44-Inofensiva

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Daisy

Enquanto atravessavam as ruas cheias de vendedores ambulantes, tipos que realmente eram assustadores, observava continuamente o semblante do conselheiro por debaixo do capuz. Seu súbito silêncio a incomodava, mas poderia apenas ser reflexo de estarem sendo escoltados por dois seres estranhos - também silenciosos. Queria perguntar por que parecera tão preocupado minutos antes no bar, mas seja lá o que fosse não achava que era importante o bastante nesse momento.

Apressou o passo tentando acompanhar a marcha rápida que estavam desenvolvendo. Desistiu de tentar entender a expressão carregada do macho e desviou a atenção para seu caminho. Talvez fosse interessante pegar alguns pontos de referência. Uma imensa barraca com variados tons de vermelho brilhantes em seu letreiro parecia realizar comércios de armas pesadas e outros equipamentos, uma grande loja que na verdade era um antigo cargueiro adaptado vendia peças de naves diversas- provavelmente daquelas que eram levadas até aquele ponto da galáxia. A nave possuía uma cor incomum, com diversos tons de verde e azuis.

Como no bar, o som ali era alto e incômodo o bastante para começar a sentir sua cabeça latejar novamente.

Penso que me acostumei com o silêncio de do Palácio, pensou.

Levou as mãos as têmporas e fechou os olhos um segundo desejando que falassem mais baixo. Subitamente o som do entorno diminuiu até se tornar apenas um murmúrio. Provavelmente já entravam em uma área mais silenciosa apesar de ainda com muitas pessoas.

- Está bem?

Eram as primeiras palavras de Makkal - suponho que ela já podia chamá-lo assim nesse momento - desde que saíram do bar. O som de sua voz era um contraste alto em relação ao som ambiente.

-Sim- sussurrou sem saber se os seres que os escoltavam podiam ouvi-los.

Ele fez um gesto de assentimento.

-Posso carregá-la se não estiver bem.

- Não estou cansada.

Ao contrário, se sentia energizada, não se lembrava de se sentir assim nessa vida. Poderia correr uma maratona nesse momento. O treinamento para diplomata tivera, lógico, muito de condicionamento físico, mas devia confessar ser seu ponto fraco. Poderia viver bem sem nunca olhar em direção de um aparelho de ginástica ou precisar correr em sua vida.

- Tome água.

O macho estendia mais uma garrafa de água em sua direção. Onde ele as guardava? O capote que usava devia ter centenas de compartimentos. Os seres não se preocuparam em revistá-los atrás de armas. Qual sentido faria? Eles seriam cooperativos enquanto suas irmãs estivessem sob suas mãos.

— Obrigada. Não quero repetir a experiência de ter que ir ao banheiro nesse lugar tão cedo.

Estremeceu ao lembrar do sanitário que tivera que usar no bar. E o fato do conselheiro ter que ficar de guarda no local a poucos passos dela, enquanto tentava se concentrar em realizar uma simples atividade fisiológica básica. Estremeceu.

Seus olhos foram capturados nesse momento pelo equipamento exposto em uma das barracas ao longe. Era uma TV, uma simples TV da Terra, mas isso significava que provavelmente atacaram uma nave deles? Mas não era isso que chamava sua atenção, era o fato dela mostrar imagens capturadas de um programa de notícias matinal. Estreitou os olhos tentando ler a legenda ou ouvir o que o programa dizia e subitamente o som se tornou claro o bastante para perceber que aparentemente eram notícias que ela desconhecia, notícias atuais o bastante para que ela fosse ignorante a respeito delas.

Abriu a boca e fechou pensando que não poderia expor seus pensamentos em voz alta nesse momento, talvez em nenhum. O conselheiro a observava atentamente agora e virou-se na direção de seus olhar inclinando a cabeça como se tentasse entender porque o equipamento chamava sua atenção.

Daisy e o Príncipe NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora