Uma nova visita

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“Teddy!”-Eu queria poder gritar. –“Como é bom ouvir sua voz...”

“Você está bem?” –Ele perguntou.

Pensei em dizer tudo o que estava acontecendo comigo, mas eu ia acabar prejudicando ele. Não queria deixá-lo preocupado e atrapalhar sua vida em Framlingham, já bastava a minha arruinada.

“Digamos que... vou passar mais uns... dias aqui no Rio.” –Eu disse, me arrependendo de ter dito.

“Por que?” –Ele perguntou.

“Quando eu voltar para Framlingham...eu te digo.” –Eu disse, rezando para ter a chance de voltar. –“Liguei para te desejar feliz ano novo.” –Completei, quase chorando.

“Feliz ano 2006, Landy...” –Disse Teddy, menos entusiasmado do que antes.

Meus olhos começaram a arder, me impedindo de dizer qualquer palavra que me fizesse desmoronar ali.

“Sinto sua falta.” –Ele disse.

Respirei fundo e senti a lágrima quente escorrer durante meu riso de nervoso. O celular apitou em meu ouvido e o vermelho da bateria piscava desesperadamente.

“Teddy, tenho que desligar e...” –Prendi o choro o máximo que pude. –“Não se zangue caso eu não atenda mais suas ligações. Um dia lhe explico tudo..Me perdoa.” –Eu disse, tirando o celular do ouvido para não ter que ouvir mais nada.

Me arrependi de não ter ouvido Teddy e coloquei de volta ao ouvido, mas um silêncio tomava conta do outro lado. Nenhum sinal de vida, de respiração. A bateria havia acabado. Tentei ligá-lo em três tentativas, e nenhum sinal de vida. Me deitei no colchão, após esconder o celular, me encolhendo o máximo que pude. Estava prestes a perder a luta para o sono, quando me assustei com fogos de artifício que começaram a explodir no céu. Subi no caixote para observar o céu se iluminar com as lindas cores e desenhos que se formavam. Eu poderia estar segurando a mão gelada de Mary, de frente para o mar, enquanto os fogos explodiam no céu de Copacabana. Meu pensamento foi interrompido pelo som de batidas na porta.

“Quem é?” –Perguntei, descendo do caixote.

Ninguém respondeu nada enquanto eu subia a escada. Um homem abriu a porta, com um pacote de biscoito recheado em sua mão esquerda. Parei na metade da escada, esperando alguma reação. Ele estendeu para mim, me deixando na dúvida se pegava ou não, mas eu estava um dia sem comer e já me sentia fraca. Assim que peguei o pacote, ele fechou a porta. Me rendi a fome e me sentei ali no degrau da escada mesmo. O primeiro pedaço do biscoito caiu em meu estômago como uma bomba e foi a melhor coisa que havia acontecido comigo nesse lugar. Minutos depois e metade do pacote, o homem voltou, dessa vez com uma garrafa d’água de 500 ml. Não precisei me levantar, o homem jogou a garrafa em cima de mim. Com dificuldade e um pacote de biscoito no chão, consegui agarrar a garrafa, que estava bastante gelada. Bebi desesperadamente, sem desperdiçar uma gota, até que lembrei: talvez essa fosse a minha única garrafa. Eu não havia notado, mas o homem ainda estava na porta, me observando, talvez esperando algum tipo de agradecimento.

“Obri...” –E bateu a porta na minha cara.

Então era isso? Ele queria seu showzinho particular e sair por cima. Recolhi as coisas e me acomodei no colchão, me sentindo um gato abandonado. O som dos fogos começavam a me perturbar e eu era obrigada a me concentrar em alguns pensamentos. Não era justo eu estar vivendo isso depois de tudo o que eu já passei. Que eu lembre, não tenho pecado algum para estar pagando por ele agora. O que Luiz ganharia fazendo isso comigo? Nada me faria entender isso.

As primeiras horas do novo ano não foram como planejei nos meus devaneios, mas, pelo menos, eu tinha um biscoito recheado e água quente. Talvez, três horas já haviam passado desde a queima dos fogos. Tentei segurar o máximo que pude, me encolhendo na cama, mas era hora de ir ao banheiro. Gritei na porta e parecia que ninguém tinha ouvido. Parei de gritar na quarta vez, mas continuei a bater na porta.

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