desse carro!? — perguntei para a garota, a minha voz subiu dois tons acima do normal.

— Já está vindo!

— Guy! A polêmica com Jeremy Carver é verdadeira? Esse é o motivo pelo qual você passou três anos fora da Inglaterra? — Um dos fotógrafos perguntou, chegando perto demais até mesmo para um fotógrafo.

Senti o calor subir pelas minhas veias.

— Maya, o carro! — exclamei, virando a cabeça de um lado para o outro, tentando espantar aquela praga e ao mesmo tempo fazer o maldito carro vir mais rápido com a força do pensamento.

Meu punho já estava rígido ao lado do corpo e eu senti aquela energia inquietante invadir o meu corpo.

— Por que não responde, Carver!?

Droga.

Droga.

Estava começando. Aquela sensação de novo.

Meu peito começou a acelerar, o sangue pulsou em minha cabeça, fazendo tudo em volta girar por alguns segundos. Tentei prender a respiração. Tentei segurar aquilo dentro de mim. Não perca o controle, Carver. Não perca a porra do controle, Carver!

— Você não está me ouvindo?! — Eu senti um puxão no meu braço.

No momento seguinte, ouvi o grito de Maya quando o fotógrafo veio ao chão com um soco.

Um soco meu.

— Meu Deus, você enlouqueceu!? — Não sei quem havia dito isso. Eu já estava recuando da cena, tão assustado quando o idiota aos meus pés..

— Vá para o inferno — murmurei.

O fotógrafo se remexeu no chão.

As pessoas próximas ou saíram correndo assustadas ou tentaram ajudá-lo.

Porra.

Não deveria ter perdido o controle. Eu repetia isso milhares de vezes enquanto assistia o sangue escorrer do nariz do idiota. No entanto, meu corpo me dizia ao contrário. Eu encarei a cena com um alívio no peito como se aquilo fosse exatamente o que eu precisava para aquela noite.

— Você está ferrado, Guy. Eu vou te ferrar, seu babaca! — o fotógrafo respondeu, porém eu já estava longe, entrando em um táxi que provavelmente pertencia a outra pessoa.

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