45- Serpentes e seus venenos

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Daisy

Pouco de sua modéstia sobrevivera ao treinamento na Terra, onde tinha que passar por exames médicos e físicos contantes. Ser despida e passar por uma revista era uma experiência um tanto traumática, ainda mais quando era realizada por seres desconhecidos de aparência amorfa. Os capuzes foram removidos, e ela só podia olhar com desconfiança seres que mais se assemelhavam ao que na Terra imaginava há anos atrás, pele branca reluzente, grandes olhos pretos, sem nariz ou orelhas e uma boca pequena em uma cabeça que era grande demais para o corpo esguio.

O processo de revista fora simples, livrá-la de suas roupas e usar um equipamento, possivelmente um detector para verificar se havia algum dispositivo de rastreamento em seu corpo. Nada sendo encontrado lhe jogaram uma espécie de uniforme de duas peças para vestir, suas roupas foram levadas para fora do quarto...e todas a possibilidade de usar uma das armas guardadas.

Enquanto os guardas realizavam os procedimentos demonstrara toda a reação que seria adequada para uma pessoa covarde e que temia por sua vida, chorara, implorara e por fim rogara para não matá-la. Ainda não sabia qual era o papel esperado a ela. Para todos os efeitos, fora sequestrada e trazida até ali pelo conselheiro, eles não podiam saber se estava de boa vontade ou não.

-Por favor não me machuquem - seu tom choroso e agudo fazia com que os guardas remugassem um com os outros em uma linguagem incompreensível.

A retirada do tradutor fora o momento mais vulnerável da revista. Era uma desvantagem não poder entender o que diziam, mas precisava se manter calma e analisar seu ambiente e seu inimigo Seria necessária apenas uma oportunidade para entrar em contato com seu príncipe-guerreiro-estrangeiro-no-momento-muito-raivoso.

Mesmo que tudo que desejasse naquele momento fosse ver se Rose estava bem, não pediu para vê-la. Não queria se mostrar mais essa vulnerabilidade. Não que eles já não fossem usá-la para chantageá-la e impor suas vontades, mas se mostrar ansiosa só os faria mais cruéis.

Sozinha no quarto olhou em torno de si, analisando o ambiente. Uma cama e paredes nuas, todos os dispositivos eletrônicos foram removidos, até o controle de temperatura do quarto fora retirado, o que fazia o ambiente ser extremamente frio naquele momento. Enrolou-se no tecido deixado sobre o colchão e foi até o aposento contíguo que servia como banheiro,placas cobriam onde antes eram dispositivos eletrônicos. Por quanto tempo esperavam que fosse mantida naquela quarto desse modo?

Não havia câmeras- o que transformava uma desvantagem em uma vantagem. Olhou para o teto onde a iluminação parecia fluir de todas as telas e imaginou de onde poderia estar chegando o oxigênio, quem sabe o equipamento servisse de alguma coisa. O segundo problema seria como alcançar o teto já que o único móvel do aposenta era a cama fixa.

Sua reflexão foi interrompida pela barulho da porta abrindo-se ao que se sentou na cama e abaixou a cabeça, a expressão triste e submissa de uma refém da circunstância.

O ser encapuzado falou algo em uma língua desconhecida que parecia estalos de estática de antigos rádios e esperou parado ao lado da porta. A intenção era obvia. Segui-o vagarosamente olhando atentamente para o caminho.

Esquerda. Esquerda, cinco guardas e uma porta que isolava o resto da nave de uma ampla cabine. Dentro dela o painel transparente dava uma visão do universo em torno deles, onde se via pontos luminosos e algumas naves em órbita em torno da estação. Aproximou-se instintivamente da cabine de controle, mas seu progresso foi interrompido por um dos guardas presentes.

- Realmente idênticas - a voz sibilante quebrou o silêncio da cabine.

Era o mesmo macho que atirara contra Makaa momentos antes. Usava um longo manto vermelho e dourado estranhamento luxuoso que o cobria seu corpo da cabeça aos pés e se arrastava no chão enquanto ele se deslocava em sua direção.

Daisy e o Príncipe NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora