A viagem de fim de ano não foi uma das melhores que Betty já teve. Embora tenha sido bom por o papo em dia com seus antigos amigos de escola que reencontrou na Pensilvânia e seus pais terem a dado um dos melhores natais e réveillons daquele ano, ela sabia que faltava alguém com ela.
Betty não se apressou ao se despedir dos parentes. Era início de Janeiro e ela se perguntava o que James tem feito e como ele tem lidado com ela distante, inocentemente, na expectativa de que ele estaria como no verão de 1954, o ano em que começaram a namorar, e ele retornou de Los Angeles com mais saudades do que nunca e se apressou em pedir a mão dela em namoro. Ela nem sequer imaginava que os melhores verões são aqueles não se repetem, pelo menos, para ela aquele que se repetiu fora o seu pior.
Sua casa e Nova York pareciam diferentes, ambas expressavam um ambiente como o de um final de festa: A típica bagunça cotidiana, mas como se tivessem se divertido de forma inesquecível lá e sem ela para participar. Ignorando as energias de reclusão, Betty apressou-se em levar as malas para dentro de casa e seu sorriso tímido carregado ainda da sensação de nostalgia da Pensilvânia não foi nada comparado ao sorriso que encontrou no rosto de James que estava sentado no sofá rabiscando mais um de seus desenhos enquanto ouvindo o rádio da sala tocar Can't Take My Eyes off You de Frankie Villi.
I love you, baby and if it's quite all right
I need you, baby to warm the lonely nights
I love you, baby, trust in me when I say...
Oh, pretty baby, don't bring me down, I pray
Oh, pretty baby, now that I've found you, stay
Vendo que seu marido ainda não havia notado ainda sua chegada, ela aproveita e assiste um pouco a cena enquanto o rádio tocava os versos românticos. Ele reagiu a eles com um simples parar de rabiscar o papel e um sorriso que lentamente crescia enquanto seus olhos pareciam brilhar com alguma lembrança doce que os versos pareciam evocar.
– Feliz ano novo – Betty fala parada na entrada da sala segurando sua mala e sorrindo de lado, um tanto tímida, mas também feliz por ter visto o marido feliz. Ele ergue seu olhar do papel rapidamente, com uma expressão de surpresa.
– Feliz ano novo... – James fala se levantando do sofá e, mesmo que Betty não soubesse, o sentimento de culpa rapidamente pesando no rapaz junto com a trilha sonora de seu erro de fundo – Você quer ajuda?
Ele aponta para a mala de Betty e ela afirma com a cabeça em um sinal de que tinha mais para tirar no carro. James se levanta de forma rápida do sofá e desce as escadas para ir pegar e Betty repara que caiu algo do bolso de sua calça: uma pequena seringa vazia. Ela vai até o sofá onde James estava sentado e tirando o objeto de lá, e escondendo-os no bolso de seu cardigã assim que ouve os passos do marido subindo a escada com a última bagagem.
Os primeiros dias foram piores. Era como se Betty sentisse que o seu passado a perseguisse como ela perseguia James com seu olhar e buscava entender se ele não daria nenhum sinal de que sentiu a falta da esposa, muito pelo contrário, quando ele estava em casa ele passava o tempo desenhando girassóis, fazendo esboço de bocas, florestas e girassóis, ela notava. Ele andava muito mais inspirado do que costumava ser nos últimos anos. O diabo estava nos detalhes, ela sabia disso, era as pequenas coisas que mais andavam assombrando a mente de Betty como ele gostava de ligar o rádio todas as tarde enquanto trabalhava nas suas obras, músicas como Light My Fire do The Doors, Somethin' Stupid da Nacy Sinatra e Happy Together do The Turtles eram as musicas favoritas de James, ele sempre aumentava um pouco volume quando elas apareciam. Ele pensava que ela não notaria, mas Betty não só notava, como as analisava, não escapava de sua mente sagaz o fato de que todas as músicas eram românticas. Ela aprendeu as odiar cada uma delas bem rapidamente pois algo dizia que não era sobre ela que ele cantava, mas a que ela mais odiava era I Think We're Alone Now do Tommy James & the Shondells pois era essa que ele gostava de cantarolar no chuveiro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
folklore
RomanceUm conto que se torna folclore é passado adiante e sussurrado pelos cantos. Ás vezes, ele é cantado. E ás vezes, ele é reescrito, com outro olhar, por outras pessoas de outras épocas e outros lugares, mas sempre mantendo sua essência de ter suas his...