9 - Sentimento que não quer calar.

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Marina tentou encerrar o assunto, mas Teresa perguntou curiosa.

– A senhora conheceu o marujo?

Marina sentiu um frio na barriga ao se lembrar daqueles braços poderosos envolvendo seu corpo e se odiou por tais pensamentos.

– Pois é, dona Teresa. Graças à sua brincadeira, tive esse desprazer.

– A senhora vai gostar dele quando o conhecer melhor.

– Já conheci o suficiente. Ele é rude, mal encarado e descabelado. Não tem mais o que conhecer.

Teresa sorriu animada.

– É só aparência. Na verdade ele é um sujeito fantástico! Ele que criou a cooperativa, e toca tudo por aqui com mão de ferro! Não permite que ninguém explore ninguém, e se aparece algum desocupado por aqui, ele trata logo de expulsar. Por isso todos adoram ele.

Marina sorriu irônica.

– Principalmente o público feminino! Não sei o que essas mulheres veem num sujeito tão esquisito. Parece até que ele tem mel!!

– Bem... na verdade ele tem um corpaço! – Teresa comentou tímida – E um par de olhos maravilhosos.

– Até você, Teresa?

Teresa sorriu com simplicidade.

– Tô velha, mas não tô cega, patroa!!

Marina sacudiu a cabeça, sorrindo e desacreditando da funcionária. Tinha que admitir que o carisma dele com as mulheres era impressionante. Teresa continuou falando dele.

– O marujo adora crianças. As mulheres da Vila sempre tem a esperança de fazer dele o pai de seus filhos, mas ele rejeita todas elas. Diz a lenda que a mulher dele matou o próprio filho e depois o abandonou. E depois disso, ele nunca mais quis saber de mulher nenhuma. Ele não é rude... só é sofrido.

Marina encarou Teresa e perguntou intrigada.

– Por que está me contando tudo isso?

Teresa olhou para o chão, encabulada, depois prosseguiu.

– Porque escutei a conversa do Lucas, patroa. Desculpa a intromissão... mas acho que ele tem razão. Você e o marujo formam um belo par, e quem sabe o destino não colocou você no caminho dele pra ele esquecer todo esse sofrimento? A senhora devia mesmo dar uma chance pro marujo!

– Era o que me faltava! – Marina levantou-se exasperada – Quando foi que entrei pra essa agência de encontros? Agora todo mundo quer me arrumar para aquele sujeito horroroso! Escuta aqui dona Teresa! Se eu quiser me casar de novo, o que não é o caso, eu vou arrumar um cara legal, educado e muito rico, está bem?

Teresa se desculpou assustada, percebendo que já tinha sido indiscreta.

– Me perdoa patroa! Não quis me intrometer... prometo que não vou mais tocar nesse assunto! Desculpa!!

Teresa deixou Marina sozinha com seus pensamentos. Marina retomou a leitura do livro, e um sorriso bobo se estampou em seu rosto.

***

Marina se recostou no sofá e começou a lembrar de uma tarde, no final dos anos noventa... ela e Felipe tomavam um sorvete juntos... ele lhe sorria, com aqueles olhos tão azuis quanto uma tarde de verão... A camiseta branca, com os dizeres Jesus te ama, esticada nos braços fortes e no peito largo...

De repente outra imagem lhe invadiu os pensamentos. O vento soprando forte, a camisa do marujo se moldando  naquela muralha de músculos... Marina estremeceu ao lembrar do toque naquele corpo... daqueles braços poderosos lhe envolvendo...

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora