8 - Coração de leoa

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Marina chegou exausta do trabalho. Não tinha feito nenhum esforço real, mas a pressão psicológica, o medo de ser descoberta, e o fato de ter que ser forte o tempo inteiro a deixava destruída por dentro.

Teresa veio recebê-la. Marina perguntou por Lucas e ela sorriu apreensiva.

- Ele foi com a Lucinha até a cooperativa. Foi só pra avisar o pai dela que ela estava aqui.

Marina esfregou o rosto com as mãos e encarou Teresa com fúria.

- Como você foi deixar uma coisa dessas acontecer? Não quero meu filho naquela cooperativa! Não quero ele se misturando com aquela gente! Daqui a pouco eles inventam um apelido pra ele também.

Teresa se desculpou, mortificada de vergonha por ter dado mancada em seu primeiro dia de trabalho.

- Por favor, dona Marina! Me perdoa... estou tão acostumada com as crianças daqui... Mas não se preocupe, daqui a pouco ele está de volta. Aqui é um lugar tranquilo, e a muitos anos não temos notícia de nenhuma tragédia envolvendo crianças...

- Mas não quero arriscar que meu filho seja o primeiro! Nunca mais faça isso, Teresa! Lucas é um garoto caseiro, não sabe sobreviver sozinho no mundo.

***

Marina disparou feito louca pela praia. Tropeçando no caminho... coisas horríveis passavam pela sua cabeça, imaginando Lucas se afogando, ou sendo sequestrado... chegou à cooperativa, perguntando pelas crianças, mas ninguém sabia de nada.

Um garoto veio trazer o recado de que o pai da garotinha já tinha ido embora, e deixou o filho de Marina aos cuidados do marujo.

- E onde encontro esse tal marujo? - Marina estava desesperada.

- Calma dona! Pergunta pra secretaria da cooperativa. Ele deve ter passado um rádio pra ela.

Marina foi até o balcão e encontrou uma jovem um tanto vulgar, mascando chicletes e lixando as unhas. Angustiada, já foi logo perguntando.

- Aonde posso encontrar o marujo?

A moça lhe lançou um olhar negligente.

- Mais uma! Isso aqui não é agência de encontros não! Melhor tirar o cavalinho da chuva!!

- Que horror! - Marina exclamou repugnada - ele é seu namorado?

- Não! - A moça sorriu maliciosa - Mas é só questão de tempo e ele cai na minha.

Marina agarrou a moça pelo colarinho!

- Escuta aqui! Não estou interessada no seu macho! Só preciso saber onde ele está, porque ele está com meu filho!!

A moça agora estava morrendo de medo, e respondeu espantada.

- Mais adiante, no cais... num barco chamado Suzane. Talvez ele esteja desembarcado... na praia, em volta de uma fogueira.

***

Marina correu desesperada e logo avistou a fogueira, e Lucas, distraído, ouvindo atentamente o que dizia o tal marujo.

O homem lhe contava histórias, e Lucas estava tão absorto nelas que nem percebeu Marina chegando.

Marina ficou horrorizada quando viu o homem mais de perto. Era um sujeito horripilante, barbudo, com cabelos desgrenhados, e suas roupas não eram mais que andrajos.

Era o suficiente pra fazer qualquer criancinha ter pesadelos, mas Lucas estava fascinado por ele.

O marujo percebeu a aproximação de marina, mas fingiu que não viu e continuou a história. O sol já estava se pondo, e a fogueira lançava sombras sinistras por todos os lados, tornando aquele sujeito ainda mais assustador.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora