– Ele sabe? – Betty pergunta da janela.
– Não, eu descobri faz apenas de uma semana – A psicóloga fala com sua voz baixa e com um suspiro profundo em sua pausa – Não sei se vou contar a ele, eu queria... eu não sei... não sei o que fazer – Ela diz e se levanta só para chamar a atenção de Betty – Por favor, se quiser pode me xingar, pode me bater, gritar, eu entendo, eu entendo demais...
– Você não sabe? – Betty pergunta incrédula se virando para encarar a terapeuta – Você não compreende o milagre que acabou de te acontecer? Você simplesmente não sabe o que fazer? – Betty sente vontade de rir, mas já havia tristeza demais em seu ser para isso. Ela desliza novamente a mão sobre a boca porque ela tem medo do que poderia acontecer se não o fizesse. Poderia vomitar ali mesmo se não lutasse contra o impulso, então apenas continua. – Você fala disso como se fosse um cachorro que você estivesse prestes a adotar enquanto eu tenho sonhado com isso nos últimos sete anos da minha vida. Algumas pessoas realmente não merecem os privilégios tem! Você nunca vai entender como é isso para mim... Ter o James me assegurava uma esperança de conseguir ser amada de forma sincera, mas eu não consigo mais dar a ele o que precisa, um filho, uma família. Constantemente me perguntando "eu sou o suficiente?" e ver que ele corre atrás de outros amores ainda assim me faz ver que não sou... É mais do que só agradar ele, minha família, ou qualquer sociedade que exija qualquer merda minha... É agradar a mim e como eu me vejo. Eu não me vejo sem ele, eu continuo e persisto pensando que vamos superar, mas também rezo para essa dor acabar.
– Eu sinto muito, eu... – A doutora fala respirando fundo e limpando uma lágrima que caía de seu rosto. Ela ainda não havia parado para pensar sobre essa gravidez da perspectiva de Betty. Ela não gosta de como esses pensamentos estão a se fazendo sentir: envergonhada.
– É estúpido ter esperanças, mas eu ainda tenho – Betty diz olhando nos olhos da doutora como se implicasse para ela obedecer ao seu próximo comando – Você não vai contar para ele. Por favor, por mim... Pela minha família... Não conte ao James sobre essa criança...
– Eu não sei se devo esconder algo assim dele.
– Por favor, eu banco o que você precisar – Betty fala – Tanto você quanto eu fomos vítimas dessa... Imaturidade de James, eu só... Quero dar mais uma chance a ele, preciso fazer ele mudar... Eu ainda o amo muito. Eu ainda tenho esperanças de dar um filho a ele eu mesma.
– Eu não estou em posição de fazer exigências, se eu aceitar sua proposta me prometa uma coisa – A doutora fala e Betty a fita com atenção – Não deixe que os retrocessos de James impeçam seus progressos. Você parece ser uma mulher fantástica quando não está agindo de forma tão obcecada por ele... merece muito mais do que imagina.
– Você aceita ou não? – Betty fala e a psicóloga acena positivamente com a cabeça. – Você tem que sumir, para longe desse país, não se preocupe em ter que se virar da forma que puder porque eu estou disposta a pagar por tudo, viajem, moradia, mas suma para sempre.
– Eu tenho um emprego, amigos, uma vida toda aqui nessa cidade...
– Você tem três dias para decidir, seu emprego, tudo vai ficar bem se você for embora, o Reino Unido sempre foi um país mais liberal sobre mulheres no mercado de trabalho e outros assuntos. O que não vai te faltar lá são oportunidades e pessoas novas para se conectar. Mas se você ficar não vai poder exercer sua vocação nunca mais de qualquer forma, e ele nunca vai te deixar em paz.
Antes de Betty se retirar da sala elas se encaram mais vez e percebem que aquilo aconteceu de uma forma que deveria acontecer: destrutiva, porém sincera. Onde ambas tiveram suas vidas unidas por um fio traçado por um jovem irresponsável de 17 anos, agora deviam lidar com suas próprias vidas e ter contato de uma com a outra deixou claro que, embora James fosse o que elas tinham em comum, ele não passava de apenas um detalhe, pois elas tinham muito mais a oferecer uma para outra do que uma rivalidade feminina.
Elas não podiam se odiar, pois para odiar alguém você antes precisaria amar essa pessoa, e elas nunca tiveram a oportunidade de se conhecerem em circunstâncias diferentes. A psicóloga observa Betty sair de sua sala e se pergunta se em um universo paralelo elas poderiam ser boas amigas. Infelizmente não nesse. Betty dirige de volta para casa envolvendo os seus demônios em uma linha invisível que cuja outra ponta ela sentiu ficar presa com a outra mulher, como um cordão umbilical tão entrelaçado como a lã que formava seu cardigã favorito. Cardigã esse que amortecia suas lágrimas e ajudava a enfrentar as estações.
Três dias depois
Betty começou a organizar uma mala na sala com algumas notas de dinheiro no bolso traseiro e comidas embaladas junto de lençóis dobrados. No bolso da frente da mala, ela colocou como um "sinal de paz" uma máquina fotográfica que ela comprou no centro na intenção de entreter a jovem psicóloga com fotos do Reino Unido. Enquanto arrumava as coisas, Betty percebe:
James tinha saído o dia inteiro e sua ausência em forma de fugas deixava Betty mais disponível para respirar. Uma despedida que doía toda vez que ele saia e voltava, assim como quando ele se despediu dela no verão de 1955 para voltar depois com motivos suficientes de ela querer quebrar seu coração com um machado de aço gélido. Mas, ironicamente, desta vez ela via como era engraçado a situação de estar preparando uma mala de presentes de viagem para seu bebê... Dois bebês, afinal, ela sabia muito bem que a mulher de jaleco branco tinha o apelido de Baby.
Quando o céu se encontrava em seu crepúsculo de cores rosa-roxa e azul, Betty dirigia em direção à casa da amante de James. Dirigiu pensando em todo o mal que ela havia causado, mas também em como ela foi extremamente compreensiva em finalmente aceitar sua proposta de se mudar para o reino unido, os pensamentos mal fizeram Betty se importar com a distância que dirigia enquanto cruzava as ruas do Central Park até chegar no bairro onde morava tal mulher, tornando a jornada um verdadeiro inferno, mas com o objetivo que seria um paraíso de enfim ter James. Pelo menos, era o que ela sonhava que teria.
Betty estaciona em frente da casa da psicóloga quando o sol estava se pondo. Mas antes de sair do carro, ela reconheceu o carro de James estacionado a poucos metros de onde ela estava. Era a mesma placa, ela reconhecia. Ele estava lá.
Antes de abrir a porta, ela olha a mala com presentes que carregava, algo em sua consciência, sua paranoia instintiva talvez, a fez pegar o pequeno aparelho fotográfico e, depois de segundos o encarando e pensando "Se eu peguei esta câmera é porque eu sei que algo vai acontecer", ela respira fundo e sai do carro. Ela segurava a câmera com as mãos trêmulas assim como suas pernas que tremiam ao se aproximar da porta, esta que se encontrava semiaberta. Deixando a sua curiosidade lhe dominar, Betty não consegue evitar se aproximar da porta devagar, sua audição fica mais aguçada que nunca, ela espiona pela brecha da porta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
folklore
RomanceUm conto que se torna folclore é passado adiante e sussurrado pelos cantos. Ás vezes, ele é cantado. E ás vezes, ele é reescrito, com outro olhar, por outras pessoas de outras épocas e outros lugares, mas sempre mantendo sua essência de ter suas his...