50 - Como ovelha ao matadouro.

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Karen esperou até ter a certeza que Felipe dormia profundamente, então saiu daquele abraço vigoroso, e se arrastou lentamente até sair da cama.

Aprontou-se rapidamente e desceu em busca do celular que tinha escondido de Madariága. O sonífero que colocara no leite estava funcionando bem, e se tudo desse certo, ela teria umas duas horas de vantagem até que seu efeito desaparecesse.

Karen certificou-se de que todos estavam dormindo e que a casa estava silenciosa, então apanhou o celular.

A luz azulada daquele celular diabólico parecia sua sentença de morte, ainda assim sua morte seria a garantia de vida de seu filho.

Karen já vivera muitos pesadelos na vida, mas esse era de longe o mais terrível. Acreditava que a qualquer momento acordaria, Lucas retornaria da casa do avô e ela ia descobrir que estava com um perigoso distúrbio emocional, talvez por causa da gravidez, ou do estresse.

Com o coração aos pulos, apertou a tecla send e aguardou até escutar a voz do outro lado da linha.

Xavier atendeu, e instruiu ela a subir a serra até uma parada de caminhões onde tinha uma loja de conveniências que funcionava vinte e quatro horas.

Ao chegar lá, ela pediria um refrigerante com limão, depois deveria ir até o telefone publico e fingir que estava ligando. Em seguida, pagaria ao atendente com uma nota de cem reais e perguntaria a ele onde era o banheiro.

Assim que ela fizesse isso, alguém a procuraria e a levaria até o cativeiro de seu filho.

Xavier desligou o telefone, e Karen respirou profundamente antes de se preparar para sair.

Decidiu deixar um bilhete para Felipe. No bilhete ela reiterava seu desejo de que ele cuidasse bem de Lucas e não o culpasse pela sua morte. E para o caso de Xavier não cumprir o seu acordo, ela deixou o endereço da loja de conveniências onde iria encontrar o seqüestrador.

***

Karen detestava dirigir à noite, ainda mais estando grávida. As luzes cegantes dos túneis se contrastavam com a escuridão da estrada, iluminada apenas pelos potentes faróis das carretas que desciam a serra.

Quando chegou na tal lanchonete, Karen pensou que o local estaria deserto, mas àquela hora ainda tinha diversos caminhões estacionados, uns abastecendo, outros simplesmente esperando por seus donos que lanchavam.

Karen estava quase dando por certo que veria Janete por ali, mas só tinha caminhoneiros no local, tomando refrigerantes e comendo alguma coisa para seguir viagem.

Karen fez uma prece silenciosa, dizendo a Deus que pediria perdão pessoalmente à Janete se ela não estivesse envolvida, e se conseguisse sair com vida de toda essa odisséia.

Assim que acabou sua prece, Karen caminhou até o balcão e pediu um refrigerante com limão.

Enquanto o atendente preparava o pedido, Karen foi até o orelhão e fingiu que estava telefonando.

Aproveitou para ver se percebia alguém suspeito, mas quase todos olhavam para ela. Uns com segundas intenções, outros por curiosidade, tentando entender o que uma mulher grávida fazia sozinha na estrada uma hora daquelas.

Quando ela colocou o telefone no gancho, um homem se aproximou dela; e seu coração quase parou.

O homem se desculpou por assustá-la, e perguntou, solícito.

- A senhora está com algum problema? Talvez algum imprevisto com o carro na estrada! Posso ajudar de alguma forma?

Karen estava desconfiada, mas percebeu que a intenção do sujeito era genuína e resolveu tranquilizá-lo.

caleidoscópio 2 - a outra face.Onde histórias criam vida. Descubra agora