Cap 38

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Um mês e meio depois...

Estér

22 de março eu morri mas passo bem. Mentira tô vivona e com meus 20 aninhos caralho.

Porra 20 anos com essa carinha aqui de bebê. É pra poucas.

Bom, que coisa louca que aconteceu comigo em puta merda. Dois tiros cara. Que isso.

Achei que eu ia morrer serião. Eu não lembro da Gisele e o Vitinho me ajudarem. Pra mim eu já tava morta né. Fiquei quase dois dias desacordada. E saí do hospital depois de duas semanas.

Fiquei malzona mesmo, papo de ter que andar de cadeira de rodas um mês porque não tava conseguindo andar muito não. Foi louco. 

Ainda sinto dores nos lugares dos furos. Nossa tem dia que dá umas fisgadas cabulosas.

Nem esperava não, filha da puta me pegou na covardia mas já tá dentro da vala se decompondo devagarinho.

Semana passada assim que melhorei e consegui andar sem aquela maldita cadeira colei no Santo Antônio com a Julia pra "agradecer" por terem cobrado a outra lá.

Mano Jotinha disse que o que eu precisasse podia ir atrás deles porque os mesmos sabiam da minha conduta aqui na cidade e ela ainda devia uma grana lá. Assim mataram ela porque ela ficou devendo droga e esse foi o resumo pros fofoqueiros.

Por isso que eu falo, tem que saber chegar. Onde você souber chegar você ganha respeito.

Aqui no meu bairro saiu cada conversa que pai do céu. Pra alguns eu tava devendo droga, pra outros a Julia era casada e veio fugida pra cá e o cara veio na cobrança. Olha as ideia do povo.

Mas enfim tô bem. Me recuperando ainda mas bem.

Minha mãe voltou pra casa dela, mas hoje vai vir pra cá. Vão fazer um churrasco pra mim lá na dona Roseli e eu é que não vou negar.

Tô merecendo. Esse tempo todo sem beber que isso.

Larissa ainda nem voltou pra casa da muié dela. As duas brigaram feião porque a minha pretinha não queria voltar pra lá enquanto eu não estivesse bem e a outra lá não curtiu muito, isso foi a gota d'água pq a Larissa disse que nunca ia ir contra os princípios da amizade dela comigo e se a Alice quisesse ia pra puta que pariu mas ela não ia me deixar.

Vê se pode um trem desse. Num dou conta não, amo demais não nego.

Luiz não me deixou em paz quase nenhum dia. Se não colasse aqui era pelo telefone. Cada hora uma fofoca lá do trampo, que aliás já está no meu aguardo terça-feira.

Mas a que mais ficou no meu pé foi a minha garota. Coitada foi a que mais ficou doida comigo e aturando meu mau humor nesse tempo.

Julia me dava remédio, me dava banho, fazia meu rango e me ajudava até nas necessidades e ainda trabalhava. Claro que com a Larissa ajudando. As duas foram e são minha base.

Graças ao pai esse momento passou, agora é tocar a vida como sempre foi.

Cabeça erguida e buscar evoluir sempre. (...)

- Vida o que você tá fazendo? - Julia chegou me abraçando por trás enquanto eu colhia meus camarãozinhos. Porra tão lindas minhas maconhas. - Jade tá cada vez mais linda. - esse é o nome que ela deu pra mais nova.

- Vamo queimar um agora? - outra coisa gente. Agora sempre que dá ela fuma comigo.

- Quero não pretinha. Depois vou ficar rindo lá na festa igual retardada.

Dei risada guardando meus bebês num potinho e já pegando um pequenininho pra dichavar e jogar na seda.

Sentei ali na pura calma fumando meu baseado e a Julia sentada na escada me olhando.

A gente foi trocando ideia até eu terminar ali e depois fomos esperar da a hora pra nós partir.

Eu chapadona rindo das ideias da Julia que nem tinha fumado e falava mais bobeira que eu.

Só troquei de roupa e a Julia já tava pronta.

Nós ia a pé mesmo pra eu caminhar um pouco.
Saudade do meu véinho aqui da frente. Até que enfim a sonsa da filha dele levou ele pra morar com ela. Agora tá alugado pra um cara tranquilão aqui e eu tenho certeza que dá umdois.

Fomos dando risada até a casa da dona Roseli e cumprimentando todo mundo, minha muié já conhece bastante gente aqui e o povo é apaixonado nela. Eu entendo isso, é impossível não ser. Mas essa Julia é maluca cara.

- Para de rir Estér, tá doendo. - falou passando a mão na bunda.

Malucona demais. Um negócio enorme cheio de pedra solta e ela passou onde? Exato. Em cima do trem.

- Caiu que nem bosta. - falei sentada no chão de tanto rir. Minha barriga tava até doendo. - Que que....- dei risada lembrando da cena. - Que que cê arurmou véi.

A mesma se sentou do meu lado com uma cara brava e eu não me aguentei, ri mais ainda.

- Foi mal Julia. É a maconha cara. Dá pra controlar não - falei puxando ela pra levantar limpei a bunda dela.

- Isso é sacanagem Estér. - falou pulando nas minhas costas. Senti uma leve dorzinha do peito e gruni baixinho. - Ai meu Deus desculpa vida eu esqueci.

- Tá tudo bem Julia. Só foi um incomôdozinho só doidinha. -  dei a mão a ela voltando a caminhar e brincando com a sua aliança.

Eu sou muito sortuda em ter essa muié na minha vida.

Chegamos na casa do meu viado ouvindo aquele pagodinho gostosinho.

Joguei uma juliet no olho pra não pegar o flagrante e já era.

Entrei e vi uma par de gente. Só galera nossa mesmo e umas pessoas que eu não via há uma cota.

- Olha só quem resolveu aparecer minha gente. - dona Roseli falou chamando a atenção de todos e eu ri vendo a mesma vir até eu e a Julia rindo com os braços abertos com uma cerveja na mão. Levemente alterada.

Abracei a mesma e ela me apertou no seu abraço.

- Eu te desejo toda felicidade do mundo minha menina. Tenho muito orgulho da mulher forte que você se tornou. Conta comigo pra tudo, te amo demais filhota. - falou e eu sorri me soltando dela. - Amo vocês duas na verdade. - apertou eu e a Julia junto. - Cheiro de maconha Estér, nem pra passar um perfume vaca.

- Obrigada pelos parabéns viu. Te amo muitão nega véia.

Ela sorriu toda bobinha.

Perdi as contas de quantas pessoas véio na minha reta pra me desejar feliz aniversário puta merda.

O que eu procuravaOnde histórias criam vida. Descubra agora