Cap 25

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Estér

Feriadão foi bom demais, mas infelizmente tenho que voltar pro meu trampo porque não nasci filhinha de papai né meus amigos.

Como de costume arrumei meus trem tudo, minha mochila, fiz minhas higienes e fiz aquele coque maneiro com os cachinhos soltos.

Nunca tive problemas com auto-estima. Dona Roseli sempre me ensinou a me amar do jeito que eu sou, amar minha raça e ter orgulho dela. E eu tenho, muito.

Falar nisso, tenho que ir hoje lá ver ela. Saudade dela já. 

Cheguei no trampo e o viado já tava na loja. Certeza que a Marina tá por aqui.

- Dia viado - falei fazendo um toque com ele.

- Ai bixa que mão pesada. - falou chacoalhando a mão. O bichinho dramático. - Bom dia, grossa.

Revirei os olhos e dona Marina se aproximou.

- Olá Estér. Tudo bem? - falou dando um sorriso. Euem.

- Opa dona Marina. Tudo certo e com a senhora? - ela assentiu. - Aí bom que nós nos encontramos. Tem uma amiga aí precisando de um serviço e a gente tá precisando né? Só o Luiz pra ficar mostrando e atendendo clientes é muito pouco...

- Hm..Luiz me disse mesmo. Fala pra essa sua amiga passar aqui pra falar comigo amanhã às 10:00. Vou estar aqui porque chega mais encomenda.

Assenti e ela foi ajeitou mais algumas coisas e foi embora.

Almoçamos, fumei meu paiero e trabalhamos até as 18:00.

Mandei mensagem pra Julia avisando que não precisava vir porque eu ia passar na minha mãe. Fechei com o Luiz e partimos.

Chegamos lá e já senti o cheiro da comida mais gostosa do mundo.

- Oi mãe. - falei chamando sua atenção dela que estava na cozinha e ela abriu um sorrisão quando me viu. -

- Minha filha. Que saudades que eu tava minha menina. - veio me dando um abraço apertado. - Cê tá linda com seu cabelo natural. - sorri apertando mais ela. Eu amo muito ela, a única que me ajudou quando eu precisei mais.

- Também tava com saudade, dona Roseli. Como é que a senhora tá? - falei indo pegar um copo pra beber água.

- Tô bem minha filha.. Me chama de mãe, eu fico mais feliz. - ela disse cortando os trem lá.

- Tá bom, mãe. - ela sorriu mais ainda.

Ficamos conversando mais um pouquinho lá e ela tocou no assunto da Evânia Luiza, vulgo minha mãe.

- Falei com ela e com as crianças no ano novo. - falei sem dar muita importância.

- Você sabe que sua mãe sofreu muito né filha? - assenti. - Cê deveria ir mais atrás dela..Tentar manter uma relação melhor e não isso de conversar uma vez na vida e outra na morte.

- Dona... - ela me olhou repreendendo - Mãe. - corrigi. - Se ela tá feliz agora, eu fico feliz por ela. Mas capaz memo que eu vou atrás. Sou orgulhosa demais pra isso. Porra.. Desculpa. Quando eu precisei dela, ela foi embora com o marido uai, ela nunca ligava pra mim, mãe. Eu sei que ela sofreu e os caralho tudo. Mas e eu? Eu só tinha 10 anos cara. Quando eu tava me descobrindo e cheia de dúvidas, eu tive que enfrentar sozinha. Eu tive que aprender ser adulta quando eu tinha apenas 15 anos, mãe. Ela quis se afastar e nem me perguntou se eu queria ir ou não. Se ela se importasse me levaria junto dela. - falei. Odiava quando dona Roseli chegava nesse assunto. Odiava falar disso com qualquer um.

- Desculpa minha nega. - falou vindo me abraçar e eu assenti suspirando fundo. - Desculpa..Eu não queria.

- Tá tudo bem..Só não fala mais sobre isso. - ela assentiu.

- É só que tem a Aninha e o João. - falou passando a mão pelos meus cabelos.

- Eu sei..Eu só tenho medo. Eu tenho medo de ela me culpar de tudo o que aconteceu. Acho que é isso que ela pensa, que se não tivesse eu, era menos aperto pra eles. - falei segurando as lágrimas. Segure até passar a vontade de chorar. Não gostava de nenhum jeito mostrar minha vulnerabilidade pra ninguém.

- Ei - segurou meu rosto. - Você não tem culpa de nada. A culpa é exclusivamente daquele verme. E só dele. Tira isso da sua cabeça e vai tomar um banho. Vou separar uma roupa da Karine pra você.

- Precisa não, mãe. Só passei pra te dar um beijo. - ela negou.

- De jeito maneira. Cê vai ficar aqui e vai dormir comigo. - sorri pra ela e ela me deu um beijo na testa.

Ela me deu uma toalha e eu fui tomar banho. Viado já se bicou pra casa do Jorge.

Tava terminando o banho quando a porta se abriu e a Karine entrou me secando de cima a baixo mordendo os lábios.

Peguei a toalha e me enrolei. Mina louca.

- Só vim trazer a roupa - falou ainda me olhando. - Precisa tampar não, já vi tudo gatinha. - revirei os olhos. - E que que isso em Teté. Chorei.

- Ó, cê vigia nas coisas que cê fala em. - falei e peguei a roupa da sua mão. - Antes era uma coisa agora é foda em. Deixa minha garota pensar nessas suas palhaçadas. - mostrei minha aliança e ela sorriu em deboche.

- Ops. Desculpa de verdade. Não sabia. É aquela Julia que teve aqui outro dia? - falou e eu assenti apontando pra fora com o dedo. Ela saiu mas resmungou. - Que sorte dessa desgraçada.

Dei risada dessa maluca e me sequei colocando a roupa da Karine.

Era uma blusinha que deixava minhas tetas com o farol daquele jeito. E um shortinho mole.

Fui estender a toalha e depois parti pro quarto da dona Roseli. Ela já me esperava deitada na cama assisitindo TV.

Me deitei do seu lado e ela começou a fazer um carinho em mim.

Falei das graças da Karine pra cima de mim e ela disse que ia conversar com ela.

Contei também da Julia e ela ficou muito feliz. Disse que eu tinha que deixar esse jeito meio shrek de lado e dar uma chance a mim mesma e é exatamente isso que eu tava fazendo.

Mandei mensagem pra Gisele falando do trampo e ela explodiu de felicidade.

Também mandei um boa noite pra minha garota e bloquiei o celular colocando pra despertar 7 horas. 

Fui adormecendo aos poucos com o carinho da dona Roseli.

O que eu procuravaOnde histórias criam vida. Descubra agora