42°

950 44 86
                                    

Mal

Duas semanas depois...

Sonho on.

Abro os olhos e me deparo com uma sala nostálgica de um jeito ruim, a sala principal da minha casa na ilha. Após me recuperar do susto ao constatar esse fato obrigo meus pés a andar em direção a uns cochichos no andar de cima, em meu quarto.

Subo as escadas e sigo pelo corredor escuro, paro por uns segundos e abro a porta estranhando um pouco a decoração antiga que eu não me recordo de ter nesse cômodo tão presente em minhas lembranças de adolescente.

-... Então o amor é ruim, mamãe?.

Engulo em seco ao ver a cena em minha frente: Malévola sentada em minha cama enquanto penteia o cabelo de uma menininha de uns 3 anos, com uma dicção perfeita para a idade.

Eu. Mal Bertha.

- o amor é algo genuíno, meu bem. Algo bom, perfeito, que deixa a gente mais viva ao sentir esse sentimento tão quente - estremeço com o som calmo da voz dela - por isso você nunca deve sentir amor por alguém, Malissa. Você nunca deve amar uma pessoa.

- por que, mamãe?- sorrio encantada ainda admirando meu eu menor, brincando inocentemente com um boneca velha de pano.

- porque esse sentimento lhe destrói, como um câncer. Ele corroe tudo o que você tem de ruim por dentro, querida. Faz você cometer loucuras e desejar está com aquela pessoa para sempre...

- você me ama, mamãe?.

Prendo a respiração ao perceber que minha mãe parou de pentear os fios loiros da menina que se vira para encarar ela de forma inocente.

Fecho os olhos ao saber que o resultado dessa pergunta não vai ser algo bom. Não tenho recordações boas das vezes em que perguntei isso nos próximos anos.

- muito, meu bem. Mais do que um dia eu poderia imaginar amar alguém.

Abro os olhos com uma extrema lentidão e encaro extremamente chocada a cena a minha frente.

O que? Como assim ela não me bateu? Por que?.

- e isso é errado? Não é?- eu pequena volta a questionar com um sorrisinho no rosto pelo carinho que está recebendo de uma Malévola tão diferente da que me criou, ou pelo menos da que eu lembro.

- muito... - beija minha testa com uma expressão quase indiferente, mas eu consigo ver um sentimento ali, o amor em seus olhos ainda é visível - e é por isso que a partir de hoje terei que tomar uma decisão, querida. Para o bem de nós duas.

Sinto meu coração se apertar com a angústia que brota em seu rosto ao dizer as palavras acima.

- qual?.

- deixar de te amar, Mal. Só assim você irá conseguir ser forte o suficiente para ir em frente e conseguir nossa liberdade.

Deixo uma lágrima escorregar pelo meu rosto e prendo meus lábios para não chorar copiosamente quando eu percebo que isso não é um sonho, mas sim uma lembrança.

- eu sinto muito, querida. Mas isso é necessário - diz por fim e se levanta tomando a boneca da mão da menina loirinha que ainda está sem entender o que tudo isso significa. Ter uma dicção perfeita e conseguir entender algumas coisas não é o suficiente para assimilar uma decisão tão importante e cruel como essa.

Mas eu consigo, e isso está me doendo de um jeito desumano nesse momento.

- não..- sussurro_ eu mesma, a Mal de 20 anos_ quando Malévola sai do quarto e tranca a porta me deixando para trás, já chorando pela ausência da mãe e da boneca, a única distração que tinha desde que nasci.

Herdeiras Perdidas (Descendentes)Onde histórias criam vida. Descubra agora