- Cap. 6 -

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Uma semana que Yoongi falou como parou aqui. Uma semana que estou aqui, no hospício. Hoje é sábado e como Yoongi disse, foi ver os amigos que vem o visitar. Pra não ficar entediada, resolvi ir até o jardim como de costume.

      Mas estranhei quando um médico começou a andar na minha direção com uma prancheta assim que fechei a porta do quarto.

- Você é a senhorita Lara?

- A-Ahm, sou sim, aconteceu algo?

- Vou ser o médico que cuidará do seu caso, senhorita. Acompanha-me, por favor.

      Olhei e o vi começar a caminhar, respirei fundo e comecei a andar atrás do homem. Notei que o consultório não era tão longe do meu quarto, só era um corredor e chegava na sala do médico.

      O médico abriu a porta do seu consultório e até estranhei que dentro da sala era uma mistura de amarelo, laranja e azul-claro, os móveis eram brancos com detalhes dourados e tinha três quadros com paisagens, uma era de praia, outra de um campo florido e por último um céu estrelado. Me senti confortável ali dentro, sentia paz.

- Bem, sempre gosto de fazer nas minhas consultas apresentações primeiro. - Diz se sentando na cadeira de madeira com estofado branco.

- Ué, mas os terapeutas e psicólogos não começam assim, geralmente? - Pergunto cruzando os braços e me sentando em outra cadeira na frente do homem.

- Na verdade, nem todos. Alguns só tem o diploma e cara de psicólogo, porém nem se importam com seus pacientes, e isso pode piorar o quadro do paciente e fazer que tenha pouco interesse em fazer tratamento por conta do "profissional".

- A-Ah!

      O psicólogo riu da minha vergonha e deixou sua prancheta em cima do seu colo, logo dando atenção pra mim com um sorriso gentil.

- O senhor deve ter visto que me chamo Kim Lara. - Nós dois rimos e ele concordou com a cabeça. - Bem, tenho dezessete anos, sou filha de um brasileiro com coreana, acabei nascendo aqui na Coreia, estava no último ano do médio até parar aqui... e não sei mais o que falar.

- Não tem problema! - Sorriu compreensível. - Me chamo Wang KaYee, ou como meus pacientes e meus colegas de trabalho me chamam, Wang Jackson. Nasci em Kowloon Tong, na China. Tenho quarenta e seis anos, fiz faculdade de psicologia em Pequim, doutorado aqui em Seul, e trabalho aqui desde meus vinte e sete anos.

      Abri minha boca em choque, porque... gente!? Eu chutaria fácil, fácil que ele tinha vinte e três anos. Rapaz conservado! O psicólogo riu do meu espanto e pegou sua prancheta novamente.

- Você tem algum sonho para seu futuro, senhorita?

- Hm... na verdade, não tenho não. Nunca parei para pensar no que gostaria de fazer. E o senhor?

- Pra falar a verdade, sempre gostei de psicologia. - Responde e sorrio. - Eu por exemplo, brincava com meu irmão e meus pais de médico e eu era sempre o psicólogo. Nunca fez alguma brincadeira com seus pais e você sempre era um profissional em específico?

      Parei para pensar sobre a pergunta. Realmente, nunca brinquei de fato de escolinha, médico ou aventura com meus pais. Porém...

- Brincadeiras em si, não, mas sempre gostei de tocar piano com meu pai. Vamos se dizer que eu era seu pupilo.

- Interessante. - Diz anotando isso. - Então, presumo que tenha mais intimidade com seu pai.

- Eu tinha, mas ele se foi quando tinha oito anos.

      Ele concorda com a cabeça e anota isso.

- Como era sua relação com sua mãe quando seu pai era vivo? - Pergunta tentando não soar indelicado. Achei fofo da parte dele.

O Garoto do HospícioOnde histórias criam vida. Descubra agora