41- A chegada

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Daisy

— Eles estão se posicionando — sua voz soou calma aos seus ouvidos enquanto observava os múltiplos pontos no radar se aproximando da nave em nova formação. Por dentro seu coração estava disparado e podia sentir a tensão em seus músculos. Não conseguia apagar da mente imagem da irmã desamparada no chão da cela e da sombra maligna - Não estão mais apenas nos seguindo á distância.

— O que sabe? As fêmeas também são guerreiras em seu planeta? — Makkan estava absorto no ponto que aparentemente era o destino deles e que rapidamente se aproximava.

— Sim e não. Apenas por escolha.

Quando ele a olhou rapidamente deu os ombros.

— Não sou uma guerreira. Assistir todos os 42 filmes da Saga Star Wars e as séries Jornada nas Estrelas. Parei depois de terminar a Nova Geração porquê... — calou-se ao vê-lo olhar para ela com o semblante no mínimo confuso - Desculpe, estou nervosa. É, também me olham assim na Terra, por isso tenho dificuldades de socialização.

-De qualquer modo fêmeas deviam ser doces e servis, assim podem atrair uma quantidade maior de machos para seleção...

-Quanta besteira você diz. Antes falasse apenas "Whuaaaaaaa" .

-Korus consegue entender o que você diz?

-Ah - desviou o olhar novamente para o painel-Ele usa o note e faz anotações. É muito atento aos costumes da Terra.

O conselheiro fez num gesto de entendimento.

-Deve valer à pena. No meu caso você não vale tanto esforço.

- Os homens parecem serem iguais não importa o planeta do universo.

— Machos.

-Que seja, mas de qualquer modo vocês não teriam nada de úlil para conversar com suas mulheres.

-Fêmeas. E não costumamos conversar. É um desperdício de tempo quando há tantas coisas mais agradáveis a serem feitas.

Estreitou os olhos diante do meio sorriso do macho ao seu lado.

-As fêmeas não ficam aborrecidas por receberem uma paulada na cabeça e serem arrastas pelos cabelos para as cavernas?

O conselheiro abriu um grande sorriso. Largo o bastante para que seus dentes brancos e pontiagudos relampejassem sob a luz artificial da cabine.

-Ah, bons tempos .

-Humph!

-Adorável. Já age como uma fêmea Thazan. Todas as fêmeas da Terra são assim...voláteis?

-Não, sou especialmente um exemplar doce.

— Imagino que deva ter outros benefícios que compensam sua personalidade.

-Sua espécie não consegue conversar sem uma conotação...- fez um gesto sem completar a frase.

-Sexual? Não. Somos uma raça essencialmente primitiva. Precisamos de comida, luta e sexo. É basicamente o que a maioria das espécies precisa. Sob todo aquele refinamento os Thazan são como nós. Ainda não percebeu?

Por saber que ele a provocava ignorou-o se concentrando nas naves que agora pareciam estar se aproximando lateralmente.

-Eles vão nos abordar - e não precisava ser uma especialista em tática de guerrilha para perceber a intenção.

Os olhos do macho se tornaram brilhantes. Um suspiro, um misto de resignação e tristeza nublaram sua fisionomia a pouco tempo provocativa. Seu olhar levantou e encontrou o dela.

-Perdoe-me.

Estremeceu.

- O que irá fazer?!

Tinha uma suspeita, que se concretizou quando ele pegou o um pequeno acessório de aparência inofensiva do cinto e lançou um olhar culpado em sua direção.

- O que isso faz? - apontou para o objeto.

-Talvez seja melhor não saber dos detalhes.

-Acho que logo conhecerei - seguiu-o com o olhar- Isso não irá me imobilizar, certo? Odeio ser imobilizada.

- Não é um imobilizador. E nem mortal. E se eles obedecerem, não saberá para que serve.

Obedecer? Ohou para as naves Thazan cada vez mais próximas e o comunicador começou a brilhar.

- Korus já sabe - disse por fim - Ele não me parece o tipo que faz acordos.

O conselheiro não disse nada, mas não pareceu surpreso.

-Ele não pode nos alcançar, mas provavelmente esta tentando contato.

Levantou-se novamente se posicionando atrás dela e a fazendo se sentir minúscula sentada a sua frente.

— Ligue a comunicação visual.

— Porque não explicamos a ele... — tentou, mas foi interrompida.

-Sim, vamos explicar a maior hierarquia de Thazan depois da Rainha, que preciso de sua fêmea vinculada para trocar pela minha irmã. Que a estou levando para um local desconhecido, que provavelmente é frequentado pelos piores infratores da galáxia, e com um plano de salvamento que tem ínfimas probabilidade de dar certo. Tenho certeza que Korus vai entender.

