43- Um bar

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Daisy

Abriu os olhos e piscou sem entender por alguns momentos a visão a sua frente. Onde estava Korus? O que tinha ocorrido? Desmaiara? Quanto tempo tinha se passado?

A nave estava mais lenta, desviando-se de toneladas de lixo espacial . Carcaças de grandes cargueiros abandonados passavam centímetros da fusilagem da nave que avançava com cuidado. Olhou para o lado onde o conselheiro parecia absorto nos comandos. Piscou uma, duas vezes.

-Porque esta dirigindo? Onde esta Korus? E as naves? O que aconteceu? Porque estou me sentindo estranha? - Ajeitou-se na cadeira e levou a mão a cabeça que parecia estar cheia de algodão. Até sua voz sooava distante.

- O piloto automático foi afetado pela passagem pelo portal. Estamos em outra galáxia. Fora dos limites. As naves se afastaram - ele disse olhando-a rapidamente antes de voltar atenção a frente - Você desmaiou, mas não se preocupe. Além de certa fraqueza e tremor não há nenhum efeito colateral permanente.

- O que era aquilo? O que fez comigo?

- Um aparelho que estimula...o centro da dor. Não é realmente dor real, ele apenas engana seu cérebro.

-Não lembro de sentir dor.

Sentiu que o Zaypor a olhava lateralmente.

-Você ...sua reação foi bem convincente. O bastante para que um dos machos ordenassem as naves recuassem.

-Não Korus - Estremeceu, realmente não se lembrava de sentir dor e sim...do rugido de puro ódio ressoar na cabine antes de tudo escurecer.

-Não, vamos dizer que ele não estava em sua sã consciência no momento.

Fechou os olhos.

-Deus, ele vai matá-lo.

-Sim, mas é honrado demais para declarar guerra contra meu planeta e destruí-lo. Pelo menos não terei esse peso na consciência. Não sei faria o mesmo em seu lugar.

Estendeu-lhe um corpo de um líquido brilhante que ela imediatamente pegou e bebeu sabendo que se sentiria melhor. O gosto e a refrescância foi reconfortante. Provavelmente originado do replicador da nave. Suspirou se sentido um pouco melhor e olhou novamente para a imensidão de lixo á sua frente.

— Conseguimos despistá-los?

— Nos seguiram a uma distância maior. Mas chegamos ao ponto de destino minutos depois. O portal foi projetado para apenas passarmos. — o conselheiro pareceu suspirar — Seja lá quem é nosso inimigo, é inteligente.

— Alguém foi ferido?

— Além do orgulho de seu macho? Não.

Piscou afastando as lágrimas. Do que adiantaria?

-Não é questão de orgulho.

O conselheiro suspirou e depois de um silêncio de alguns segundos virou-se para ela mais uma vez.

-Desculpe-me.

-Você fez o que devia fazer para nos trazer até aqui - endireitou o corpo e conferiu se todas as armas encontradas - e não  foram poucas - estavam ao alcance - Espero que tenha o mesmo empenho para nos tirar daqui.

Pegou uma particularmente pequena e colocou em um dos bolsos na esperança que  passasse desapercebida. Se o inimigo reagisse como as outras espécies que encontrara até então provavelmente a subestimaria o bastante para considerá-la inofensiva.

- Sim. Eu não a deixarei para trás.

Como confiar em um estranho que a sequestrara? A esperança que tudo daria certo ainda poderia ter, certo? Sempre fora uma otimista. Sua irmã precisava dela confiante e forte.

-Sabe pelo menos para onde estamos indo?

Ele fez um gesto como dedo peludo para o painel onde algo brilhava e pulsava.

- Parece uma estação ou uma grande nave. Estamos próximos. - Olhou-a rapidamente - Há alguns espaço em suas roupas para isso?

Estendeu a ela a arma que usara nela. Era menor que um caneta.

-Apertando aqui ela descarrega o estímulo de dor - mostrou rapidamente o dispositivo - Só funciona em organismos a base de carbono e com estrutura neural controlada centralmente. Cerca de 60% das espécies. Torcer para que, quem quer que seja "nosso amigo", seja a base de carbono, tenha um sistema nervoso central e terminações nervosas na pele .

Daisy escondeu a pequena caneta na dobra de sua roupa de baixo e levantou-se para testar se conseguia alcançá-la facilmente. Só esperava que não a disparasse acidentalmente e a desacordasse novamente.

-Eles esperam que sejamos submissos pelo fato de  ter nossos irmãs em poder. Poucas espécies são abnegadas o bastante para se sacrificarem pelos entes queridos. Eles conhecem sua espécie...como conhecem a minha.

Desviaram de um pedaço grande de uma nave espacial e ela estremeu ao ver uma cabine de crio congelamento aberta. Estava vazia, mas quem quer que estivesse ali provavelmente não teria sobrevivido.

-Não será necessário amarrá-la, mas manterei a mira da arma em você de qualquer modo. Você deve aparentar submissão e medo. Tente apenas não ser...você.

- O que quer dizer?!-estreitou os olhos.

- Não os desafie.

- Eu não desafio ninguém! - olhou sem entender onde ele queria chegar.

-Eles esperam uma fêmea fraca, submissa e medrosa.

- Bem, provavelmente sou mais fraca e estou com medo.

O Zaypor a olhou por alguns segundos fixamente.

- O quê?! - estreitou os olhos - Posso aparentar toda submissão possível. É a vida de minha irmã que está em jogo.

-E da minha. Apenas ...mantenha seus olhos baixos.

- Eu posso fazer isso.

- E não fale.

- Devo rastejar? - ironizou colocando as mãos na cintura.

O macho estremeceu.

- Talvez seja boa ideia amarrá-la e amordaçá-la.

Daisy corou e suspirou sentando-se novamente na cadeira.Respirou fundo e o encarou.

-Nã irei fazer nada que coloque nossas irmãs em risco. - falou devagar - Além do que, foi minha irmã que herdou o gênio ruim e a personalidade rebelde. Eu sempre fui a tímida e introvertida da família.

O conselheiro piscou e balançou a cabeça.

-Talvez se esperarmos um pouco eles a devolverão sem precisar de troca.

-Seu senso de humor é deturpado-arregalou os olhos quando viu um imenso cargueiro passando ao lado deles, marcas de ataques recentes em sua fuselagem e o que pareciam...corpos? Flutuavam lá dentro. A iluminação era fraca, mas...

-Não olhe. Ainda deve haver piratas lá .

Olhou para o ele confusa.

- Esta vendo aquela nave? - apontava para outra nave menor ainda ligada ao cargueiro- É uma nave pirata, provavelmente atacou o cargueiro e o trouxe para essa região para depená-lo. Costumam matar ou tomar a tripulação como escrava. Fora dos limites a escravidão ainda é uma realidade.

-Eles irão nos atacar?

-Espero que não. De qualquer modo é uma nave Thazan. Provavelmente irão fugir em vez de atacar . Mas vamos afastar deles por precaução.

E assim fizeram. Logo o espaço se tornou mais e mais aberto e uma grande estrutura metálica podia ser vista de longe. Era parcialmente iluminada , talvez uma estrela distante não visível a eles. A medida que se aproximavam notou a grande movimentação de naves entrando e saido do local. E quanto mais próximos chegavam mais decadente e ao mesmo tempo fervilhante parecia a estação. A única Estação Espacial que tinha como parâmetro era a de Thazan que lhe parecera limpa e organizada. Essa parecia simplesmente um amontoada de estruturas e só podia pensar em Caos. A velocidade da nave agora era ínfima enquanto se aproximavam, passaram por um portão que lentamente foi fechado atrás da nave.

-E agora?

- Vamos esperar autorização para prosseguir.

- Parecem bem movimentado para uma negociação secreta.

O conselheiro concordou e completou.

Daisy e o Príncipe NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora