11 - O passeio de barco.

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Marina não andava de barco desde o resgate na ilha, e o balanço do barco a fez passar mal. Encostou-se na amurada, e olhou para a água que corria ligeira, lembrando-se do dia que pulou do navio.

Sentiu-se tonta e vacilou, mas Natanael agiu rápido, envolvendo-a com seus braços. Marina encostou a cabeça naquele peito largo e se deixou ficar até que a tontura passasse.

Com uma expressão atordoada, Marina ergueu os olhos e admirou Natanael. Ela descobriu que ele era muito mais bonito do que ela tinha reparado antes... e todos tinham razão, os olhos dele eram da mesma cor dos de Lucas.

Seu olhar trazia marcas de grandes sofrimentos, mas apesar do olhar maduro, era também um olhar que transbordava uma pureza encantadora.

Seus fartos cabelos negros, sua barba crescida, e aqueles olhos azuis, faziam mesmo ele parecer com a imagem que faziam do Cristo.

Natanael temeu fraquejar diante daquela mulher... ela parecia tão frágil, mas ele sabia o quanto ela era forte, e mesmo sendo tão mágico ter Marina em seus braços... ele a levou para a sombra e a colocou sentada.

– Se sente melhor? Se quiser, tenho remédio de enjoo.

– Não se preocupe! – Marina falou encabulada – Foi apenas um mal estar. Já vai passar. Não se prenda por mim.

– Não estou preso! – Natanael sorriu cheio de si – Sou o capitão! Vou dar ordens ao meu imediato pra ficar no comando e já venho te fazer companhia. Ele vai adorar a oportunidade.

Natanael foi até a sua tripulação, dando algumas ordens, depois veio se sentar de frente com Marina. Lucas veio correndo e pulou sobre seu pescoço, de modo brincalhão, e começou a contar emocionado, o que estava aprendendo com o passeio.

De um jeito que ela não sabia explicar, Lucas e Natanael pareciam mesmo pai e filho, e vendo o filho tão descontraído, percebeu a falta que lhe fazia um pai.

Lucas pediu autorização para ir à cabine para ver como se pilotava o barco, e Marina autorizou. Lucas saiu correndo, saltitante, deixando Marina a sós com o marujo.

Natanael comentou admirado, enquanto observava Lucas correr.

– Que garoto incrível!!! É o garoto mais surpreendente que já conheci. Ele puxou mais à você ou ao pai?

Marina não queria falar disso com Natanael, e decidiu mudar de assunto.

– Não quero ser indelicada, mas outra hora eu falo disso... que tal falar um pouco de você... é casado?

– Não! – Respondeu de imediato – Sou totalmente livre! Mas por que pergunta?

– Ouvi muitas coisas sobre o senhor... entre elas que existiu uma senhora marujo por aí...

Natanael a encarou com surpresa. Sabia que muitas histórias circulavam sobre ele, mas não pensou que elas já tivessem chegado ao ouvido de Marina.

– E o que falaram de mim? Deixa eu ver se advinho: já fui casado, mas minha mulher matou e esquartejou nosso filho e o serviu no jantar!!

Marina fez uma expressão de choque.

– Não!! Minha nossa!!! Só soube que ela matou a criança, mas não me contaram os detalhes! Sinto muito!

Natanael sorriu incrédulo.

– Não se preocupe, nada disso é verdade. Esse pessoal é terrível! Quando você se recusa a falar do seu passado, eles inventam um pra você!

– Mas então, qual é a verdade? Você foi ou não casado? Isso é... se quiser me contar...

Ele fez uma pausa nostálgica, e Marina sentiu a angústia e a tristeza naqueles olhos.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora