55 - Tábula rasa

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Aproveitando o castigo que lhe fora imposto, Felipe retornou ao litoral com Lucas, pois tinha muita coisa a resolver antes que Karen e Marina tivessem alta.

Felipe ligava todas as noites para saber noticias da filha, e Kelly sempre lhe dava detalhes animadores. Disse que a menina receberia alta logo, e Felipe contou os minutos até que esse dia chegasse.

Agora toda a família e os amigos também estavam na capital para visitar Karen.

Ela recebia a todos com um olhar amigável, mas não conseguia se lembrar de ninguém e não pronunciava nenhuma palavra, embora todos aqueles rostos lhe trouxessem uma sensação agradável.

Karen tentava recordar alguma coisa, mas sua memória era como um papel em branco e não conseguia nem sequer um vestígio de pensamento.

Lembrava-se apenas do momento em que acordou. Estava ouvindo ao longe aquela voz fina e se lembrava que a voz pertencia a alguém que ela amava, mas não sabia dizer quem era e nem porque o amava tanto.

Não entendia absolutamente nada do que falavam a ela, mas sabia que tinha que voltar. Tinha que reagir de algum jeito, pois era curiosa e precisava saber o que estava acontecendo.

Os médicos explicaram que ela tinha sido salva pelo milagre do amor, e que devia a vida aos seus filhos, mas Karen nem sabia dizer o que era um filho.

Karen só conseguia se lembrar de um rosto, e esse rosto lhe assaltava os sonhos todas as noites.

Ela se lembrava vagamente de ter visto aquele rosto no dia que despertou, mas não tinha certeza. Talvez fosse um anjo, pois de um jeito que ela não sabia explicar, não se lembrava de nada, apenas da existência dos anjos, e sobre isso ela sabia tudo.

Ela passara por uma experiência de quase-morte e esse era outro assunto que estava inteiro em sua cabeça.

O jargão médico também não lhe era estranho e entendia perfeitamente tudo o que os médicos falavam muito mais do que quando tentava entender as pessoas que lhe visitavam.

Certa vez ela explicou ao médico a facilidade que ela tinha em entender o que eles diziam; o médico se animou com mais esse progresso e resolveu contar que ela era enfermeira.

Karen estava num demorado processo de recuperação. Todos os dias fazia fisioterapia para recuperar os músculos que atrofiaram, e estava aprendendo a se cominicar com a cicatriz da traqueostomia. Mas sua vontade de viver surpreendia a todos.

O anjo não saia dos seus pensamentos

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O anjo não saia dos seus pensamentos. Certo dia resolveu dizer isso à Kelly, a moça boa e faladeira que sempre vinha lhe visitar.

Kelly sempre trazia noticias sobre a sua filhinha, e contava como a menina se recuperava, mas para Karen era indiferente; a única lembrança que tinha da filha era a de uma criaturinha minúscula e informe deitada sobre seu peito quando acordou.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora