20 - Um retorno inacreditável

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Marina voltou pra casa muito indisposta. Há vários dias que seu estômago não estava legal, mas naquela manhã, em especial, tudo o que comia era expelido com um monte de bílis.

Kelly a acompanhou ao hospital, e o médico pediu vários exames.

- Não se preocupe, dona Marina. A senhora tem trabalhado demais, e sofrido muitas emoções esses dias. Com certeza se descuidou da alimentação. Deve ser apenas uma infecção estomacal... e talvez um pouco de anemia, por isso pedi exames de sangue.

Marina odiava tirar sangue, mas se esforçou para obedecer o médico. Depois de tomar um litro de soro intravenoso, o médico pediu que ela fosse almoçar e retornasse para apanhar o resultado logo mais à tarde.

Kelly sabia que a amiga odiava fígado, e se surpreendeu quando a viu chegar com um quilo da iguaria, pedindo que Teresa preparasse pra ela com bastante cebola.

- Desde ontem não para nada no meu estômago... espero que isso dê certo!

Kelly encarou Marina com surpresa!

- Amiga! Que novidade é essa agora? Você sempre odiou fígado!!

Marina não sabia explicar.

- Não sei... o médico falou que estou com anemia, daí bateu de repente uma vontade de comer essa coisa. Ouvi dizer que fígado é bom pra curar anemia. Além disso, é a única coisa que minha cabeça tem vontade de mandar pra dentro nesse momento.

Enquanto Teresa ia fritando, Marina ia comendo, e Kelly achou que a amiga só não gostava do prato porque nunca comeu antes, mas Marina sabia que tinha muito mais por trás daquilo.

Há alguns dias, Marina estava se sentindo mais sonolenta, e mais irritadiça do que o de costume, e poderia atribuir isso à anemia, se não fosse por seus seios estarem incomodamente doloridos.

***

Quando voltou ao hospital, para buscar o resultado dos exames, o médico a surpreendeu com uma pergunta.

- Gosta de crianças? dona Marina?!

- Sim, muito!! Tenho um filho de 9 anos.

- Hum, quer dizer que já tem um filho... Mas não é casada! Tem uma condição financeira estável?

- Tenho lá minhas economias... Mas por que essas perguntas?

O médico abriu um sorriso.

- Porque a senhora vai ser mamãe! Me desculpe, mas tomei a liberdade de pedir um exame de gravidez. É comum as mulheres se sentirem indisposta no início da gestação, mas isso é absolutamente normal. Meus parabéns!

Marina sentiu o chão sumir debaixo dos seus pés. Estava torcendo para suas suspeitas serem infundadas, mas agora era real, e não tinha como voltar atrás.

O que faria? O que diria a todos? Uma coisa era criar a possibilidade, outra, bem diferente, era aquele papel comprovando o fato. Como explicaria isso ao filho? Se bem que Lucas ia adorar a ideia.

E o que faria em relação a Natanael? Não queria, em hipótese alguma, colocá-lo em sua vida. Criaria esse bebê sem a presença do pai? Natanael permitiria isso? Marina estava aturdida, e o médico se constrangeu com sua reação.

- Me desculpa, mas pensei que a senhora pretendia estar grávida. Na sua idade, a maioria das mulheres estão planejando... não queria colocar você numa situação constrangedora. Me desculpe.

Marina sorriu forçada e se desculpou.

- Eu que peço perdão. Não estou chateada, só surpresa! Muito surpresa! Foi apenas um pequeno acidente, e não pensei que... bem, mas obrigada, doutor! Felizmente agora sei de onde vem o meu mal estar.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora