caleidoscópio 2 - a outra face.

10 - Esculpidos em Carrara

Marina voltou pra casa depois de um exaustivo dia de trabalho. Não era o esforço físico, mas o psicológico que a deixava esgotada.

Fernando resolveu passar na casa de Marina para conhecer melhor o sobrinho. Fernando tinha um filho, por nome Luiz Henrique, poucos meses mais novo que Lucas, e achou uma ótima ideia apresentar os dois.

Lucas adorou conhecer o primo e o levou imediatamente para conhecer seus pequenos monstrinhos.

Marina estava surpresa de ver o filho de Fernando. Era uma cópia em miniatura do pai... o mesmo sorriso largo, os mesmos cabelos encaracolados, um pouco mais claros por causa da idade, e o mesmo jeito espontâneo de se expressar.

Sem conter a admiração, Marina comentou divertida.

- Os homens da família Santiago são mesmo uns egoístas. As mães se matam para gerar os filhos, e eles nascem a cara do pai.

Fernando sorriu abertamente.

- Mas não sou tão egoísta assim. Tenho outra filha, a pequena Beatriz, e ela é a cara da Victoria. Você vai adorar conhecer ela. Tem uma sagacidade fora do sério. E isso deixa a Victoria louca da vida. Tem a língua afiada igual a sua, foi a segunda pessoa a me vencer num duelo de palavras, e olha que ela nem tem seis anos ainda.

Luiz Henrique voltou com uma iguana no braço.

- Pai!! Olha o que o Lucas me deu!!! Posso ficar com ele?? Por favor papai...

Fernando viu a emoção nos olhos do filho ao manipular aquele divertido monstrinho. Os únicos bichos de estimação com o qual o filho já teve contato antes, eram os cães de raça da mãe dele.

- Mas você vai conseguir cuidar desse bichinho, filho?

Lucas se manifestou eufórico.

- Não se preocupe, tio!!! Eu ensino cuidar dele!! É fácil, ele vai aprender rapidinho, e se tiver alguma dúvida, é só me perguntar.

Fernando apanhou das mãos do filho, aquela criaturinha horripilante, e o analisou.

- Você sabe que esse bicho vai ficar imenso, né.

- A casa é grande! - Luiz Henrique foi rápido em argumentar - E o quintal maior ainda! Podemos fazer um recinto!

Fernando sorriu e não teve opção senão concordar.

- Está bem, vou deixar você levar ele, mas se enjoar, trarei de volta, está bem, Lucas?

Os dois meninos se abraçaram para comemorar.

Fernando estendeu um envelope para Lucas.

- Então, Lucas!!! Pronto para conhecer seu pai? Olha só o que eu trouxe!!

Lucas abriu o envelope e sorriu emocionado, ao ver que eram as fotos de seu pai. Fernando espalhou todas elas na mesinha de centro da sala e ia explicando cada uma delas.

Havia uma foto de Fernando e Felipe, na fazenda do avô. Na foto, eles estavam abraçados e sorriam em close up. Lucas encarou Luiz Henrique e comentou.

- Nossa!! Você é igualzinho o seu pai!

- E você parece o seu! - devolveu Luiz Henrique - Onde ele está agora?

Lucas respondeu sem constrangimento.

- Acho que está no céu. Quando eu nasci, ele já estava morto.

Os meninos mudaram de assunto sem maiores preocupações. Mas Marina sorriu triste, de saber que Lucas nunca saberia o quanto Felipe foi maravilhoso.

Lucas e Luiz Henrique olhavam encantados para as fotos da infância dos pais... depois de admirar as fotos do pai adulto, não demorou para as perguntas constrangedoras começar.