Daisy e o Príncipe Negro

01- Não suficientemente atraente

 Daisy

Os habitantes da Terra eram felizmente ignorantes até dez anos atrás, quando famílias  tiveram sua programação noturna interrompida por uma espécime que parecia um cruzamento entre uma salamandra e um gorila vestindo um grotesco terno- posteriormente foi informado que o traje era uma maneira de amenizar o impacto do primeiro contato, o que não funcionou muito bem como podem imaginar- em um cenário ao fundo onde se via uma lua, e mais duas ao lado.

Mais tarde aquele fato seria chamado nos livros de história como o dia do Comunicado. A transmissão foi veiculada em todos os meios de comunicações de massa do planeta, inclusive cinemas, rádios, Facebook, Whatzapp e YouTube. Nenhum aplicativo ficou de fora. Pergunte a qualquer um o que estava fazendo naquele dia que ele lhe dirá com detalhes. Entre o choque inicial, a informação das agências dos governos  confirmando que aquela era realmente uma transmissão intergalática e a execução do plano de contingência  houve caos, motins, suicídios e mortes. Não foram meses calmos.

Você pensaria que o ser, uma raça que conhecemos hoje como Plethos,  declarara  que a terra seria invadida e que todos iriamos morrer ou algo semelhante.  Mas não, a espécime era pacífica e fazia parte do Conselho Intergaláctico da Zona 03, Seção 02, Parte IV (que hoje sabemos que nossa galáxia faz parte apesar de quase estar no limite para uma área pouco explorada) e fora escolhido para a tarefa do primeiro contato por ter uma aparência  inofensiva.  Eles tinham certa razão quanto aquele detalhe.  Não que um anfíbio gigante que abria e fechava a boca enquanto palavras robóticas  eram proferidas em diversos idiomas em torno do planeta  tivesse parecido inofensivo naquele momento, mas em comparação com os outros representantes que posteriormente seriam apresentados, os Plethos tinham uma aparência extremamente dócil.

 O Comunicado tinha sido breve. Algumas raças - pacíficas, frisaram - tinham descoberto a localização da Terra e estavam curiosos.  O Conselho nos mantivera em segredo por milhares de anos pela falta de potencial tecnólogo e armamentista  que valesse o esforço diplomático de contato, mas que o protocolo da União Intergaláctica favorecia aquele tipo de interação entre as espécies e eles não podiam mais nos proteger.

As espécies que pediam permissão de acesso ao planeta eram humanoides e tinham interesse em contato "social" com as fêmeas (cliché, pensara na época, pois era leitora voraz de ficção científica) os Plethos continuaram a explicar, a Terra poderia negar a permissão, mas um planeta recém "descoberto" despertava curiosidade e que não devíamos ser hostis com os vizinhos mais aventureiros.

Cássia Jones White, sua mãe, trabalhara anos como diplomata do governo e frisava aquela parte Do Comunicado quando comentava sobre o assunto, pois o aviso não tinha sido obedecido  a despeito na época, o que tinha trago alguns problemas diplomáticos entre a Terra e o Conselho Intergaláctico. Já superado, como os governantes gostavam de afirmar sempre que possível.

A  primeira espécie que entrou em contato com o objetivo de "socializar" foram os que atualmente eram chamados de  Papilion,  eram magros, altos, pálidos e se assemelhavam vagamente a borboletas, com seus olhos imensos e globulares e antenas sobre a cabeça apesar de não possuírem asas. O nome não parecia adequado e particularmente ela achava que as agências deviam parar para os biólogos a responsabilidade da nomear os alienígenas. 

Houve intensa reuniões entre os governos até  que os Papilions decidiram que o gênero feminino da nova espécie era complicado demais e  "não suficientemente atraente" apesar de compatibilidade ser testada como positiva para procriação. Os Papilion precisavam diversificar a genética de sua espécie pois  estavam tornando inférteis. Já havia um projeto no Conselho com a formação de um banco genético para ajudá-los e a Terra se tornou apenas uma alternativa no caso de todas as outras falhassem.  A população pareceu aliviada, mas tinha certeza que algumas autoridade governamentais estavam ansiosas para comercializar todo o potencial genético humano em troca de algumas vantagens armamentista.