Foi em uma segunda feira aparentemente pacata que os dois acabaram invadindo pela a segunda vez a Beachwood Club e roubando a globo de espelhos que Baby gostava de chamar de sua. Na tarde seguinte era só o que se falava na região, que a famosa discoteca da cidade havia tido sua atração principal roubada, mas ninguém suspeitava de quem poderia se tratar os ladrões. A polícia até tinha interrogados alguns integrantes de gangues locais, mas nada. A jovem loira ria sempre que lia ou ouvia alguma especulação sobre o assunto – e no final de cada dia quando estava em seu quarto, ela olhava para a bola de espelhos e lembrava-se de James.
Quando estavam em público, James a levava em festas para dançar, mas como ele não gostava de multidões e não sabia dançar, ele ficava sentado em um canto da festa fumando um cigarro enquanto assistia vidrado a garota com quem andava trocando beijos dançar. Não dispensavam um passeio pelo parque de diversões sempre que podiam quando descobriram que a diversão ultrapassava os gritos que se tinha na montanha russa ou a comemoração em ganhar um ursinho nas tendas de "acerte o alvo", o conceito da diversão estava em estarem juntos e aquilo foi como sentir que todo o mundo fosse preto e branco enquanto eles gritavam cores. Cores que só eles conseguiam ver.
Gostavam de andar lado a lado enquanto observavam as crianças correrem livres pelo local, quando James percebia que ela estava com frio, ele tirava seu casaco jeans e envolvia nos ombros dela e ela o aceitava com um sorriso tímido no rosto. Trocavam singelos beijos em público enquanto dividiam um lanche qualquer, mas quando estavam na privacidade do carro do tio dela, os beijos se tornavam ardentes. Quando tocava alguma música ambiente James gostava de segurar a mãos dela enquanto ela rodopiava no ritmo da música. Quando ela ficava exausta de andar ou de ficar em pé, ele gostava de carregá-la em suas costas e segurando o peso do corpo dela e com os braços da mesma envolvidos em seu pescoço.
Ele gostava de dizer coisas para ela como "você é tão fofa que eu quero morder você inteira.", "se você não parar de ser tão gatinha, vou acabar te pedindo em namoro". Quando ele parecia distraído com algo, ela se perdia observando os pequenos detalhes que ela adorava: achava extremante sedutor os fios de cabelo que caiam na testa dele ou os movimentos que a mandíbula dele fazia ao mascar um chiclete. Apreciava as camisas surradas que ele usava, principalmente porque ele as usava com alguns botões abertos, e quando não tinha botões, as mangas eram rasgadas justamente para mostrar os braços dele.
Mas o que ela mais gostava era uma pequena tirinha de fotos em preto e branco que ela guardava consigo da vez que ela o tinha o convencido a entrar um uma cabine de fotos "é ponto fraco quando você faz essa carinha de filhote abandonado." As poses nas fotos eram diversas, uma delas eram os dois dando um selinho, outra era ele fazendo uma cara engraçada junto dela, outra ele tinha saído com os olhos fechados e ela sorrindo dele. Eram nesses momentos todos que ela corria o risco de se apaixonar por ele e eles eram constantes.
Ela gostaria de dizer que não estava se apegando cada vez mais ao garoto, mas se ela falasse estaria mentindo, a verdade é que ela se pegava muitas vezes contando as horas para rever James. Obviamente ela nunca havia falado sobre sentimentalismo com ele ou sobre sua virgindade, portanto tudo que ela deixava transparecer para ele era sua armadura de desprendimento, como se ela vivesse pelo momento sem se preocupar com o futuro. Porem a verdade era que, no fundo, ela pegava se preocupando se ele iria ligar para ela quando ele voltasse para a escola, mesmo que fosse só para saber como ela estava.
Quando ela estava no meio da pista de dança, ela brilhava intensamente, mas o que fazia dela tão brilhante era que ela estava quebrada em mil pedaços e quase ninguém a enxergava verdadeiramente. Para ela era engraçado pensar que toda vez que ela quebrava, ela servia de entretenimento para os conservadores e fofoqueiros daquela cidade. Com os holofotes virados em sua direção, ela brilhava refletindo as fendas e rachaduras em seu corpo e alma. E na maioria do tempo ela se sentia bem com isso, afinal, isso fazia parte do mito adolescente que criaram dela e ela tinha adotado essa versão de si mesma para os outros se entreterem, mas quando a noite chegava e os holofotes se apagavam, ela ainda continuava existindo em um pedestal, mas ninguém olhava para ela, ninguém se importava com os verdadeiros sentimentos dela. Inclusive James.
Ela se sentia na obrigação de ser versões diferentes dela mesma para cada ocasião ou para cada pessoa que ela cruzava, o que era exaustivo e solitário. Ser uma pessoa dúbia era complicado pois pessoas dúbias atraiam outras pessoas dúbias para si e nessa equação entrava a falta de transparência, a falta da verdadeira e completa entrega para o outro, era assim que ela se sentia sobre James. Era inevitável pensar em todas as versões dele que ele se recusava a mostrar para ela, o que ela representava para ele? Como ela era vista aos olhos dele? No final ela não podia contestar o fato que ele era só um garoto de dezessete anos curtindo um amor de verão em uma cidade que ele nunca criou verdadeiros laços e ela sabia no fundo que ela não seria nenhuma exceção.
Ela queria que ele entendesse que ela não era um sonho, ela era real, por isso ela se sentia disposta a ser a paixão tranquila durante as tardes e ser a sua adrenalina violenta durante a noite, agindo indiferente a todos os seus questionamentos e apenas para adiar o dia que ela sentia que o perderia. Era isso que garotas bonitas faziam.
Depois de tantos dias de espera, James se deita com a loira depois de terem chegado da praia na frente da casa do rapaz, um dia simples comparado aos outros, mas estava para se tornar o mais diferente e especial de todos que já tiveram nesse mês.
– Baby... – James sussurra seguido de um gemido durante o beijo que davam.
– Eu quero, James... – Ela fala mordendo seu lábio inferior e se afastando de James para encará-lo. Desde aquele beijo no Griffith era ela quem ditava as regras toda vez que estava com o rapaz, sempre falando suas vontades ou sentimentos. Sentindo que estava pronta, ela pergunta a James – E você?
– Se você quiser, eu quero. Muito. – James fala sorrindo de lado com um pouco de vergonha e tirando sua camisa, ele se ajeita para tirar a da jovem também. – Você tem certeza?
– Como nunca tive antes. – Ela responde respirando fundo e retirando seu sutiã de forma delicada, pronta para ter por uma última noite, ou melhor, aquele quem ela nunca teve. Não havia o que perder ao tentar, afinal, ele não lhe pertencia.
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folklore
RomanceUm conto que se torna folclore é passado adiante e sussurrado pelos cantos. Ás vezes, ele é cantado. E ás vezes, ele é reescrito, com outro olhar, por outras pessoas de outras épocas e outros lugares, mas sempre mantendo sua essência de ter suas his...