40 - Ansiedade

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Marina subiu para descansar e Felipe insistiu em levá-la para cima nos braços. Ela sentiu-se arrasada. A casa parecia tão sombria, sem a presença alegre de seu pequeno milagre e de todos os seus monstrinhos...

Marina se surpreendeu ao ver que Lucas realmente cumpriu a promessa de levar todos os bichos para a casa do avô. A ideia era divertida, mas tornava tudo ainda mais difícil, já que parecia definitivo.

Marina sentia-se sozinha. Era um vazio estranho e profundo, como se alguém tivesse arrancado dela um braço ou uma perna. Mas ela sabia exatamente o que era esse vazio; Era a falta que sentia da única coisa que tinha de importante na vida: seu pequeno milagre, Lucas!

Agora ela sabia exatamente o que sentia uma mãe que perdia o filho. Apesar da esperança de que Fernando resolvesse logo o caso, bem no fundo de si mesma ela sentia medo, pois ia ser difícil provar que ela e Felipe não eram irmãos.

Marina estava se sentindo a mais miserável de todos os mortais, quando de repente aconteceu uma coisa que mostrou pra ela que ela não estava inteiramente sozinha...

Primeiro foi apenas um pequeno tremor, quase imperceptível. Marina parou tudo o que estava fazendo e esperou para confirmar, mas não aconteceu mais nada.

Ela já achou que eram coisas de sua cabeça, mas quando Felipe falava com ela, houve outro pequeno tremor, e sua barriga começou a repuxar para um lado.

Marina começou a rir, enquanto seus olhos se encheram de lágrimas. Felipe queria saber o que era; então ela fez um gesto para que ele fizesse silêncio.

Ela apanhou a mão dele e colocou sobre a sua barriga, mas como se estivesse pressentindo, o bebê parou de se mover.

Felipe esperou por longo tempo, mas nada aconteceu.

- Acho que foi impressão sua!

Felipe falou em voz alta, e como se estivesse reagindo à voz dele, o bebê tornou a se mexer, e dessa vez foi um movimento mais prolongado.

Felipe continuou falando com o bebê e quando o bebê parou de se mexer, os dois se abraçaram emocionados.

Felipe agradeceu a Deus por ter dado a ele a chance de vivenciar aquele momento, os primeiros movimentos de seu bebê! Apesar de tudo Marina estava infinitamente grata por Felipe estar ali.

***

Marina descansou longamente nos braços de Felipe, mas não conseguia conciliar o sono, tamanha a preocupação que lhe assaltava agora a mente, quando não tinha mais nada que a distraísse e a imagem de seu filho lhe invadia os pensamentos de forma devastadora.

Tentava imaginar como tinha sido a primeira noite de Lucas na casa do avô. Teria se divertido ou teria sentido a sua falta? Ele estava tranqüilo ou estava com medo?

Queria estar lá para dar um beijo de boa noite nele e cobri-lo, ou simplesmente dar uma bronca e pedir que parasse a conversa e fosse dormir. Nunca imaginou que coisas tão triviais pudessem fazer tanta falta.

Marina estava nos braços de Felipe como se fosse um ursinho de pelúcia que ele abraçava. Tentou se levantar para caminhar um pouco pela casa, mas quando se mexeu, Felipe acordou sobressaltado e quis saber o que estava acontecendo.

Marina explicou que não estava conseguindo dormir e Felipe decidiu que iria buscar um copo de leite quente.

Ela tentou explicar que não gostava muito de leite, mas ele não deixou espaço para argumentos.

Felipe se levantou em toda a sua exuberância e saiu pelo quarto afora com toda a naturalidade, do jeito que veio ao mundo. Marina o censurou no mesmo instante.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora