O primeiro navio parte às sete da manhã daquele mês de janeiro de 1968. Os resquícios da tinta da caneta esferográfica levou um doce tempo para sair completamente da palma da sua mão, mas eventualmente o homem teve que anotar o endereço em um pedaço de papel guardado no fundo do bolso de sua calca jeans, endereço este que o guiava como uma bússola e o assombrava em sonhos. James que havia passado a virada do ano bebendo champagne direto da garrafa e mais tarde limpando todo aquele glitter do chão, havia decidido raspar seu cabelo castanho em ato de rebeldia e independência "uau, vejam só como eu sou um homem novo por que cortei o cabelo". Para qualquer pessoa isso seria patético e engraçado, mas não para James, ele sabia que ser cafona e incoeso fazia parte de seu ser. Ele não dava o privilégio da paz nem a si mesmo.
Chegando na proa do navio, James observa que a terra estava próxima quando viu as gaivotas sobrevoando o enorme céu azul-bebe e as nuvens cinzas anunciando uma tempestade junto com sua chegada. Ele sentia que estava correndo como a água do oceano que o levou para longe da américa, do tipo estrondoso e selvagem, que havia lavado sua inteligência e santificou sua alma em nome do seu dever como pai. Ele desembarca na Inglaterra atrás daquela que seria a mãe de sua criança, se ela quisesse ser feliz ele seria a surpresa dela, e até engoliria todas as tristezas passadas se fosse possível.
Sim, a esperança estava próxima pois atualmente isso vivia nele assim como o perigo dos pensamentos que tinha dentro ônibus a caminho da capital. Sua mente estava nublada pelos empecilhos que outrora havia encarado no seu casamento anterior e se perguntava se desta vez estava realmente livre deles. O sonho de reconstruir uma nova vida pacata ao lado da mulher sempre melhor descrita como um furacão era arriscado, mas ele aprendeu que o verdadeiro perigo morava dentro de si e seu jeito errático de ser. Era ele mesmo que sempre impedia de as coisas darem certo. Pensar nisso realmente o deixaria pior, mas ele nunca desistiria de tentar.
Usando o pequeno pedaço de papel com o endereço escrito às pressas, ele se guiava pelas ruas de Londres como se aquilo fosse seu mapa espiritual. Observava as placas, perguntava as pessoas e recebia certas risadas pelo seu sotaque norte-americano, detalhes que eram passados batidos quando ele descobria qual esquina virar ou qual rua seguir para chegar até o apartamento simples em Notting Hill.
Ele bate na porta algumas vezes e se pergunta "aliás, por que faço isso de chegar sem avisar? quero ganhar um tapa de boas vindas?", mas ainda assim continuava ali. Fugir das encrencas tornou-se falho para ele, mas não era nada comum tanta demora para atender a porta.
Depois de cinco minutos ali parado, um senhor passa do seu lado e diz euforicamente:
– Saia da minha propriedade agora, seu delinquente! – James se assusta, mas logo vê o quão inofensivo era o senhor de idade era e tenta se explicar:
– Desculpe senhor, acho que errei o endereço – Ele fala bufando decepcionado – Pensei que uma... amiga... morasse aqui.
– Oh macacos me mordam! – O senhor fala imediatamente depois que James termina sua fala. O idoso bate na testa em sinal de quem tinha se esquecido de algo, e de fato, tinha – Eu esqueço sempre que esse não é meu apartamento. Aquele rapaz vai ficar furioso se ver que esqueci de novo!
– Rapaz? – James repete as últimas palavras do senhor estranhando-as ao imaginar a quem elas se aplicavam.
– A mocinha de cabelos loiros – Bastou aquelas palavras para o pulmão de James respirar mais que a atmosfera pudesse aguentar, era um sinal de esperança extrema.
– Ela é minha amiga senhor! – James fala pondo as mãos no ombro do senhor de idade – Por favor, pode dizer onde ela está? Ela e o bebê?
– Não sei de que bebê está falando, meu rapaz – O senhor fala coçando a cabeça em sinal de que estava pensativo, James compreende que ele tinha alguma doença que comprometia sua saúde cerebral então entendia que ele não saberia de rumos e tão pouco detalhes, mas o pouco de informação que viesse já seria muito.
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folklore
RomanceUm conto que se torna folclore é passado adiante e sussurrado pelos cantos. Ás vezes, ele é cantado. E ás vezes, ele é reescrito, com outro olhar, por outras pessoas de outras épocas e outros lugares, mas sempre mantendo sua essência de ter suas his...