44 - A bonança

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Quando chegaram em casa, uma surpresa os aguardavam. Era o pai de Karen, que veio do nordeste com a esposa para visitar o neto e a filha, e saber como ela estava depois de tudo o que aconteceu.

Karen abraçou o pai, exclamando que sentiu muita saudade e ele retribuiu o abraço dizendo que tinha novidades, mas ia deixar Rosana explicar.

Karen correu para os braços aconchegantes da madrasta. Depois de se admirarem mutuamente, Rosana falou com um brilho de emoção nos olhos.

- Seu pai e eu decidimos voltar para São Paulo!

Karen estava surpresa, pois sabia do espírito altruísta da madrasta e não imaginava ela abrindo mão de todos os necessitados que ajudava para ir morar na cidade grande, mas então ela explicou emocionada.

- Seu pai comprou um hospital, e o mais importante é que será um hospital publico, para atender a população carente dessa região! Muitas crianças acabam morrendo de doenças bobas que poderiam ser facilmente tratadas. Seu pai me mostrou isso e me fez perceber que mesmo aqui, na cidade grande, existe um campo muito vasto para quem quer ajudar as pessoas!

Karen estava adorando a idéia de ter o pai por perto e a madrasta a quem sempre quis muito bem, e admirou a forma engenhosa e divertida que o pai achou para convencer Rosana.

***

Marina estava exausta, mas tinha muita coisa a resolver. Sem falar que a casa estava uma algazarra, com todos os amigos reunidos, contando as aventuras do que aconteceu; cada um querendo acrescentar os detalhes que lhe pareceram importantes.

Marina teve o maior trabalhão para ajudar Lucas a recolocar seus bichinhos no lugar.

Depois arrumou lugar para toda aquela gente se hospedar em sua casa: Sua avó, e a amiga, dona Gertrudes... seu pai e a madrasta... e Marcos Pascoal... Marina nunca tivera sua casa tão cheia.

Marina fez um grande jantar para comemorar a volta do filho.

***

Marcos era espirituoso e contava suas aventuras na cidade onde morava e da qual foi vereador por várias gestões.

Ele foi um rapaz rico, de família abastada, que se apaixonou e se casou com a primeira namorada.

- Judite era uma moça linda... A mais bonita da cidade, e também a mais cobiçada; mas foi por mim que ela se apaixonou, e quando aceitou meu pedido, me senti o homem mais sortudo da face da terra.

Ele contou que foi muito feliz ao lado da mulher, mas que a vida o tinha privado da possibilidade de ser pai devido a uma doença congênita de Judite.

- Os médicos descobriram que ela tinha uma atrofia nos órgãos reprodutores. Nem o melhor tratamento desse mundo poderia ajudar ela a ter um filho. Foi então que ela teve aquela idéia maluca.

Marcos contou que nunca se importou com a possibilidade de ser pai, mas que Judite começou a cultivar a idéia de que ele tinha que arrumar um herdeiro com uma barriga de aluguel. Ele relutou a principio, mas então ela o venceu pelo cansaço.

- Foi então que eu conheci Elisângela. Ela era uma versão mais sexi da minha Judite, e quando Judite tornou a insinuar que eu deveria arrumar um filho, não pensei duas vezes... Procurei a moça e contei a ela minha proposta.

Marcos contou como convenceu Elisângela a gerar um filho seu em troca de dar a ela uma vida melhor. Estava feliz com a semelhança entre Elisângela e sua esposa, pois quando ela cedesse a guarda do bebê à sua esposa, se o bebê nascesse parecido com a mãe ainda assim todos pensariam que ele era filho de Judite.

Todos estavam fascinados pela eloqüência com que o vereador falava. Seu timbre de voz era suave e tornava a narrativa empolgante.

Marina entendeu de onde vinha a eloquência de Felipe quando fazia seus sermões... os dois tinham exatamente o mesmo carisma... mas Felipe parecia um tanto aborrecido com aquela conversa em torno de suas origens.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora