QUARENTA E DOIS

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GUY

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GUY

Não sei explicar como se passaram os últimos quatro dias e se foram realmente quatro dias, porque eu perdi a noção de tempo.

Tomei todo o mostruário de bebidas na sala de estar, dei uma festa, até mesmo tentei ficar com Maya outra vez, mas senti que estava traindo Daisy e chorei até espantar Maya do quarto. Tentei me afundar naquilo como fiz em todas as outras vezes, só que agora não deu certo.

Porque Daisy me mostrou que eu não precisava ser aquele cara solitário e arrogante, que fingia ter a vida perfeita, mas só estava mentindo para si mesmo. E, agora, que ela foi embora, não sabia mais o que fazer.

Estava afundado no sofá de couro. O couro grudava na minha pele. Lá fora fazia calor. Uma garrafa de vodca estava quebrada no tapete, e pratos sujos enchiam a mesa de centro, exceto em um canto isolado onde estava o notebook cinza cheio de adesivos.

Ontem à noite, eu quase bati em um cara que tentou apoiar uma garrafa em cima do notebook de Daisy. E, mesmo assim, não tive coragem de tirá-lo de onde ela deixou pela última vez. O único vestígio da sua presença na minha casa.

Olhei para a televisão. Uma versão melhor de mim mesmo estava na tela, valsando com Brandi enquanto trocávamos sorrisos apaixonados.

Daisy provavelmente faria alguma piada sobre minhas calças na cena, ou ela fez em algum lugar distante daqui, em Oakland, para outra pessoa. Talvez seu irmão mais velho. Talvez seus pais. Talvez outro cara.

A porta na sala se abriu e não me dei o trabalho de virar o rosto. Devia ser Maya ou alguém do condomínio vindo reclamar da música alta de ontem à noite. Só que nenhum desses teria feito o som de preocupação com os lábios como esse fez.

— Eu já o peguei em situações muito comprometedoras, mas, juro, que essa foi a pior até então — Ouvi a voz de Thatcher no fundo. Eu ri sem vontade.

Não vi Thatcher desde aquela manhã em sua agência. Ele tirou férias de alguns dias para ir às Ilhas Malvinas com seu namorado. Ele nunca fez isso antes, então não liguei para ele pedindo ajuda depois que Daisy partiu.

— O que houve? — Era outra voz, mais aguda que a de Thatcher e com sotaque americano. Brandi surgiu na minha frente logo em seguida, sentando-se no sofá ao meu lado.

— Daisie foi embora — murmurei.

— Ah, merda — Senti ela e Thatcher trocarem um olhar por cima da minha cabeça — Sinto muito, querido — Brandi me abraçou e eu senti meus olhos lacrimejarem novamente. Seu cheiro era de algum perfume caro, não era doce e suave como o de Daisy, porém me apoiei nela da mesma forma.

— Não imaginei que gostasse tanto dela — Thatcher se sentou na poltrona ao lado.

— Nem eu — disse com a voz fraca, enquanto molhava a blusa de Brandi, que não pareceu se importar com isso.

— Você sumiu completamente depois do incidente com o carro — Thatcher disse, ajeitando os óculos no rosto.

— Precisamos discutir isso agora? — me desvencilhei dos braços de Brandi para encará-lo.

— Creio que tenho assuntos piores do que esse para discutir — Thatcher cruzou as mãos e me encarou.

— Não acho que nada mais possa me afetar a essa altura.

— Você precisa voltar para a Inglaterra.

Certo. Claro que preciso. A entrevista de casamento estava marcada para o dia depois que Daisy deixou a mansão. Sem ter comparecido, não consegui garantir minha permanência nos Estados Unidos, o que era engraçado vendo de outro ponto de vista, já que tudo que aconteceu nesses últimos meses foi visando isso.

— Arrumarei as malas— sorri fraco. Thatcher assentiu — E, Nick?

— Sim, Fitz?

— Pode... — Respirei fundo — Encontrar um médico para mim lá?

A postura do meu assessor mudou. Ele sempre sugeriu que eu visse um médico antes, mas eu recusei todas as vezes, afinal estava bem, mesmo com um deslize aqui e ali.

A realidade é que eu nunca estive bem. Todos esses anos foram uma farsa, uma atuação, desde a morte de mamãe eu nunca estive bem... Precisou uma garota esquisita de Oakland aparecer para me mostrar isso.

— Claro, deixe comigo! Entrarei em contato com o melhor psicólogo do Reino Unido — Thatcher se levantou apressadamente em direção a cozinha, puxando o celular do bolso.

— Que bom que decidiu cuidar de você mesmo... Posso te passar também o contato do meu nutricionista! Ele irá te recomendar essas vitaminas que fazem maravilhas... — Brandi começou a falar. Ergui a mão para interrompê-la antes que ela me fizesse tomar um daqueles sucos nojentos.

— É apenas uma consulta no psicólogo, não vou começar uma dieta — disse — Será que você poderia me fazer um favor também?

— Só porque eu cancelei minha sessão no Spa para estar aqui não significa que eu irei te fazer favores — Brandi jogou os cabelos escuros para o lado — Ok, está bem, mas só porque você parece péssimo!

Abri um sorriso.

— O que tenho que fazer, Carver?

Casamento à Moda InglesaOnde histórias criam vida. Descubra agora