Silêncio.

- Ligue a comunicação, princesa.

Respirou fundo e estendeu a mão. Seus dedos tremiam quando tocou no painel autorizando a comunicação. Imediatamente a imagem de Korus ocupou a tela. Perguntou-se se seria a última vez que o veria. Usava o uniforme negro, com cada contorno do seu corpo em evidência. Era o preferido dela. Não usava o capacete e seu cabelo estava rigidamente trançado lateralmente. Mesmo sob toda tensão e preocupação que sentia deixou seu olhar vagar pela imagem do guerreiro. Nunca o vira tão frio e moral como naquele momento. E pode sentir, mesmo que não percebesse nenhuma mudança em sua expressão que ele a observou durante longos segundos antes de se dirigir ao macho atrás de si.

- Deixe-a ir.

Estremeceu na agressividade contida na simples ordem. Se alguma vez julgou que os Thazan não demonstravam muitas emoções usando aquele tom impessoal estava enganada. Porque, mesmo sem nenhuma entonação, Korus deixava bem claro seus sentimentos naquelas três palavras. Era inegável o poder contida nelas, a aura que o envolvia explicava porque os Thazan eram temidos, apesar de uma espécie atualmente civilizada. Lembrou-se da afirmação do conselheiro. Sim, aquele poder era primitivo.

Agarrou a lateral da cadeira com as mãos ao sentir o toque frio da arma em sua nuca. Não sabia o que esperar, mas estava preparada para algo que doeria. Viu o corpo de Korus se avolumar ligeiramente na tela e tentou se manter calma. Não tinha escolha e qualquer decisão errada afetaria para sempre a vida de Rose.

-Afaste as naves- a voz de Makkan era quase relaxada, um contraste com o tom do guerreiro, mas ambos falsos.

-Eles têm ordem de abordá-los. Sua vida será poupada se entregá-la, o Conselho decidirá sua punição. Não teremos a mesma complacência caso resista.

-Não vou entregá-la, Korus.

A voz de Makkan deixava claro sua posição.

-Será sua morte, conselheiro Makkan.

-Não só a minha, se suas naves se aproximarem mais.

Sentiu a arma se tornar quente sob sua pele, fazendo prender a respiração.

-Korus...- ouviu o grunhido de Makkan e sabia que ele a tentava precaver de falar algo. O que podia ser pior? Tinha certeza que ele não seria influenciado pelas palavras do conselheiro. E se o Zaypor a machucasse, acreditava que a reação não seria de recuo.

- Afaste as naves, por favor - pediu.

Queria ter a mesma capacidade dos machos de aparentar calma ou frieza, mas não tinha. Sua voz soou baixa e pouco firme. Respirou fundo determinada a se fazer entender.

-Eu estou indo com Makkan por livre e espontânea vontade.

Não era exatamente a verdade a momentos atrás, mas era agora. E ela sabia que ele podia identificar a verdade em sua voz. O viu piscar lentamente como se não soubesse como agir diante de seu pedido e sentiu-se mal em colocá-lo naquela posição.

- Não vai salvar sua irmã se sacrificando, Laha.

Seu tom de voz foi baixo e seus olhos brilhavam. E...Oh Deus, a chamara de Laha na frente de todos. Era tão doce...Foco, Daisy.

- Iremos conseguir. Iremos salvá-la e eu voltarei - sabia que estava fazendo promessas sem garantia.

- Não irei concordar e nem ser cúmplice de nada que a inclua como moeda de troca.

E pode sentir a verdade nas palavras dele. Sua determinação. Além do murmurio "Eu te disse", do conselheiro atrás dela.

- Sinto muito - disse tentando afastar as lágrimas de cair e fungou tentando ignorar a mão pesada do conselheiro que apertou seu ombro - Não posso ser responsável pela morte de Rose, é uma escolha minha...

- Você não tem uma escolha sua!

Seus olhos se arregalaram quando o tom de voz do Korus subitamente se elevou.

- Você não tem o direito de arriscar a si mesma!

Ele estava com raiva. Suas cores subitamente se tornaram púrpuras e brilhou na tela como nunca tinha visto até então. Ouviu o conselheiro arfar atrás de si. Subitamente a expressão gélida voltou, bem como sua cor negra. Seu tom de voz se tornou neutro quando simplesmente comunicou:

-As naves irão abordá-los...

-Sinto muito.

Ela mal pode ouvir a voz do conselheiro e o barulho insudercedor que tomou conta da cabine antes de perder a consciência.



Daisy e o Príncipe NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora