Scranton, Pensilvânia – Casa de Inez e William
Deitada na cama de hóspedes daquela linda e orgânica casa do casal de seus amigos, Betty permanecia acordada se perguntando como tudo poderia ter sumido de seu controle. Era como se a ficha estivesse caindo numa lentidão angustiante, ela nem mesmo podia explicar os sentimentos de desilusão que percorriam sua mente nas últimas 24 horas. Tudo que ela sabia fazer em relação a isso era transitar tais pensamentos entre quais as possíveis armas ela usaria para matar James e fazer um funeral tão digno quanto fez a despedida de seu casamento, mas também pensava nas passagens cujas haviam mandado a mulher de cabelos-loiros-tingidos-de-castanhos para o outro lado do oceano em troca da solidão e sofrimento eterno de James. Se ela tivesse que ser O Cara Mau agora, ela seria sem problema algum, pois estava fisicamente cansada de correr o mais rápido que conseguia sem chegar em lugar nenhum de qualquer forma.
– Ei – A chamando na porta do quarto aparece sua melhor amiga, Inez. Betty tinha saído de Nova York depois de ter embarcado a amante do cafajeste no avião para a Inglaterra e partiu para o único lugar que poderia ir em momento tão angustiante e solitário, para a casa de Inez em Scranton.
– Oi... – Betty fala olhando pra porta, finalmente parando de decorar os riscos que o teto tinha de tanto o encarar pensando em sua vida. Ela se senta na cama – Está sem sono também?
– Quase isso – Inez fala andando até a cama e Betty abre um espaço para a amiga sentar ali ao seu lado.
– Quer falar sobre isso? – Inez aponta de forma rápida e descontraída para a mão esquerda da amiga, que solta um suspiro e cobre a mão em um sinal de desconforto.
– Eu falei quando cheguei, briguei com James. Foi só isso.
Embora Betty tivesse chegado à casa de Inez numa forma inesperada procurando por refúgio e não tenha contado em detalhes sobre a briga com James, Inez soube que não fui algo momentâneo. Além de ótimo senso de audição para captar as novidades e fofocas, ela também tinha uma visão astuta, perceber que a mão esquerda de Betty não usava mais aquele anel de casamento cintilante. Era como se Betty tivesse deixado para trás seu brilho próprio junto daquela joia, foi assim que Inez soube que a briga qual sua amiga se referia tinha sido fatal.
– Ah, eu discordo – Inez responde fitando os olhos de Betty – Um casamento já começa errado quando vocês dois escolheram abafar "o casinho de verão" dele para debaixo do tapete. Imagino a quantidade de merda a mais que foi abafada ao longo dos anos com panos quentes... Estou desconfiando que os panos acabaram entrando em combustão espontânea.
– Não sei como começar a explicar... – Betty diz suspirando tentando conter uma lágrima. Inez entende que era necessário a amiga desabafar com alguém, ainda mais em um momento em que o que Betty mais fez foi levantar o nariz e fingir neutralidade ou firmeza sobre sua própria dor quando ela não tinha metade dessa força. Ela estava quebrada por dentro.
– Você não tem que explicar nada, amiga. – Inez fala com compreensão.
– É como se tudo tivesse desabado e agora eu estou entre as muralhas, Inez. James sequer pensou em ir atrás de mim, ele ficou lá parado... ele só... – Betty suspira soltando uma lágrima. Uns segundos de silêncio reinam no local, silêncio este que Inez usou para processar o sofrimento da amiga e Betty para encontrar palavras para descrever seus sentimentos.
– Lembra de quando eu estive na casa dele e decorei os nomes dos tios dele? Decorei os seus nomes, aniversários para quando pudesse mandar cartões e até seus endereços. Um ou outro eu tive de escrever no papel, mas quando ele veio na minha casa ele nem sequer lembrou o nome da minha prima favorita. Nada. Ele não sabia o nosso endereço se eu perguntasse.
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folklore
RomanceUm conto que se torna folclore é passado adiante e sussurrado pelos cantos. Ás vezes, ele é cantado. E ás vezes, ele é reescrito, com outro olhar, por outras pessoas de outras épocas e outros lugares, mas sempre mantendo sua essência de ter suas his...