caleidoscópio 2 - a outra face.

47 - Se acertando com Santiago

Santiago ficou enciumado, quando soube que Felipe levou Marcos para navegar, sendo que ele mesmo nunca fora convidado, mas se conformou e sabia que nunca mais seria o pai de Felipe. Isso ficou claro quando Felipe se recusou a avisar que estava vivo.

Sabia que Marcos merecia esse papel, mas amava Felipe genuinamente, e veio ali justamente para conversar com Felipe e pedir seu perdão.

Marcos, com seu jeito espalhafatoso, foi logo dando os parabéns a Santiago pelo belo trabalho que fez. Santiago sorriu ansioso, temendo nunca mais recuperar o filho.

Felipe estava ressabiado, e Santiago pediu licença para falar a sós com ele. Felipe convidou Santiago para uma caminhada até a cooperativa, visto que tinha umas coisas para resolver por lá.

Os dois caminharam muito tempo em silencio, tantas coisas a serem ditas e ninguém sabia por onde começar. Foi Santiago quem deu o primeiro passo.

- E aí? Como ele é?

Felipe olhou surpreso, como se não entendesse de quem ele estava falando então Santiago emendou.

- O Marcos... Seu pai. Como ele é? Espero que seja do jeito que você imaginou.

Felipe suspirou e continuou com seu jeito sisudo.

- Ele é legal... Do jeito dele. É bem esquisito olhar pra ele e saber que daqui a alguns anos vou ter aquela aparência... Quer dizer, eu acho que ele é bonito, mas fora a aparência, nós não temos nada em comum. Ele é um cara fantástico, extrovertido, fanfarrão, uma pessoa carismática e que conquista todos desde o primeiro instante, mas pra mim ele é um completo estranho e não me sinto a vontade. Somos tão diferentes e me sinto forçado a gostar dele simplesmente porque temos o mesmo sangue. É esquisito...

Santiago estava encabulado por não saber o que dizer. Nunca foi bom em conversas com os filhos e deixava isso para sua falecida esposa, mas não podia ficar calado e comentou.

- Pelo menos agora você pode sentir menos culpa, o único remorso que vai ter que amargar é o de matar um bandido que não era nada seu.

Felipe suspirou e algo em sua expressão parecia ter se tornado mais brando.

- Não tenho remorsos por ter matado aquele homem... Na verdade me sinto bastante orgulhoso de ter posto fim numa existência tão miserável. Aquele desgraçado matou duas moças inocentes e sabem-se lá quantas outras ele mataria se eu não tivesse dado um fim nele.

Santiago chocou-se com as palavras frias de Felipe.

- Bem, vamos deixar esses assuntos tristes para outra ocasião, não vale a pena sofrer por coisas que já passaram. Eu vim pedir um favor... Sei que não mereço e nem sei como me atrevo a pedir isso depois de tudo o que fiz, mas eu queria que você esquecesse as pendências que existe entre nós... Sei que agora você encontrou seu pai de verdade e não tenho mais nada a fazer na sua vida, mas queria pedir que continuássemos a ser amigos... se assim você desejar.

Felipe disse com convicção.

- Marcos é um cara legal, mas para mim, ele é só um cara irresponsável que se aproveitou da humildade e da pobreza de uma garota. Ele largou um bebê inocente nas mãos de um marginal sem se importar, e sei que cada ser humano tem direito a dar suas cabeçadas e o compreendo, mas não posso esquecer que a garota de quem ele se aproveitou era minha mãe e a criança indefesa era eu. Por mais legal que ele seja, não consigo esquecer. Ser pai é muito mais que isso, e não vou fingir que todos esses anos não existiram... Não posso simplesmente recebê-lo de braços abertos.

Felipe fez uma pausa para se refazer das emoções e Santiago continuou silencioso, prestando atenção.

Assim como Marcos, Santiago deu sua cabeçada, e também estragou tudo quando destruiu o relacionamento de Felipe e Karen. Isso era algo que nem mesmo Santiago conseguia se perdoar. Felipe continuou seu desabafo.