42 - A audiência decisiva

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A juíza pediu que todos se colocassem de pé, e o coração de Marina disparou.

Tinha plena confiança em Fernando, mas ele parecia preocupado. Marina descobriu, que o trunfo de Fernando ainda não tinha chegado.

Fernando chamou para depor dona Quitéria, a avó de Marina.

A senhorinha entrou, acompanhada da enfermeira, mas acordou num bom dia, e estava se sentido bem.

Dona Quitéria sentou no banco das testemunhas e com uma lucidez fantástica para alguém com a doença dela, dona Quitéria respondeu com firmeza as perguntas de Fernando: Seu nome completo, o nome de seus dois esposos, o nome de suas filhas e o nome de seus netos.

Fernando pediu para contar sua estória e dona Quitéria contou com riqueza de detalhes sobre seu casamento com o primeiro esposo, com quem teve a filha Elisângela, depois a morte dele e o casamento com o segundo esposo, com quem teve Suzana.

Conforme a estória ia avançando, dona Quitéria ficava apreensiva, mas permaneceu firme e contou até o fim.

Contou que o enteado era obcecado pela sua filha mais velha e como a garota morria de medo dele.

Contou que Elisângela engravidou de um benfeitor, que montou um apartamento para ela, e que a acompanhou durante toda a gravidez; mas no fim da gestação, seu enteado convenceu o benfeitor de que o verdadeiro pai da criança era ele, fazendo-o abandoná-la, e depois levou Elisângela para casa e lhe deu uma surra que acabou por levá-la á morte.

- A menina estava tão feliz que ia ter um menininho do vereador... Precisa ver como os olhinhos dela brilhavam quando falava do bebê! Ela sabia que nunca ia casar com ele, mesmo assim ela amava aquele homem e queria ter o filho dele, mas aquele monstro desalmado acabou com os sonhos dela só por diversão. Ela ficou destruída quando o vereador não acreditou nela, mas o pior não foi isso. Ele a levou de volta pra casa, e quando chegou lá, aquele monstro começou a bater nela mesmo ela estando grávida. Ele bateu tantas vezes a cabeça dela na parede que ela não resistiu. Quando levou ela pro hospital, ele disse que ela rolou as escadas... Eu contei a eles a verdade, mas ele convenceu todos de que eu era louca.

Quitéria fez uma pausa cansada, e depois de alguns segundos de compreensão, Fernando retornou à narrativa, pois ela estava num bom dia e ele precisava aproveitar ao máximo.

- Sei que a senhora está emocionada, mas poderia nos contar o que aconteceu depois que Elisângela foi levada ao hospital?

Quitéria prosseguiu.

- Os médicos tentaram de tudo, mas ela não resistiu. Por uma infelicidade do destino, eles conseguiram salvar o bebê.

Fernando quis saber por que ela achava uma infelicidade à sobrevivência do bebê. Com pesar no olhar ela respondeu.

- A vida dessa criança foi um inferno. Teria sido melhor se ele tivesse partido com a mãezinha dele.

Dona Quitéria começava a dar sinais de fraqueza, e Fernando adiantou o interrogatório antes que ela tivesse outro surto.

- Por favor, conte-nos o que aconteceu depois que sua filha morreu e seu neto nasceu. O que fizeram com a criança?

Dona Quitéria continuou a estória com um olhar distante, perdido no além.

- O mostro queria registrar o menino como se fosse dele. Talvez quisesse vender o bebê, sei lá, mas minha Suzana registrou o bebê no nome dela pra não deixar aquele monstro colocar as mãos no menino. Depois disso ele começou a implicar com a Susana, mas ela não era tão boba como a irmã... Ela enfrentava de frente. Ele não conseguia controlar ela, mas descontava no menino.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora