Santiago despertou sentindo-se realizado, e apesar de saber que sua felicidade era passageira, estava aproveitando ao máximo o que a vida lhe oferecia.
Espreguiçou-se longamente, já pensando nas coisas maravilhosas que faria com o neto, quando sentiu uma coisa esguia deslizando por sua perna.
Petrificado de medo, constatou ao erguer as cobertas que se tratava de uma perigosa cobra-coral.
O grito de Santiago ecoou pela casa e os empregados subiram para saber o que estava acontecendo. Encontraram Santiago encolhido num canto da cama, enquanto no chão jazia o réptil com a espinha partida, dando os últimos estertores da morte.
Lucas abriu caminho para ver o que aconteceu, e quando viu a cobra no chão, caiu de joelhos ao lado dela, apanhando-a nos braços de modo paternal e lançou ao avô um olhar desesperado.
- Vovô! O senhor matou a Clarabela! Porque o senhor fez isso?
Santiago se refez do susto e esbravejou.
- O que sua mãe tinha na cabeça de te dar um bicho perigoso desses? E o que esse bicho fazia solto por aí? Aquilo era uma cobra coral! Ela poderia ter me matado sabia? É claro que não sabia; a irresponsável da sua mãe não perderia tempo explicando isso a você!
Lucas afagou o corpo da serpente, e encarou o avô com a expressão mais magoada que Santiago tivera o desprazer de conhecer.
- A Clarabela não era venenosa! Ela era uma oxyrhopus guibei e não uma micrurus frontalis, como você pensa. Minha mãe perderia tempo sim! Aliás, ela sempre teve tempo para conhecer todos os meus bichos. O senhor é que não dá à mínima pra eles!
Santiago estava surpreso pela petulância do menino. Mas ele era apenas uma criança e Santiago ia ensiná-lo a se manter em seu devido lugar.
- Não tente falar difícil comigo mocinho! Eu sei o que é uma serpente venenosa e um bicho desses não é um brinquedo adequado para crianças da sua idade. Mas não se preocupe, a partir de agora você vai ser tratado como uma criança normal.
Santiago achou que estava se explicando com essas palavras, mas elas provocaram uma reação ainda mais explosiva em Lucas.
- Agora o senhor me acha anormal? - Lucas estava furioso - Eu te odeio vovô! Eu te odeio por ter matado minha Clarabela e por me achar anormal! Eu quero a minha mãe de volta, e vou contar que o senhor matou minha Clarabela!
Lucas apanhou a serpente e disparou em direção ao jardim. Santiago quis se levantar, mas sentiu-se mal, e seus empregados o aconselharam a se deitar e esperar a zanga do menino passar.
***
Lucas encontrou um lugar isolado do jardim, e quando percebeu que estava longe das vistas de todos, deu vazão às lágrimas.
Clarabela finalmente parou de se mover. Lucas sabia que ela já estava morta, ainda assim começou a se despedir.
- Me perdoa Clarabela... eu tive que fazer isso. Você foi o mais valente dos meus bichinhos e eu nunca vou te esquecer. Vocês são importantes pra mim, mas minha mãe é mais, e se precisar sacrificar todos vocês, eu vou fazer isso! Por favor, Clarabela, me perdoe!!.
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caleidoscópio 2 - a outra face.
RomanceApós ter sua vida e seu relacionamento destruídos, Karen se transforma em Marina Rodrigues, e luta para manter em segurança seu pequeno milagre, fruto do relacionamento com o único homem que amou, e o único que lhe fora proibido pelo destino. Natana...