37 - Duelo acirrado

11 2 3
                                    

A juíza passou a palavra ao advogado de acusação. O advogado disse que não tinha mais nada a acrescentar e a juíza dispensou a testemunha.

- Acho que ficou claro que o senhor Natanael não fez de propósito quanto ao fato das tatuagens e isso não é motivo para Karen perder a guarda do filho. Os senhores ainda têm mais alguma coisa a acrescentar?

Santiago não queria se dar por vencido. Depois de conversar com seus advogados, um deles levantou e disse a decisão à juíza.

- Meu cliente não retira o pedido 

Os advogados apresentaram à juíza o argumento de que Santiago era o único preparado para dar uma educação de excelência ao menino, e desenvolver nele, suas habilidades natas.

Fernando argumentou que Santiago não deveria interferir na criação do menino, já que foram essas mesmas circunstâncias que levaram Felipe ao suicidio.

Para embasar seus argumentos, a acusação chamou para depor, a assistente social que cuidou de Felipe antes de ser adotado.

Ela fez o juramento, e então o advogado começou.

– A senhora poderia nos dizer como foi a infância de Felipe antes de ser adotado por Santiago?

A mulher, com um ar bastante compenetrado começou a contar.

– Ele apanhou bastante desde a mais tenra infância. O pai era muito violento e o garoto acabou dando várias entradas no hospital por causa dos ferimentos que sofria.

– A senhora está acostumada a enfrentar casos como esse quase todos os dias... É possível que as agressões sofridas viessem afetar a criança, psicologicamente falando?

– Com certeza! – a mulher fez um ar de quem sabia o que estava falando – Um ótimo exemplo disso foi o desfecho dessa própria estória. Depois de ser brutalmente ferido e de ver a mãe morrendo nas mãos do pai, o menino pegou uma arma e disparou no homem, matando-o.

O advogado sorriu, e continuou.

– A senhora acha que isso poderia ter afetado Felipe no futuro se Santiago não colocasse ele no seminário?

– Pela experiência que tenho nessa área, é quase certo que sim. Não falo apenas pelas surras que ele sofria, mas pelo trauma de ter matado o próprio pai. A maioria dos maníacos, apresentam traumas semelhantes, muitas vezes até mais brandos. Pelo que já vi nesses anos de profissão, posso afirmar com quase certeza que Felipe teria se tornado um maníaco.

– Muito bem meritíssima; não temos mais nada a declarar. A testemunha é da defesa.

Fernando se aproximou da mulher e a examinou muito bem. Quando ela já estava desconcertada pela demora das perguntas, Fernando começou.

– A senhora afirmou categoricamente que toda criança vítima de abuso durante a infância acaba virando maníaco quando cresce, é isso?

A mulher ficou visivelmente desconcertada. Seria preconceituoso da parte dela fazer tal afirmação. Ela respondeu amedrontada.

– Bem, eu não afirmei que toda vítima se torna maníaco. Disse que na maioria dos casos...

– A senhora quer dizer que há exceções?

– É... É isso! Poucas, mas há exceções.

– A senhora afirmaria que Felipe matou o próprio pai num acesso de fúria?

– Não, de jeito nenhum! Ele ainda era muito garoto quando aconteceu isso e nem sabia direito o que estava fazendo. Foi legitima defesa, a própria policia chegou a essa decisão.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora