52 - A pequena leoa

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Felipe estava exausto e não entendia como ficou tão furioso e violento, mas Madariága explicou que era normal reagir assim em situações de extremo estresse.

Felipe correu até Karen, e percebeu que ela ainda estava viva, mas já não lhe restava muito tempo.

Karen apanhou as mãos de Felipe, e de Lucas, e com seus últimos suspiros, tentou se despedir.

– Vocês dois... Tem que jurar... Que sempre vão cuidar um do outro... Tem que prometer pra mim... Que nunca vão se culpar... E nunca vão culpar um ao outro... Isso que aconteceu comigo... Foi porque eu procurei... Por isso vocês vão sempre... Cuidar um do outro.

Karen teve um acesso de tosse e vomitou uma bola de sangue escuro. Como enfermeira, ela mesma sabia que já não tinha chances, por isso queria aproveitar o máximo seus últimos instantes.

Felipe pediu que ela se calasse para não piorar, mas Karen sabia que já não havia esperanças, por isso queria continuar falando.

– Por favor, Felipe... O bebê... Lucas sonhou que teria uma irmãzinha... Os sonhos de Lucas nunca falham... Eu acho... Que ainda dá tempo... De salvar a criança... Por favor... Vocês dois... Cuidem dela pra mim... Com o mesmo carinho... Que eu cuidaria.

– Por favor, Karen – Felipe estava preocupado com o esforço que ela fazia – Se Lucas sonhou com uma irmãzinha é porque você vai sobreviver para trazer essa criança ao mundo. Não desista agora, e pare de se esforçar tanto.

– É tarde pra mim... – A voz de Karen não era agora mais que um murmúrio – vocês precisam pedir para tirar o bebê... Ainda há esperança...

– Impossível Karen – Felipe estava desesperado – Você acabou de entrar no sexto mês de gestação! Se retirarmos a criança ela vai morrer!

Karen tentou puxar o ar para seus pulmões e agora sua respiração fazia um barulho estranho.

– Me obedeça, Felipe... O hospital onde trabalhei... Onde Lucas nasceu... Eles têm a melhor... UTI neonatal do estado... Eles podem...

Karen perdeu os sentidos no momento que a equipe médica chegava para socorrê-la. O socorrista constatou parada cardio-respiratória e explicou que ela tinha falecido. Ainda assim trouxe um desfibrilador para reanimá-la; depois a colocaram nos aparelhos e partiram para o hospital infantil que ela mesma havia indicado para ver se ainda conseguiam salvar a criança que estava no ventre dela.

***

A tragédia que aconteceu não teve precedentes

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A tragédia que aconteceu não teve precedentes. Depois de muitos dias, Lucas finalmente começou a falar, mesmo assim, apenas monossílabos quando interpelado por algum assunto, e depois de certo tempo tornava a se isolar.

A vida de Felipe era uma correria insana, dividido entre o hospital e sua casa e para completar, Teresa partiu com Marcos Pascoal.

Felipe implorou que ela ficasse ali até que Marina se recuperasse e fosse pra casa, pois ele sabia que iria precisar de muita ajuda, mas Pascoal estava com pressa e Teresa estava deslumbrada demais com ele para abrir mão da viagem.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora