16 - Despedida definitiva da capital.

17 2 3
                                    

Enquanto tomava o chá, dona Gertrudes explicava divertida.

– Você não é a única que esteve por aqui perguntando por ela. Esses dias uns homens vieram atrás da mesma informação.

– Eu sei! – Marina explicou tranquila – são meus detetives.

Gertrudes não conteve a gargalhada.

– Pensei que era problema de dívidas, ou algo parecido. A essa hora eles devem estar percorrendo os cemitérios da cidade... disse a eles que ela morreu. Mas não se preocupe, ela está viva!

Marina sorriu aliviada, e dona Gertrudes contou tudo o que sabia.

– A vida de Quitéria sempre foi uma tragédia meio confusa. Quando ela se mudou pra cá, já estava sozinha no mundo. Ela sempre contava que teve duas filhas que foram mortas pelo enteado louco. Ela também contava que tinha um casal de netos, mas que eles foram levados pelo Conselho tutelar, pois acharam que ela não tinha condições de cuidar deles. Pelo visto, você é a neta!

Marina fez um sinal afirmativo com a cabeça, e dona Gertrudes prosseguiu.

– Quitéria sempre soube de você. De alguma maneira, ela sempre recebia notícias suas. Mas do outro neto, ela nunca mais soube nada.

Marina sorriu desconsolada.

– Ele foi adotado por um amigo da minha tia. Teve uma vida feliz e abastada, tornou-se padre... mas a dez anos ele veio a falecer. Mas a senhora disse que ela recebia notícias minhas... de quem?

– Era um homem alto, loiro, jovem... bem, na verdade ele já não é mais tão jovem, já deve passar dos cinquenta, mas era bem mais jovem que ela. Ele a sustentava, e a visitava, pelo menos uma vez por ano... ela nunca me contou quem era. Cheguei à pensar que era um amante, mas Quitéria não era disso. O mais provável é que fosse algum amigo das filhas dela.

Marina apanhou uma foto na bolsa e mostrou para dona Gertrudes e viu o rosto dela se iluminar.

– Por acaso era esse homem?

– Eu só o via de longe, mas parece ele sim. Sempre achei ele muito bonitão. Sua equipe está trabalhando muito bem!

Marina soltou várias imprecações, depois se desculpou.

– Perdão, Dona Gertrudes, mas foi mais forte que eu. Todo esse tempo ele poderia ter facilitado a minha vida!! Mas a senhora sabe onde posso encontrar minha avó?

Dona Gertrudes explicou.

– Ela morria de medo de falar dele... tinha medo que ele parasse de dar notícias suas. À alguns anos, a cabeça dela começou a falhar... então esse moço levou ela pra uma casa de repouso. Mas eu não sei onde é... só recebo cartas dela, e as cartas vem sem endereço. Eu sinto muito, mas acho que ela não quer ser encontrada.

Marina foi invadida por um turbilhão de emoções. Estava perto de encontrar a avó e descobrir tudo sobre seu passado, e já sabia onde procurar respostas.

– Não se preocupe, dona Gertrudes! Vou atrás do homem da foto e ele vai ter que me contar onde ela está. Muito obrigada! A senhora me ajudou bastante, serei eternamente grata!

Marina se levantou para sair e a senhora lhe deu as mãos.

– Posso te pedir um favor? Quando souber onde a Quitéria está,  você me avisa? Estou morrendo de saudades dela e preciso ver ela pelo menos uma vez mais.

– Pode contar com isso!! – Marina deu um grande abraço em dona Gertrudes – Eu te devo isso. A senhora não sabe, mas mudou completamente minha vida.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora