caleidoscópio 2 - a outra face.

26 - A loucura de Felipe.

Apesar de estar destruída, Marina fingiu que estava bem. Um por um de seus amigos foram pedindo explicações, e Marina foi satisfazendo a curiosidade de cada um. Contou a mesma história inúmeras vezes, mas não se importava, pois a cada vez, ia exorcizando seus dilemas.

Os amigos já tinham todos se despedido, e Marina só pensava em tomar um banho relaxante e descansar, quando de repente, Lucas apareceu e a abraçou, desesperado.

- Mãe! Vai acontecer alguma coisa com o marujo! Ele está chateado! Está triste com alguma coisa! Eu sonhei que ele tava bebendo alguma coisa, e depois caindo no mar!! Por favor, mamãe! A senhora tem que correr!

Marina sentiu um baque surdo no peito. Estava acontecendo de novo! Ela não suportaria perder Felipe novamente, então pediu que Kelly cuidasse de Lucas, e disparou porta afora.

***

Felipe nunca pensou que outra mulher o faria sofrer novamente... Como Marina foi capaz de recusar seu pedido, na frente de toda aquela gente?

Agora entendia que Marina era só uma riquinha mimada, e ele foi só um brinquedo na mão dela. O caipira bobo e pobre, que serve de distração pra viúva rica e entediada.

Ele queria acreditar que Marina era pura e inocente, mas finalmente percebeu que essa era só a imagem que criou dela em sua cabeça. As evidências estavam lá, na noite em que fizeram amor. Ela não estava se entregando a ele, Natanael, e sim à fantasia de um padre morto!

A essa altura, seu segredo já estava jogado aos quatro ventos, e era bem possível que seu pai aparecesse a qualquer momento.

O pior é que aquela gente parecia bem íntima de Marina! A quanto tempo ela estava tramando essa emboscada?

Era doloroso perceber que Marina e Karen tinham tanto em comum. Os mesmos amigos, os mesmos gostos... até a mesma data de aniversário! Isso ele lembrava bem.

Talvez fossem tão parecidas por terem o mesmo signo... apesar de serem tão diferentes na aparência, era justamente as semelhanças que atraíram Natanael.

As duas tinham o mesmo gênio forte, a mesma língua afiada e a mesma coragem... ele só não contava que tivessem a mesma crueldade.

Natanael estava disposto a fugir do pai. Pegaria o Suzane e ia viajar de férias pelo litoral brasileiro... talvez se encantasse por alguma praia do Nordeste e ficasse por lá.

Só seria uma pena não ver mais Lucas... seu filho reencarnado! Ele era tão magnífico, que era difícil aceitar que era filho de alguém tão cruel.

Mas ele podia sequestrar o menino, e levá-lo com ele! Seria um ótimo castigo para aquela desalmada.

Natanael riu-se de si mesmo pela ideia ridícula. Deu um último gole na garrafa, e num acesso de fúria, arremessou a garrafa na amurada do barco.

Sua cabeça doía, seu estômago estava revirado, mas abriu outra garrafa e continuou bebendo.

Novamente uma mulher lhe tomava o coração e o esmagava. Era a primeira vez que bebia tanto, mas queria mesmo entrar em coma alcoólico.

***

De repente, diante de seus olhos, uma imagem se formou. Era Karen, coberta apenas por um minúsculo biquíni rosa.

Natanael recuou, confuso, mas a aparição se aproximou sensualmente, até que estava tão próxima que ele não conseguiu se desvencilhar.

- O que há de errado, irmãozinho? Você nunca bebeu assim antes!! Vai dizer que está decepcionado com a desfrutável?