Dois meses depois.
Ao abrir os olhos novamente se livrando das memorias de um passado não muito distante, ela amaria poder dizer que aquela foi a única e primeira que cometeu esse tipo de erro, mas se ela dissesse tal coisa estaria mentindo. Não era só sobre o sexo, era sobre sentimentos também, James fazia ela sentir-se segura das coisas que nem ele mesmo percebia serem perigosas, em troca ela oferecia a ele prova de que pode existir uma conexão mais profunda daquela que ele tinha vivido nos últimos sete anos. Ela provou isso a ele naquela noite, e na seguinte, e na seguinte, e em todas as noites disponíveis até que a esposa de James voltou de viajem.
Foi nesse momento que as promessas começaram a surgir e a como em 1955 fingiu acreditar em cada uma delas. Foi assim que as desculpas para os amigos dela começaram: um "onde você estava?" era seguido de um "fiquei presa no trânsito, desculpa, tentei pegar a estrada mais curta". Foi assim que James começou a contar meias verdades para sua esposa: "por que tá com as bochechas coradas?", ela perguntava, "eu decidi sair para correr pela cidade hoje", ele respondia.
A mente apaixonada dizia para ambos que eles eram uma exceção à regra dos casos ilícitos: não era sobre mentir para si mesmos e para os outros ou trair e quebrar promessas, quando eles estavam juntos era somente sobre atração e gravidade, era sobre sexo fogo sem gentileza e a devoção depositados nos beijos demorados. Deve ser por isso que a sociedade sempre chama as mulheres que têm casos com homens casados de estúpidas e tolas por quê, por ele, ela se arruinaria um milhão de vezes apesar dos sinais de alerta.
Mas haviam momentos como esses, onde ela odiava os capuzes sobre a cabeça baixa, e mais que tudo: odiava o espelho trincado na sua frente, ela abre os olhos mas sem parar de debater com seus sentimentos verdadeiros por James, imaginando uma rebelião imaginária contra o desequilíbrio de poder que havia se instalado entre eles. Reprimindo a sensação que James estava usando disso para manipulá-la. Expressando sua frustração em forma de lagrimas silenciosas porque seu amante a fazia parecer uma idiota tola. Ela encara e estica a mão para pegar o perfume especial que ela deveria evitar usar em ocasiões como essas, para não deixar nenhum rastro para trás e assim não colocar em perigo a seu caso de amor tórrido com esse homem comprometido, mas ele amava o cheiro, e ela amava ser amada.
Secando as lágrimas com cuidado, ela retoca o rímel em seus olhos, e se levanta para pegar seu casaco. Ao sair de seu apartamento, ela caminha com o capuz sobre sua cabeça e com os olhos de amor cabisbaixo até o estacionamento onde eles haviam marcado de se encontrarem.
Enquanto esperava o carro dele chegar, ela pensa no abismo que não consegue se afastar, implorando que Deus tenha pena e que essa infidelidade não traga para ela o tipo desilusão da qual ela não possa se curar. Por que as emoções que ela vem experimentado com James são sentidas só por aqueles que se entregam a relacionamentos de forma real, mas obter essa emoção inevitavelmente não é moralmente certo. James chega e ela entra em seu carro, se certificando antes que ninguém estava por perto vendo. Os dois em rumo para o ateliê dele, ambos presos em um ciclo masoquista de vício um no outro.
Mais tarde a amante questiona James:
– Você se sente culpado?
– Por me apaixonar por uma mulher que eu não deveria? Sim... – Ele a olha em silêncio por um momento. – Mas não o suficiente para me fazer parar. – E a beija assim que a frase lhe escapa, como se ele não quisesse que ela o respondesse.
O coração de amante afunda, ela odeia que ele se sinta culpado, mas ela também se sente assim. Afinal, se tratava de um homem que jurou diante de Deus e toda sua família que seria fiel na felicidade e na tristeza, na saúde e na doença, que estava com os braços e pernas totalmente entrelaçados em uma outra mulher na antiga cama que costumava dividir com sua esposa, não havia muita justificativa para isso.
– Deixe-me desenhar você, exatamente como está agora, enrolada nesse lençol e vestindo minha camisa.
E ela deixa, ao terminar algumas horas depois de olhares famintos, ele entrega a pintura a ela, mas seus cabelos não estavam retratados pela cor escura que ela tinha adotado e sim com o loiro natural que ela queria tanto esconder.
– Meus cabelos são castanhos agora.
– Eu sei, mas a cor natural deles são encantadores e você fica linda com os cabelos de qualquer cor, eu aprendi a amar essa cor também, mas tudo que é natural acaba sendo incomparável.
– Só por isso?
– E porque me lembra do verão, do pôr do sol e de girassóis. E você sabe que eu adoro você na mesma intensidade que eu adoro tudo isso.
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folklore
RomanceUm conto que se torna folclore é passado adiante e sussurrado pelos cantos. Ás vezes, ele é cantado. E ás vezes, ele é reescrito, com outro olhar, por outras pessoas de outras épocas e outros lugares, mas sempre mantendo sua essência de ter suas his...