some things you just can't speak about

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Quando era a hora de atirar? Ele pensava. Um homem perdido na Guerra, seu rifle já estava gasto e ele não aguentava mais usar dos seus dedos para tirar vidas como se fosse o Deus determinista que um dia jurou contrariar. Talvez essa fosse a vida de um poeta que foi se alistar em nome da honra, em nome da misericórdia. "Com você eu me sirvo, com você eu cairei" era seu lema para aguentar as noites mal dormidas e como elas passavam rápido por serem apenas 20 minutos de descanso.

- FOGO! - Seu chefe grita e o batalhão que formava uma trincheira na floresta da praia começa a disparar seus tiros e sentem os gritos dos alemães a distancia, o que significava vitória, mas o fogo passa a ser cruzado após esse anúncio e os alemães revidam os tiros por meio de seus barcos.

- AAAAH! - Ele grita, não para poder ter sua voz sendo audível no meio de todo aquele caos e barulhos de explosões, mas porque tinha tido seu braço acertado por uma das balas do inimigo e seu rifle caiu no chão assim que ele sentiu a dor do tiro - CAPITÃO! NÃO ESTOU AGUENTANDO AAARHH!

- ESTE AQUI AGORA É SEU RIFLE, FILHO - O homem diz desesperado tentando manter o seu foco no exército e ao mesmo tempo no soldado - VAMOS! É UMA FERIDA SUPERFICIAL, FOI SÓ NO OMBRO!

- AAAAAAHH - Ele grita de dor e pegando a arma nova que o soldado lhe dera, pois era tensão demais para ele se agachar e buscar por aquela arma que tinha caído.

Substituições imediatas em momentos caóticos, essa era sua vida desde que ele decidiu defender a França da invasão nazista, mas não poderia desistir agora, pois ele já tinha se recuperado, ignorando a dor profunda que a bala alojada em seu ombro causava e atirando contra os alemães que subiam pelas areias da praia agora. Eles se aproximavam.

- SEGUNDO BATALHÃO, FOGO! - O Capitão gritava e apontava na direção do grande exército que vinha dos mares pisando em território francês, já ultrapassavam a zona da areia onde a água do mar batia e voltava, pisando nos corpos daqueles que morreram pelas balas dos franceses na linha de defesa.

O exército nazista se aproximava, os barcos vinham e aparecendo como abelhas saindo de uma colmeia, ferozes e mais fortes, cobriam a vista do mar e o horizonte azul torna-se preto com bandeiras de suásticas vermelhas com enormes navios tomando a visão dos franceses. Eles não estavam mais em vantagem como no começo.

A luta foi ficando mais intensa e a virada do inimigo estava forte. Quando ele dá o tiro da última bala que sobrou em seu rifle, percebe que estava sem munição e olha ao redor procurando por mais. Ele não achava nenhuma armava vaga, mas a solução cruel para isso veio com seu parceiro ao lado levando um tiro no peito.

- SENHOR! SENHOR! - Ele gritava enquanto se abaixava para conferir o rapaz, o tiro havia sido no lado direito do peito, mas isso não impediu o seu coração de ir acelerando à níveis brutais. Quando o capitão aparece se agachando para ver, ele grita no meio das explosões - ACHO QUE ELE ESTÁ PERDENDO MUITO SANGUE, SENHOR, PRECISAMOS TIRÁ-LO DAQUI.

- SOLDADO, FAÇA SEU TRABALHO! - O Capitão grita e em seguida uma explosão de granada surge atrás dele, fazendo-o pegar a arma do homem que gemia no chão e entregando o revolver ensanguentado para o soldado que pediu por socorro - VÁ AGORA!

Mesmo no terror daquele momento, ele sabia que numa Guerra, tinham coisas que você não podia falar sobre. Como quando um soldado perde sua vida em nome do país e seus líderes nem sequer o viam como um homem a ser salvo, uma vida ainda que pudesse ser vivida, mas sim como número de cabeças.

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