cutting me open, then healing me fine

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–Ele dizia "Venha comigo, princesa Jasmine, e eu te apresentarei o mundo com outros olhos. Nada tema, pois no meu tapete voador ninguém nos alcançará além das estrelas e das nuvens".

– E pra onde eles foram? Pra onde, mamãe?! – Pergunta a criança animada e tentando espiar o livro que sua mãe lia, mas a mulher fecha o livro e sorri com a empolgação da filha.

– Para vários lugares do Oriente, meu amor! – A mãe fala segurando a filha no seu colo e a girando alto como se ela voasse – Para o Egito! Ou para a China! Para a Índia!

– Eu e o James vamos pra Índia para sempre! – A menina fala abrindo os braços entrando na brincadeira que sua mãe fazia – E eu vou ser a Jasmine do Aladim dele!

– Ele é seu Aladim? – A mãe questiona levantando a sobrancelha e sorrindo das paixões da jovem – Ainda tem nove anos e já sabe quem é seu príncipe encantado, Betty? Seu pai não vai gostar nada de saber disso...

– Ele vai sim! – Betty cruzando os braços e fazendo bico – Ele é o príncipe perfeito!

– E por quê? – A mãe dela pergunta deixando a filha na cama – Deve dormir, minha filha, antes que eles venham te pegar.

– Eles quem? – Betty pergunta e olha para trás ao ouvir o som de sinos e murmúrios, mas eles ficam mais fortes e junto deles vem uma luz forte que faz a pequena criança... Acordar.

Adulta e bem consciente agora de que tudo foi um sonho, Betty levanta num pulo soltando um suspiro fundo. Ela não tinha sonhos faziam semanas desde que James passou a ir às consultas e tem dormido na sala para melhor convívio entre os dois. Era de se indagar, não só o porquê de ela ter sonhado, mas também qual o motivo.

Eram meia noite e cinquenta e dois quando ela decide ir à cozinha e preparar algo para comer. Causando barulhos com a xícara e bule de chá que ela havia pegado, James levanta e vai olhar o que a sua esposa fazia na cozinha, vendo a jovem dando pequenos goles numa xícara com chá seguido de um olhar reflexivo para um canto da cozinha aleatório que sua mente a faz se perder em devaneios. Olhar este agora que ela direciona ao homem na porta.

– Sem sono? – Ele pergunta encostando-se à entrada.

– Tive um sonho estranho – Betty fala sem esconder e dá um gole mais fundo na xícara como forma de tomar impulso para concluir algum pensamento – Não sei se você vai pra viagem de fim de ano, mas ainda vou pra Pensilvânia. Visitar minha mãe.

– Compensando a viagem de quando era meu pai você não teve tempo – James fala de forma ácida e dando com os ombros pra cima.

– Basta. – Betty fala se levantando e dando o último gole na xícara de chá, pondo-a na pia e saindo pro quarto de forma apressada deixando claro que não queria discutir com James.

– Ei, ei, ei! – James fala segurando-a pelo braço. Betty o encara pensando "É sério isso?" e ele entendendo o recado solta a esposa. A relação tem estado por um fio, não mais um que os interligava, mas um invisível que tornava tudo imprevisível de ambas as partes e comprometia todos aqueles sete anos de casamento.

– Eu não quero brigar, James – Betty fala com a voz rouca de sono – Sabe que pode voltar pro quarto quando quiser.

– Não fui eu quem quis as coisas assim, Betty.

– Mas é quem está deixando elas permanecerem como estão – A mulher fala deixando o silêncio dominar aquele corredor da entrada da cozinha, até que ela mesma o para – Apague a luz da cozinha, por favor. Tenha uma boa noite.

– Boa noite... – Seu marido responde vendo que a expressão de Betty não era mais a de antes de suas brigas de costume. Deixou de ser uma mulher apaixonada que assumia as culpas do que fez para fazer tudo logo voltar ao normal ou então uma jovem que se derramava em lágrimas as garantindo como moeda de troca pelo perdão de James. Ela não era mais nenhuma destas e não foi deixando de dormir com o esposo que ela percebeu isso, mas sim vendo que ele tinha o domínio de quem era pra poder dizer o que queria. Cabia a Betty agora saber em questão: Quem sou eu?

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