there's only so far new money goes

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Tudo estava diferente agora. Olhando pro passado parecia que o seu castelo tinha desmoronado do dia para noite, ela já tinha parado de sentir a coceira de frio que o seu dedo anelar esquerdo a provocava ao não ter mais um círculo dourado nele. Andando pelas ruas da Pensilvânia, pôde ver como as estrelas desenhadas já tinham sumido, explodido há bilhões de anos luz atrás e seus brilhos não marcavam mais as cicatrizes daquela jovem garota que sonhava com a ideia de um amor romântico.

Essa era sua graça recém encontrada, descobrir que o apego era nada mais e nada menos que apenas egoísmo com nós mesmos, ficar preso com tanta forca a alguém a ponto de chegarmos a acreditar que só seremos preenchidos se estivermos com ele. Sentir amor genuíno por si mesma era se libertar tudo isso, e ela o fez.

Depois de ter saído do tribunal, voltou para a casa de Inez, sendo recebida naquele dia por um chá da tarde que a aqueceu do inverno que Scranton trazia no fim de dezembro. Trocava conversas com a melhor amiga, juntas, elas andavam pelas ruas e tomavam café em uma rua conhecida falando sobre o caso do divórcio. Ainda sem acreditar, Inez não aceitava como a sua melhor amiga pôde entregar o endereço da amante do ex-marido ao mesmo. "Não tenho mais nada a ver com ele e não preciso mais fingir ter" foi a única resposta que ela deu.

Os dias no Missouri foram bem piores. Em St. Louis, cidade onde ela nasceu, teve de organizar a papelada sobre o divórcio, uma delas era de tirar o sobrenome "Lancaster" de seus registros. Não demorou muito até ela virar polêmica na cidade, a jovem que nasceu de um casamento interracial e provavelmente a primeira a ter feito um divórcio interracial em nível escandaloso o suficiente para a cidade pensar que ela era uma usurpadora de bens e propriedades. Os sussurros pareciam gritos, em outra época doeria como se ela estivesse levado uma facada no meio de um tiroteio, mas agora estava tudo bem, eles podiam levar sua coroa pois ela estava prestes a construir seu novo castelo com todas as pedras que eles estavam jogando nela.

Já era janeiro, ela lidou com o inverno do Missouri sozinha, assim como passou a virada de ano sem ninguém para abraçar, estando em um hotel com champanhes lacrados sem terem sido abertos. Quando deu a primeira semana do ano de 1968, subiu no primeiro trem do horário da tarde, já tendo concluído os registros de seu divórcio de forma definitiva e absoluta. Depois das tempestades de neve que dominaram St. Louis, ela percebeu como da janela do trem agora estava tudo ensolarado, o sol que iluminava os fantasmas dos sussurros e rumores sobre ela e sua reputação de uma mulher negra divorciada, o que eram três adjetivos que juntos causavam espanto em conservadores.

– Veja só quem voltou ao Missouri. – Diz aparecendo de surpresa na viagem da socialite um senhor que ela conheceu quando seus pais viajaram para o Missouri com ela para a conclusão do casamento, o senhor MacGyver, ele estava olhando de cima a baixo a jovem que tirou sua atenção dos raios solares da janela do automóvel.

– Senhor MacGyver, quanto tempo! – Ela fala o cumprimentando no estilo clássico, estendendo sua mão e ele a segurando fazendo reverência. Ela não o via faziam tempos, mas se lembrava de como o senhor tinha costumes clássicos e sofisticados.

– Eu quem digo isto. – Ele fala se recuperando da reverência – Da última vez que vi a senhorita pela cidade estava se casando... Falando nisso, como vai o senhor Lancaster?

Tudo que menos precisava ouvir de alguém do seu passado era a memória de alguém que ela tentou tirar de seu futuro, que maldita pergunta. Mas ela respira fundo e apenas diz:

– Ele vai bem.

– Bom, onde ele está que não com sua dama?

– Os tempos mudaram senhor MacGyver – Ela fala sorrindo de lado e voltando a ver as árvores passando rapidamente pela janela do trem em movimento – As damas hoje em dia não precisam estar acompanhadas com cavalheiros e seus cavalos de Tróia.

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